quinta-feira, 31 de agosto de 2017

À noite, só à noite


Vem à noite mas podia ser melhor. E o problema é que em 2017, hoje, ou ontem, esperava mais. Não mais do mesmo. Estamos numa era de recordes apertados, o milésimo do milésimo a bater e a contar, é preciso, para ganhar. It Comes at Night não apresenta uma única brisa. Janelas fechadas. Pior, sente-se uma certa arrogância de não as querer abrir. Há a história das duas famílias, um vírus, um mundo em ruptura, há isso e depois não há mais nada. O que até podia resultar, se nesse fragmento conseguíssemos dar a mão às personagens ou destacar um protagonista. A cinematografia é maravilhosa e o suspense é muito sólido. Luz, interpretações, secura, suposição, tudo certo. Ninguém foi ao fundo, o problema é que também ninguém chegou a terra firme.

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Ai, primeiro olhar, primeiro olhar


Dizia "Creep 2 first look". Sim senhor. Cliquei, vi uma foto do Duplass e depois deslizei, procurei, voltei a subir, e não estava lá nada. Aí percebi: o primeiro olhar, o tal primeiro olhar, era a foto do protagonista, vestido de preto com um colar na mão. Só. Pode ter sido tirada em casa, na rua, num beco, ontem, agora. Eu gosto imenso do original mas chega destas promoções vazias, destes cheirinhos sem aroma, destes exclusivos e piscadelas de olho que só causam é arrelia à vista. 

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Fazer as pazes


Ia fazer um trocadilho manhoso com Noomi Rapace e Noomi Rapaz, porque fiz as pazes com ela. Mas depois o Rapaz pode ser confundido com rapaz, e estamos numa altura quente de géneros e Portos Editoras. Não quero esse tipo de barafunda aqui em casa. Mas sim, voltando ao tópico, vi um casalinho de películas com ela e foi como passear no prado. Andava assim meio danado, Passion, Prometheus, más interpretações, sotaque cada vez mais irritante, até que me chega o impossível: sete versões da menina. Seven Sisters, um sci-fi caseirinho, violento até mais não, que nos dá tudo o que andávamos a pedir desde The Hunger Games ou qualquer outra distopia recente. Sabe o que tem e joga com os seus trunfos de forma muito inteligente: quer a nível visual, quer a nível narrativo. Os diferentes dias e o modo como esse mecanismo abre todas as possibilidades. E tudo muito graças a ela. Bem como Unlocked, um daqueles thrillers esquecidos do VHS, de um esquecido Michael Apted, que traz ao de cima a simplicidade da volta e reviravolta. Bem como a necessidade da mesma. Não que nos arrebata ou surpreenda a cada esquina, mas tenta, tenta muito. E a Rapace dá porrada na malta que não é brincadeira. Até o Legolas apanha.

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Não roas as unhas, vais precisar delas para tocar o Baby Driver


E a meio alguém disse: agora conduzes tu. Trocando em andamento, com cotoveladas, roça roça e desajeitados movimentos que mesmo depois finalizados, e cada qual em seu novo assento, não ofereceram seguro rumo. Wright estava bem, viril na sua premissa, de ser a música a ditar o tom. Ritmo, história. Num mundo de bolhas, de indivíduos cada vez mais reclusos do seu próprio som, convidar-nos para o casulo apertado de Baby era proposta irrecusável. E aguenta-se, no seu modo de trautear e musicar o que a rodeia. Conseguimos ver, quase envergonhados, como se constrói outra realidade. Claro, amigos, que tinha de ser na saúde e na doença, e ao primeiro problema o filme resolve-se, esquece as regras e, trapalhão, lá brinca ao gato e rato, ao grande espectáculo. Sem orientação nem audácia. Era preciso coragem e disciplina para levar este Baby Driver ao porto do inesquecível. Wright não tem uma coisa nem outra.