Estávamos à espera das salsichas do Carlos. Ali sentados, banco de entrada do Passos Manuel*, num dos momentos de pausa do Nalgas Film Festival 2023. Enquanto os cachorros que o nosso mais que tudo assegurou não chegavam, discutia com o António (Segundo Take) as potencialidades socioeconómicas do glamping em zonas despovoadas do país. Não discutia nada, falávamos de cinema, claro. Do último Indiana Jones e de como a pressa se apoderou do blockbuster. Filmes a correr que nunca mais chegam ao fim. Há um momento em particular neste Marcador do Destino, logo ao início quando o Indy em CGI cai de um penhasco com o Capote, em que na cena a seguir vemos a superfície da água. Para que o momento resultasse era preciso aquele impasse. É claro que todos sabemos: ninguém morreu. Mas esses segundos fazem parte do engenho e do espaço; é vital ficarmos naquele tique-taque da espera. Mas não, esse interlúdio de ar fresco é cortado, e assim que vemos o local da queda eles voltam à tona.
Nisto chegámos ao Speed, não por faltar um bocadinho, neste caso de autoestrada, mas porque o tinha revisto recentemente. Apanhei-o na televisão, nessa mesma cena em que todos percebem que falta um pedação de asfalto. E é maravilhosa, uma métrica cinematográfica frenética mas que nos engole com calma em todos os seus passos. Eles aproximam-se naquele carrito, falam com o Keanu, transmitem-lhe as más notícias e depois afastam-se. Nesse afastar, percebemos que estamos sozinhos. Percebemos que estamos mesmo naquele autocarro e que vamos mesmo ter de dar o salto com aquela malta. 30 anos depois continuo a vibrar como se fosse a primeira viagem. Não sou o único. O Stuckman grava uma bonita carta de amor à obra, onde estabelece uma interessante teoria sobre a força dos filmes de ação dos anos 90.
Sim, mais uma lamúria que escapou à polícia da saudade. Mas é também forma de celebrarmos os nossos filmes e de encontrarmos caminhos para uma nova velocidade.
*uma sala de cinema com um pequeno bar e não um bar com uma pequena sala de cinema.
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