Ao rever uma aventura qualquer dos oitentas, ou mesmo dos noventas, chego à conclusão, já muito concluída, que o cinema mudou. Já não temos o privilégio de ver a densidade e a espessura que caracterizavam antigas obras, já não pomos os olhos em ambientes fechados e personagens completas. O mercado mudou, as grandes empresas ditam as regras e criatividade está amarrada, sufocada, sem espaço para nadar sujeitando-se a novos conceitos mais abertos e vendo-se obrigada a agradar à pipoca. Cada vez mais temos heróis ocos e vilões de plástico. Tenho saudades do velho cinema, onde os filmes eram feitos para mim, recheados de guloseimas e pormenores, tenho saudades de uma época que infelizmente já não volta.
Isto para dizer que o Indiana de hoje nunca poderia seria o Indiana de 1981. Em parte por esta transformação global da indústria e por outro lado devido à idade do nosso herói, que envelheceu e evoluiu. As comparações com o passado são porém inevitáveis, o selo da saga está lá estampado (para o bem e para o mal), temos sempre um termo de comparação obrigatório que nos leva a dizer que sim, é o mais fraco dos quatro e que sim, não tem a magia latente nos seus irmãos. Então o que restou de Indiana no ano 2008?
Começando pelas coisas boas, tem um início magnifico, levando-nos de imediato para os anos 50, You aint nothin but a hound dog, toca num carro de um grupo de adolescentes cheios de vida que desafiam um dos carros carrancudos do exército para uma corrida. Os seus caminhos separam-se e depressa somos apresentados aos vilões de serviço, russos mal dispostos, que tiram da mala um velho Dr. Jones, que admite imediatamente que não vai ser tão fácil como era...E está dado o mote para a acção, que aqui arranca em grande estilo (seguindo-se uma fantástica cena com um frigorífico) e se prolonga por duas horas de aventura. Aqui o filme não desilude, Spielberg consegue oferecer-nos das melhores cenas de aventura que vi nos últimos anos, desde a perseguição da mota até à perseguição da selva (soberba mesmo!), passando pelas formigas, tudo é feito como só o mestre sabe, aliando a velocidade à gargalhada. Por outro lado, em todo este reboliço a idade de Ford não é escondida, ela está presente na história desde o início e essa auto-consciência é ponto chave no desenrolar dos acontecimentos, no admitir que os tempos mudaram. E é ele que nos dá sem dúvida os melhores momentos e a melhor actuação, com situações hilariantes como a da cobra ou a da biblioteca. A juntar-se à festa das boas interpretações temos também Shia LaBeouf que, e contrariando as minhas expectativas, tem uma prestação muito mais sóbria do que o normal, introduzindo a melhor personagem nova da saga. Em relação ao argumento, goste-se ou não do lado ET da coisa, acho que se conseguiu manter uma ingenuidade e inconsequência características dos anteriores e aqui neste ponto sentimos o cheiro da nostalgia e vemos as vontades de um cinema que já não se pratica. Recheando tudo isto temos as inúmeras piscadelas de olho ao passado que me deram um enorme gozo identificar.
Passando aos defeitos, há uma enorme falha na construção da maioria dos personagens: Cate Blanchett é uma vilã que nunca chega a aquecer nem a assustar; Karen Allen está uma Marion anestesiada e sem qualquer tipo de reacção; todos os outros russos não convencem e mesmo Jim Broadbent e John Hurt estão muito mal aproveitados. Aliado a isto existe também um sentimento de que nada de verdadeiramente novo foi adicionado, sentindo por inúmeras vezes a repetição e o lugar comum. Apesar de toda a aventura falta também suspense e tensão às cenas, não existe palpitações e acelerações dos batimentos, nada está realmente por um fio que nos faça espremer a esponja dos assentos e vibrar de nervosismo.
Concluindo Indiana Jones and the Kingdom of the Cristal Skull é um excelente filme de aventuras, com óptimos momentos de acção e comédia, trazendo ao de cima memórias de um outro tempo impossível de superar. No fim a juventude tenta pôr o seu chapéu mas Ford tira-o e sorri como quem diz o chapeu ainda é meu, e não é que é mesmo!
(+) É um Indiana Jones.Ponto final.
(-) Algumas personagens vazias e uma acentuada falta de suspense.
2 comentários:
Ia agora escrever uma crítica semelhante. Fica aqui colocada então:
É sem dúvida um Indiana Jones fraquíssimo. É sem dúvida um bom filme de aventura (lá está, o selo a pesar...).
Achei o filme demasiado incrível, demasiado forçado. É claro que os elementos estão lá (e concordo, Harrison Ford é a força motriz do filme), mas completamente subaproveitados. É como se faltasse a peça principal do puzzle.
Para mim, essa peça é a credibilidade. Está bem que esta saga sempre narrou o fantástico, mas com um toque de credível. Agora, este filme exagera no nonsense (em certos pontos quase que parece um mau sketch dos Monty Pithon, se tal existisse). A cena do frigorífico pelos ares, as 200milhões de balas que falham sempre o Indy, os índios Uhga são tão mal aproveitados (assim como tu disseste, as personagens ditas principais - Exeptuando Indy), entre outras...
Mas o maior crime para mim é mesmo a história. Quando acabou, pensei que ia ver o Will Smith e o Jeff Goldblum. Meus mestres, meus adorados Spielberg e Lucas, mas que é que foi isto?? Aliens?? Só faltava serem parecidos com o Chewbacca! Aí pegava fogo ao cinema! Acho a história uma tão grande desilusão... Até podia ser que fosse bem utilizada, mas não foi. Pelo menos, para mim.
Ah! E, não sei porquê, não gostei da sequência dos putos a ouvir Elvis ao lado dos camiões do Exército (agora porquê, não sei...).
O início foi fulgurante, um verdadeiro Indiana Jones, mas a partir do ponto em que se disputa a caveira, o filme descamba de tal maneira que não sei se me deixou mais triste que revoltado! Não se faz isto a esta franchise.
Morreu na praia...
Tenho grandes expectativas para esse filme, que faça pelo jus ao nome que leva.
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