sexta-feira, 25 de março de 2022

Sexta-Feira 13 - Parte 9

 
Melhor coito campista interrompido. Melhor easter egg a filme alheio (com o Necromicon Ex-Mortis). E melhor assalto a um pipi por criatura esquisita depois do Piranha XXL. Quer dizer este é mais antigo, se calhar está à frente. Gostei do facto de finalmente a bófia desligar a Sport TV e perceber que há alguma coisa a acontecer em Camp Crystal Lake. Nove filmes depois, uma intervenção policial: eu liguei mas eles só chegaram agora. Bem, rebentam com o Jason e aqui a coisa poderia ficar interessante. Mas rapidamente mete a roda na berma e depois é capotar até ao final. Estamos perante outra saga, outro filme onde o vilão passa de corpo em corpo, devido a feitiçaria, à procura de familiares para renascer, ou algo do género. Sei lá. Depois há um caçador. Começa tudo a meio, tudo a martelo, numa tentativa audaz mas completamente falhada de levar o nosso menino ao inferno. Bem, o que um gajo faz para chegar ao Jason X.

terça-feira, 22 de março de 2022

Caracoladas complicadas

Há caracóis. Não há é gosma que ligue e salve este filme. Não percebi nada disto. Parece daquelas obras em que filmaram só as páginas pares do guião. É clara a ideia de um casal que se vai canibalizando e ajustando, usando os pecados do outro como combustão. Esse jogo demente, pessoal e intrincado é interessante. O problema é que não temos nem um par protagonista à altura da tarefa nem uma estrutura narrativa que nos oriente nesse sentido. Andamos à deriva num mistério que afinal não é, depois é, se calhar não é outra vez, ah olha volta a ser. Recheado de detalhes - como o seu hobby com os gastrópodes - que acabam por não ter qualquer tipo de função. E um thriller ganha-se nos pormenores. Talvez o facto de terem alterado por completo o final do material de origem - o livro da Patricia Highsmith - tenha feito com que a coisa se desencaixasse e perdesse os travões. Falta corpo, fica o esqueleto.

segunda-feira, 21 de março de 2022

Kiri kiri kiri kiri kiri kiri!


Mais um filme para a noite de 24, em família. Tudo quentinho, à volta do borralho. Uma história de amor. E depois kiri kiri kiri kiri kiri kiri. Foda-se. Ainda acordo com a voz da moça. Verdade que já ia preparado, impossível não ir, passado todo este tempo e falatório: mas ainda assim Audition continua uma obra completamente inesperada, deslocada e tresloucada. Dedica mais de metade do seu tempo a colocar as peças no sítio certo para que no terceiro ato mergulhe não só na penitência - e na violência gráfica - como  numa viagem onírica cabra da peste. Ainda a pensar neste filme, ainda a pensar neste filme.

domingo, 20 de março de 2022

Bye Bye Bye


Red Rocket é o melhor de 2021 que não pus na lista de melhores filmes de 2021 porque na altura, em 2021, ainda não o tinha visto. Florida Project já me tinha encantado mas este regresso ao desencanto é ainda mais hipnótico. Sean Baker transforma toda aquela américa esquecida, pobre, suada, fabril, em quadros do Hopper, coloridos, vibrantes. Veja-se a loja de donuts, ali no meio. É tudo muito sonhado, ou a caminho do sonho sem nunca lhe podermos tocar. O próprio Simon Rex vive numa corrida entre um futuro impossível e um passado fantasioso, preso nesta passagem para lado nenhum. É um filme extraordinário, que serviu também para descobrir a talentosa Suzanna Son.

quarta-feira, 16 de março de 2022

O cume da saudade


Apanhei O Cume de Dante a dar na Cinemundo. Obviamente não fiquei até à parte que a Ruth falece no lago ácido, já chega de tristeza com esse sacrifício. Vi um bocado quando o vulcão começa a rebentar, e que saudades. Saudades de real caos, gente, montes de gente a correr por todos os lados, pedações de estrada a cair, carros uns em cima dos outros, edifícios a desmoronar. Tudo ali, ao virar do pedregulho na cabeça, com uma noção completa do que é a cena de ação. É assim, é manter a erupção em silêncio, para ninguém tentar fazer a desnecessária requela em CGI.

domingo, 13 de março de 2022

Ecos de um regresso ao futuro

Antes do filme propriamente dito: malta, alguém tem de parar com esta coisa do rejuvenescimento de atores. É estranho, desajustado e não resulta. Aliás, sabem quando é que uma brincadeira destas realmente funcionou? NUNCA. Ainda acordo a meio da noite com aquele Luke Skywalker. É como alguém com espinafres nos dentes, à nossa frente na mesa, e não conseguimos olhar para outro lado. Desconfortável, como esta personagem que tem de encontrar o seu eu mais novo. Metam outro ator, há gente tão parecidinha foda-se. Quanto ao The Adam Project, arranca muito bem, com um humor pespineta e umas ligações inesperadas. Depois, ao entrar no segundo ato, perde o cordão/condão que o trazia, seguindo para uma narrativa meio trapalhona e atabalhoada. Os próprios diálogos acabam por se simplificar em tiradas lamechas, num comboio demasiado previsível. Gosto sempre de viagens no tempo mas depois de Free Guy estava a espera doutra montanha-russa. E não de um passeio às voltas num barquinho. 

sexta-feira, 11 de março de 2022

Tu já não és tu - Body Snatchers (1993)

 
Este Carpenteriou um bocado a coisa: pegou num grupo de pessoas, neste caso uma família, e isolou-as em nenhures, neste caso numa base militar. A larga escala do filme anterior, da citadina azáfama, dá lugar assim a uma conspiração militar - alerta subtexto - mais contida nos seus recursos e possibilidades. Porém esta delimitação não lhe tira o horror da transformação e um certo sentido prático. Se calhar apressado, especialmente nas ligações núcleo familiar e casal jovem enamorado. A narração, a espaços, parece também problema de uma edição abrutalhada, de um outro filme (uma outra ideia). Mas feitas as contas temos uma cena espetacular na banheira, temos a Gabrielle Anwar (crush clássico dos anos 90) e temos um belo par de gritos. Para mim está feito.

quarta-feira, 9 de março de 2022

Mega draft Óscares 2010-2019 (parte 2)



Segunda parte de um épico oscarizável, onde eu, o Bruno e o Luís analisamos de uma ponta a outra os vencedores da década de 2010's. Nem tudo foi fácil, categorias que só lá foram com uma caixa de benurons e umas horitas em câmara hiperbárica. No fim, ao contrário do Duelo Imortal, pode haver mais que um e aqui temos três listinhas de cinema bem boas.

Mais um

Quantos Pinóquios é que um ser humano normal aguenta ver em vida? 

O deste mês é com o Tom Hanks

terça-feira, 8 de março de 2022

Segunda boa surpresa do ano

Este filme prova que os créditos iniciais são como o natal, quando uma pessoa quiser. Tomem lá. E é nesse sentido meio desafiador que Fresh vai povoando géneros, dobrando expetativas e enchendo o écran de um colorido guloso. Uma Daisy Edgar-Jones em apuros - não conhecia, bela surpresa - a fazer frente a um Sebastian Stan em altas - o sacana vai a todas - num rodopio demente e violento, duro e solitário, mas com a jinga necessária de um baile fora de horas. Valente estreia de Mimi Cave nas longas metragens. Queremos mais petiscos destes.

segunda-feira, 7 de março de 2022

Os pecados de Harry Ambrose


A primeira temporada de The Sinner foi uma pedrada no charco. O tamanho, grau de impacto, se molhou muita gente ou não, isso debatemos depois, quando o tempo aquecer e der para ir lá para fora. Mas a verdade é que virou muito bem o bico ao prego, no mecanismo de resolução e ofereceu-nos, claro, Harry Ambrose. Um detetive em constante assombração/sofrimento, tomado de assalto por Bill Pullman. Papel de uma vida, quiçá. Era difícil manter tamanha bizarria e criatividade de acontecimentos: a segunda e (especialmente) a terceira temporadas deixaram o balão esvaziar. O "nada é o que parece" acabou por desaparecer e o interesse no crime passou a interesse solitário no protagonista. Felizmente, este último tomo, volta a trazer essa mágica inversão: uma rapariga que se suicida e a partir daí é para recuar, até montar o puzzle. Desenhado num ambiente insular e piscatório, de terra pequena, com toda uma aura de "um último trabalho", é um mistério que se constrói com mestria, onde cada episódio a faz falta na torre. Gradualmente, destapando e mantendo a nossa atenção com todos os lúmenes. Parece fácil, mas não é. Parece que há muito, mas não há. Final revigorante, até sempre Harry.

quinta-feira, 3 de março de 2022

The Batman (2022)

É o Director's Cut do Matt Reeves. Direitinho para o cinema. Tiro-lhe o chapéu, tiro sempre o chapéu a quem faz o filme que quer. Para além disso, dedo certeiro no casting - destaque para Colin Farrell - e mão segura na câmara. Alguns planos na primeira pessoa, nas sequências de ação, são fabulosos, e depois temos a chuva, sempre a chuva, a marcar o passo noir. O detetive morcego, casa adentro. De facto o início prometia algo completamente diferente, não melhor ou pior, diferente. Eu ia à procura de uma reformulação: que as personagens tivessem outra diretiva para além do passado, dos pecados, da corrupção, do crime. Mas The Batman enrola-se em repetitivos chamamentos no céu, para ir aqui, depois ali, nos mesmos espaços, vezes sem conta, sem grande criatividade. Atos também ausentes na resolução do mistério principal, demasiado gordo para um fecho tão previsível e fragmentado. Num puzzle destes queremos sempre participar, agarrar na lupa, destapar surpresas. Aqui não nos é permitido, quer pela frieza dos passos, quer pela indiferença das próprias relações. Não há nada de errado com o conjunto, não senti foi o apelo à vingança - pedia outro nível de violência - nem a adrenalina de um contrarrelógio. Um dos enigmas mais aguardados do meu ano, que se resolveu com gosto mas muito pouca emoção.

quarta-feira, 2 de março de 2022

Filmes com Pesadelos de Produção


Episódio que foi ele próprio um pesadelo de produção. Esteve 5 anos na gaveta, 7 em desenvolvimento e iniciou produção 54 vezes sempre com microfones distintos. Diferenças criativas fizeram com que todos os podcasts nacionais de cinema, lifestyle, política e desporto, abandonassem o projeto. Há um documentário de duas horas sobre a visão que João César Monteiro tinha para o episódio. É toda uma história que vê agora a luz do dia na primeira gravação de sempre com preparação. Ninguém estava preparado para isso.

11 de maio

This Much I Know to Be True

terça-feira, 1 de março de 2022

Primeira boa surpresa do ano


Filme muito despachadinho. Na lógica de uma redenção, fria e a frio. Gosto muito destes purgatórios fechados, com um grupo de desconhecidos, onde se consegue iluminar a protagonista. Para além do desconfia, do quem é quem, há um constante foco nela: no seu bater de pé perante a vida. E isso é o que segura a ação. Claro que a violência, a inventividade dos recursos - especialmente numa das armas - ajuda mas Havana Rose Liu é a definitiva surpresa dentro da surpresa.