terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Dentro da caixa

[Vou escrever este texto como se tivesse visto The Collector logo em 2009. É mentira, vi-o no domingo, mas a questão é que não quero parecer desleixado no toca ao terror de algibeira.]

Miguel, para onde vai a saga Saw quando morrer? Na altura não consegui responder. Hoje sei, vai para The Collector. Já passaram mais de três anos e só quando tropecei na sequela é que voltou aqui. Na altura pareceu-me bem: um cavalheiro mascarado, tortura, mata e colecciona vítimas. Isto tudo em casa das mesmas, preparando terríveis armadilhas para quem quiser fugir. Ou seja, é tudo o que sempre quisemos que o Sozinho em Casa fosse. Ninguém engolia aqueles galos e cabelos em pé, as pessoas têm de se aleijar. Assim é, sem explicar e sem dever nada a ninguém. Agora chegou a sequela com a vontade de transformar uma pequena doce morte num massacre, ou não estivéssemos perante os argumentistas de Saw IV, V, VI e VII. 

Posto isto, a questão é só uma: eu tenho de amar uma saga gore e xunga. Tenho, preciso daquele sentimento de ver novas mortes, novas engenhocas, novos gritos de massa zero. Será esta? Será esta que me fará voltar a acreditar, depois do divórcio complicado que tive com Final Destination? Tem tudo para ser. The Collection, começa bem. Muito bem, fazendo jus ao termo "debulhar malta". Indica-nos um caminho, segue por outro. Em vez do mais e maior, entra no covil do lobo. Na demência, bizarria e claro, bad acting. Está tudo lá: o mau indestrutível, o herói triste mas badass, as armadilhas sinistras e ridículas, cães, quase zombies e corpos. Chega ao fim e um gajo vê-se assim, dentro da caixa. Envergonhado, quiçá apaixonado.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

É a do tigre

Irónico. Um descrente num filme de fé. Mas a verdade é que não dava um chavelho por A Vida de Pi. Algo  me empurrava constantemente para trás, que nem bicho preconceituoso. Daí, bofetada, claro está, para não ser maniento. Magnífico filme. Lee não se esqueceu dele mas, mais importante, não se esqueceu de como se conta uma história. Pondo nela o que quiser - líndissima fotografia - não desenraíza dos príncipios mais básicos do entretenimento, nós. Espectadores. Não se esqueceu dos catraios, que embarcam na viagem, sedentos do mar. Sedentos de serem esprimidos e derrotados, para poder viver de novo. Tim Burton, um dia, quase que me acertou, quando o filho percebeu a história que tinha de contar. Ang Lee ganhou-me na partida quando me perguntou qual das histórias era a minha preferida.


Não queria dizer nada mas acho que eles conseguiram

Há um J.J. que vai realizar o novo Star Wars mas até se ter a confirmação não digo qual é. Ai ai, pode ser o Jesus, quem sabe.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013


Assim

Ruby Sparks é tão sincera que nos desarma à partida. Zoe Kazan, um sonho pintado a vermelho, dando vida a qualquer segundo morto. É a electricidade de um coração bem aberto, expondo as fragilidades e as entrelinhas, simples. Como um final assim, que nos deixa assim, a ouvir e a sorrir. Assim. Mais coisinhas destas se  faz favor.
A versão portuguesa de Amour metia Ruy de Carvalho e Eunice Muñoz ao barulho não metia?

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

E nem falo do Arnold

Eu ainda sou do tempo em que a Erika Eleniak saía nua dentro de bolos e o Seagal tecia ditos como I´m just the cook. Agora The Last Stand ia passar-me ao lado não fosse ser realizado pelo meu querido Jee-woon Kim. Melhores coreografias de bofetada que vi na vida, I Saw the Devil, esse mesmo. É então para levarmos a sério? É sim, com todo o respeito do nome e todo o carinho de outrora. Who are you? I´m the sheriff!

Peço desde já imensa desculpa



Desagradável surpresa

Acordei com um discurso na cabeça. Meio amassado, sem conteúdo certo, a pesar. Banho, leite, chaves. E continuava a marcar. Cada vez mais perto. Chuva, carro. Quase, era algo relacionado com política, sim um discurso político mas com uns chavões religiosos. Americanos. Estava mesmo nos seus calcanhares e estava feliz. Quando fui a ver, era o final d' O Guarda Costas.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

John Barry (2)

Piloto de barba rija

Não tem muito de novo mas tem muito a transgredir. A pisar e a passar deliberadamente a linha. Sexo, violência, maus e menos maus. É o meu tipo de affair.

À antiga

Na universidade, tínhamos um grito, é à antiga é à antiga! Entoado vezes sem conta, com ou sem tinto, para fazer crer que se fazia devida homenagem ao outro tempo. Não há melhor conjunto de palavras, com a mesma juventude, para descrever Dredd. Pequena grande fita que nos sacode para os apertados corredores dos clubes de vídeo e das capas que saíam com a Tv Guia. É tudo de novo, como se não existisse medo, como se um orçamento menor fosse obrigatoriamente sinónimo de coragem maior. E é. Implacável filme de acção, sem meias medidas, sem dever nada a ninguém e a entregar tudo o que um filho dos 80's mais quer. Um last action hero

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Sacos do lixo


Por breves instantes quase que entrei. A discussão familiar, a cena com Girl from the North Country, o sentido de loucura que por vezes escapava. Vemos que está ali uma vida a querer sair. Mas o conjunto não deixa. Russel não quer sujar as mãos e deixar o carimbo de filme simpático. Boa onda. Lawrence ainda tenta, oferece a melhor interpretação do filme - a única digna de algum reconhecimento - e pulsa uma personagem. O resto não tem de facto hipótese, escravos de uma linha demasiado certinha, para a felicidade. E para depressões com sacos do lixo, teremos sempre, o insubstituível, Garden State


Preguiça de vista

Uma vez escolhida a primeira miss de 2013 comecei a minha habitual pesquisa. Hannah Simone, google. Tal não é o meu espanto que em vez do tradicional sufixo hot me apareceu eye. Hannah Simone eye. E aí fez-se luz. A actriz de New Girl, apareceu em alguns episódios da série - um em especial - com um olho preguiçoso. Tão preguiçoso que até eu perguntei mas o que é se passa com a vista da senhora? Esqueci-me de anotar e de depois não levei a cabo tal investigação. Engraçado descobrir somos muito assim, qual carreira, qual história, qual quê, queremos é saber o que é que ela tem no olho!

Tarefas e adivinhas

Qual é coisa qual é ela que é mais irritante que um grupo de hobbits maricas? Um grupo de anões pedreiros. São muitos, pequeninos e gordinhos, arrotam e comem de boca aberta. Para todos rirmos, porque é engraçado. Sejamos sinceros, The Hobbit: An Unexpected Journey é um The Fellowship of the Ring para maiores de 6. Está lá tudo, os mesmos cenários, as mesmas roupas, as mesmas músicas, os mesmos jogos de câmara. O que muda? Bem, primeiro, o vagar. Há para dar e vender. Demoram quase uma hora para sair do Shire, uma hora, uma hora. Doeu. Depois, o que na trilogia original funcionava como vontade épica, aqui tresanda a encomenda balofa. De episódio para episódio, sem uma única ideia nova. Não há uma visão, não há um pequeno devaneio, mais que clarividente na cena das adivinhas. Momento que deveria ser alto, repleto de viscosidade e tensão, passa como mais uma tarefa sem sequer nos despentear o cabelo. É aventura, com muita gente sem nunca assumir ninguém. No final, dizem-nos que estão a fazer isto por causa do lar quando nós sabemos bem que o que está aqui em causa é o tesouro.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Globos de Ouro sem transmissão televisiva nacional. Hoje estou danado mas amanhã sei que vou dizer obrigado. Como frase de pai, no futuro vais perceber que foi para teu bem.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

grandioso e inútil passatempo

pessoas, o créditos finais tem o prazer de oferecer um dvd do filme five minutes of heaven à primeira pessoa que, na caixa de comentários deste post, escrever a frase: «eu quero o dvd do five minutes of heaven».


(se o vencedor residir fora de portugal oferecemos o link do torrent). 

3,2,1, go. 

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Enquanto alentejano a tradução Bestas do Sul Selvagem não me agrada nada.

O dia em que Bradley Cooper foi nomeado

Rádio, começo de tarde. Uma locutora diz para a outra que está muito contente por Bradley Cooper ter sido nomeado. A outra ri-se, partilhando a opinião e acrescentando que ele é muito bom actor. Não é. É sim o problema dos Óscares, do actual: a felicidade de uma consagração porque ele é giro, ou porque tem pinta, ou porque fez umas comédias engraçadas onde homens acordam vomitados e sem dentes. Há um limite; podia pôr todos os narizes, todas as bases, todas as massas, que nunca na vida se levantaria a questão de Cooper estar no mesmo parágrafo que Daniel Day-Lewis. Quem diz Cooper diz Jackman. Perderam-se os critérios da arte, do papel único, impossível que ali está para ser celebrado. As espécies misturaram-se e o reino animal perdeu a ordem. É o fim da macacada. 

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Pergunta nómada

Não fazia ideia que o primeiro filme do meu amado McTiernan dava pelo nome de Nomads. Sempre a aprender. O trailer é do pior e o poster divulga um Pierce Brosnan demasiado macaco. Por mim fujo mas gostava de saber a vossa opinião. Sim ou não?

Saudades da carne

Espero bem que Cronenberg não seja daquelas mulas teimosas e se divorcie de Pattinson. Porque Cosmopolis não vai lá nem com mel e torradas. É engraçado a pergunta constante: onde dormem as limusinas? Descansam em paz lá para os lados de Holy Motors, gritei eu ainda em estado pré-enfadado. É o dia e a noite, a força da visão contra o olhar engaiolado. Preso no próprio espaço, sem nunca se soltar para a cidade, o corpo do filme. A culpa não é só do moço, como já entenderam, mas aquele olhar medíocre deixa qualquer fã deprimido, sedento dos olhos cheios de Spader ou Woods. Da carne, falta a carne, que falta faz a carne!

The Name Game

American Horror Story é mau. Horrível. Citando velho amigo: disparate atrás de disparate. Quiseram melhorar e com isso entenderam que se devia aumentar. Vamos pôr tudo, tudo mesmo. Só não há vampiros, mas a festa só acaba quando a senhora gorda cantar. Por falar em cantigas, e é aqui que entra o meu porém, o episódio dez deu-nos um estranho momento musical. Não foi um perdão, nem lava nada, mas diverte em larga escala.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Será que o não quis dizer nunca

Se eu fosse um blogger de lençóis começava o texto com uma longa nota biográfica de Wright, de forma que ela justificasse a paixão do teatro. Como não sou, começo com a palavra "bonito". Anna Karenina é, acima de tudo, um filme bonito. Nisso o realizador inglês não falha: a casa bem arrumada, cristalina entre cada passagem, cena a cena. Ganhando ainda mais vigor na opção artística do teatro. E, por incrível que pareça, não é ela que cansa - lá está porque o brilho não desaparece. O que se arrasta é a repetição de uma protagonista que não sabe fazer outro papel e um amante que precisa urgentemente de voltar à escola. A dupla loucura do adultério, da carne, falha. Veja-se a história paralela, discreta mas certeira. Sem estrelas mas com cimento. Cubo a cubo, como essa maravilhosa cena da comunicação. A melhor de todo o filme.

Sinos de mão

Foi num episódio de New Girl que dei com eles. Sinos de mão. Admirável mundo novo que de um dia para o outro está em todo o lado. Como o estranho que de repente conhecemos e de repente reconhecemos.

sábado, 5 de janeiro de 2013

O segredo dos seus matraquilhos

Se eu fosse realizador de cinema gostava de ter um nome tão instrumental como o de Juan José Campanella. Autor do premiado El secreto de sus ojos surge agora com uma animação sobre uma equipa de matraquilhos que se tenta reencontrar depois do seu desmantelamento. Para mim a premissa basta. Para os restantes aqui fica o trailer.

Disseram-me que agora só elogio as músicas. Respondi que não me chamo Créditos Finais por acaso.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Notícia triste do dia

A Peggy não vai aparecer na sequela do Canastrão América.

O impostor

The Imposter é um grande thriller. Engraçado ser documentário. A história é a de um homem que se fez passar por um adolescente desaparecido há três anos. Esta é a história, ou que vemos dela, no início. Com o factor do verídico bem vincado baixamos as nossas defesas para uma e outra vez cairmos incrédulos na surpresa. O filme é soberbo nisso. Em curvar e ficar à nossa espera na esquina, para nos dar nova pancada. Não só é mais estranho que a ficção, como é melhor que grande parte dela.

Como se conta uma nova história

A maior virtude de Tabu é fazer-nos ver outras coisas nas coisas. Arriscar novos sentidos, que sempre cá estiveram, subvalorizados, menosprezados por formatação. A culpa, agora lavada em libertação. As texturas, os negros, os contrastes, oferecidos ao pormenor de um verso. Poema. Que fica até bem depois da música. É para todos, é para cada um. 

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Instruções

Andava a sondar o universo do tio poster, ainda com a bebedeira dos balanços, quando encontro esta gema. Para quem viu é um deleite, já impresso e guardado assim, que nem folheto. Para os outros é enigma suficientemente atractivo para se entrar. Um dos últimos grandes filmes que não saíram desta sala.

O Hank

O Hank é o cunhado do Walt e é muito parecido com o meu tio. O Hank é a melhor personagem de Breaking Bad. Desde lá até cá. O que à primeira vista parecia uma caricatura rígida, o polícia e os donuts, foi-se desdobrando aos poucos, à medida que o dobraram, num homem cheio de tudo. Um apaixonado pela família, um profissional fora de série. As suas teimas, a sua força, a sua mania por minerais e o tacto. Faro de um ser genuinamente bom. Faz muita falta alguém assim numa série ruim como esta. Dean Norris és enorme. Vai custar dizer adeus a todos mas o aperto de mão a este meu companheiro vai ser o mais doloroso.

Mas isto está tudo mal ligado

Pensei para o botão, aquele mais perto do meu queixo: isto com actores a sério se calhar até resultava. Ele olhou para mim, mesmo antes de se desmanchar no riso, e disse: nahhhhh! E rimos com vontade. De facto o casting inenarrável de Cloud Atlas não pode ser desculpa para tamanha trapalhada. Sim tem a Halle Berry, tem o Tom Hanks - numa espiral de bad acting que eu vou-vos contar - tem o Jim Sturgess, tem o Hugh Grant, tem mais uns que até arrepiam, mas só isso não justifica. A sua repetição ao longo das histórias não tem vigor, fica uma ideia empapada nos narizes, nas perucas. Agora sou branca, agora já não sou coreana. E agora sou velhinho. Circo, circo de má qualidade que se justifica nuns chavões moralistas cuspidos de quando em vez. Estamos todos ligados, dizem muitas vezes, esquecendo-se de que é necessário sentir esses laços. Zero. Ah mas é muito fiel ao material de origem, dizem alguns. Eu estou-me nas tintas para o material de origem. Para este e para todos os materiais de origem do mundo! Eu quero é ver um bom filme! Não aconteceu. Salva-se, claro está, um belíssimo tema.