segunda-feira, 29 de setembro de 2008

In Bruges

Para quem nunca lá foi (como eu) é um passeio turístico de encher o olho. Para quem gosta de cinema (como eu) é um sumarento conto negro de assassinos. Para quem não depositava fé alguma em Colin Farrell (como eu) é a chamada bofetada de luva branca. Para todos os outros, é paragem obrigatória do roteiro cinematográfico deste ano.

In Bruges conta a história de dois amigos, assassinos profissionais, que são enviados numas aparentes férias para a pequena cidade belga. Não havia pior destino, queixa-se Farrell (I didn't even know where Bruges fucking was!) perante uma pacatez que o consome e o descentraliza da sua realidade fria e sanguinária. Esta dupla vê-se então obrigada a trocar as armas pelos guias turísticos e a entrar na normalidade de um sossego que afinal não é o que parece.

A aparente moleza da narrativa (que pode ser apontada por alguns como o defeito primário desta obra) é preenchida por diálogos sensacionais e demonstra que apenas com três peças se constrói um óptimo argumento. Trio este que abraça descontraidamente este pequeno projecto e nos dá interpretações que têm tanto de negras e frias, como de frustradas e divertidas: Farrell, naquele que para mim é o seu melhor papel de sempre, empresta o corpo a um mauzão perseguido pelo passado, tanto esmurra como chora, num sossegado purgatório que não o deixa passar despercebido; Brendan Gleeson, eterno secundário de luxo, contrapõe a inexperiência do primeiro na sabedoria de uma vida mais longa e de um afecto paternal e protector; por fim, Ralph Fiennes, em mais um boneco calculista e assustador, que traz o fim do sonho e o regresso ao real. Do outro lado temos a dama que se junta a estes ases, a belíssima Clémence Poésy, interesse amoroso de Farrell que ilumina todos os recantos mais escuros dos acontecimentos. Ah e depois há um anão, mas isso vou deixar para vocês descobrirem...

O enredo simples monta-se de forma inteligente até ao duelo final, altura em que os pecados de uns são cruzes de outros e sem muito mais para provar o filme acaba.

Está aqui uma comédia negra que junta personagens cheias de vida, de dilemas e problemas, a um argumento muito bem escrito, com momentos que nos fazem rir com vontade, e acreditar em algo simples como uma pequena e bonita cidade. E isso, nos dias que correm, não é nada fácil.


(+) Colin Farrel está francamente muito bem.
(-) Pouca visibilidade num mercado cheio de tubarões.

Curiosidade:
- A palavra Fuck e seus derivados são ditos 126 vezes nos 107 minutos de filme, dando uma média de 1,18 Fucks por minuto.

4 comentários:

nuno disse...

o diàlogo com e sobre a prostituta do anão é de sonho. a piada sobre tottenham tb.

eu fui a brugge este fim de semana.
it's a fucking fairytale.

João Gaspar disse...

bruges está sobrevalorizado.

o filme ainda não vi.

João Bizarro disse...

Bom, bom.


Muito bom.

João Bizarro disse...

Ou melhor, fucking great!