Aproveito a deixa de dois posts abaixo, a preguiça agradece e qual reflexo pavloviano junto umas quantas pontas soltas em meia dúzia de linhas.
Antes de mais para dizer que Walk the Line é muito mais do que um filme. E, apesar disso, é um muito bom filme. Desse importância a Óscares e prémios ridículos afins e diria que da tríade Actor-Actriz-Filme, a Reese Whiterspoon é a menos genial das três. E mesmo assim foi merecida a estatueta. O Joaquin Phoenix faz do que melhor sabe fazer: um filho-da-puta que toda a gente odeia durante a vida e de quem toda a gente gosta perto do fim. Um Johnny Cash a papel químico, portanto. E uma impressionante - impressionante - colagem ao toque na (não de) guitarra e ao timbre de voz*.
Mas divago. Dizia que Walk the Line é das mais bem contadas vidas de um génio (género que a mim, por definição, não me merece muito respeito - este das bio pics). Mas um mediano, a roçar o medíocre, James Mangold não se deixa levar pela ânsia de exarcebar todos os mitos que pairam sobre a vida e a morte de Johnny Cash, contando de uma forma simples, que não simplista, uma genial história de amor, suor, lágrimas, sexo, desespero, drogas, melancolia, paixão, rejeição e mais amor. E a história dança ao ritmo perfeito de uma banda sonora milimetricamente encaixada em cada frase e em cada cena.
E depois, o texto. Salpicado por umas dezenas de deliciosos, intensos e poderosos diálogos. A acompanhar essencialmente o enredo e desenredo amorosos. De um amor que cativa. Que nunca - nunca - roça sequer o lamechas. Um amor frio e distante alternado com o calor do regresso. E as fúrias, o sofrimento amargurado de Cash. A força e a revolta. Isso tudo, num só filme. Muito mais do que um filme. E, apesar disso, um excelente filme. Dos melhores de 2005. E dos melhores de muitos dois mil e cincos que a minha memória me deixe recordar.
*Há um pequeno pormenor a posteriori de toda a história que de define um actor. Durante o genérico final a música que se ouve é o dueto de Cash e Carter na sua versão original. Percebe-se perfeitamente que a Reese Whiterspoon já não está ali, mas juramos a pés juntos que a voz masculina é do Phoenix.
E uma palavra de apreço aos idiotas que costumam traduzir os títulos das películas, ou melhor, a quem não os deixou transformar a dicotomia de walk the line, num estapafúrdio pisando o risco ou fazer o quatro.
Johnny Cash: Marry me, June.
June Carter: Oh, please! Get up off your Knees. You look pathetic.
E aqui um cheirinho de dueto entre os verdadeiros June e John: Time's a wasting.
A mesma do vídeo lá de baixo, que, sem razão aparente, não se encontra na banda sonora original do filme.
1 comentário:
É de facto um grande filme e apetece escrever mais do que somos capazes,a indicar que está aqui o filme de 2005, que está aqui um filme duma vida.
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