Estávamos em 1999 e não era de todo expectável que uma família pudesse alterar as regras do jogo e transformar para sempre a ficção. Considerada por muitos como a melhor série de todos os tempos – e merecedora de um especial nesta edição - “The Sopranos” contava a história de Tony Soprano (soberbo James Gandolfini), um pai de família e chefe de máfia, que tenta conciliar estes dois quotidianos com a ajuda de uma psiquiatra. Este foi o pontapé de saída, da mente de David Chase, que o tricotou durante 6 temporadas, conquistando tudo o que havia para conquistar. Ainda hoje se fala e comenta, entre uma imperial e outra. O tal final a negro é a prova de que uma mente sem amarras pode ser dona do mundo. De todo o mundo. E a andar mundo fora passamos do apelido mas ficamos na família. Homo sapiens do mesmo sangue, com a união maior e séria que o vermelho implica. "Brotherhood" conta a história dos irmãos irlandeses Caffe, Tommy (Jason Clarke) político e Michael (Jason Isaacs) bandido. O primeiro a tentar o desespero da reeleição enquanto o segundo tenta reconquistar o seu papel nos negócios escuros que deixou sete anos atrás. Quando teve de fugir. De novo juntos, a colidir e com o resto da esfera familiar a girar e a implicar. Causa, efeito. A cidade de Providence às suas mãos, por veias e estradas distintas. A série da Showtime, criada por Blake Masters, recebeu o sim da crítica, com comparações aos grandes pesos pesados do género, mas nunca conseguiu singrar no resto, audiência. Melhor sorte pedimos para “Peaky Blinders”, série da BBC Two que estreou este ano. Vamos até Birmingham, voltamos aos anos 20. Baseada em factos verídicos esta é a história do gangue que empresta o nome ao título e que tinha a peculiar característica – para além de todas as outras piratarias – de costurar lâminas de barbear nos seus bonés. Cillian Murphy é Tommy Shelby, o líder e cérebro da família, que tenta depois da Primeira Guerra Mundial restabelecer o domínio e hegemonia nas ruas. Ao ver a primeira cena, com ele no cavalo, nas ruas desertas rumo à sua sina, percebemos que não é apenas mais uma saga de crime e de época. É o detalhe e o fabrico artesanal da narração, imagem e interpretação. É para não deixar escapar os curtos 6 episódios da primeira temporada que já tem sucessora assegurada em 2014. Até lá podemos aguardar, ainda este ano, pela estreia de “Mob City” a série que Frank Darabont criou para a TNT e que tem nomes como Edward Burns, Milo Ventimiglia, Simon Pegg, Neal McDonough e Jon Bernthal. Mais uma vez sentados em factos verídicos, seguimos as décadas de conflito entre a polícia de Los Angeles, chefiada por William Parker, e o o grupo criminoso de Mickey Cohen. 1947, assim nos situam num trailer negro, sangrento e de algum modo saudosista. Prometendo voltar a todas as outras cidades que fomos deixando para trás, ao noir que quase já não aparece. Acender o cigarro, pôr o chapéu e esperar.
Texto publicado na Take 33.
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