quinta-feira, 29 de abril de 2021

Afinal havia série

Querida Netflix, há uns dias, no grupo de sugestões intitulado "se gostou do Gravity, não seca o cabelo de manhã e come entrecosto com as mãos" apareceu-me o Stowaway. Carreguei no play e olha, até passei um bom bocadito. Tem a narizinho empinado do Pitch Perfect, o Jin do Lost, a mãe do miudito que via pessoas mortas e um cavalheiro que se esconde nos arrumos da nave que eu não conhecia. Mas a questão que vos queria colocar é: quando lançam o resto dos episódios? É que este primeiro acabou num cliffhanger daqueles e estas unhas não aguentam muito tempo.

quarta-feira, 28 de abril de 2021

Dos grandes finais

 

I had the body removed to our plot and I have visited it over the years. No doubt people talk about that. They say, "Well, she hardly knew the man. Isn't she a cranky old maid?" It is true, I have not married. I never had time to fool with it. I heard nothing more of the Texas officer LaBoeuf. If he is yet alive, I would be pleased to hear from him. I judge he would be in his 70s now, and nearer 80 than 70. I expect some of the starch has gone out of that cowlick. Time just gets away from us.

True Grit - 2010

terça-feira, 27 de abril de 2021

Mackié

 

De vez em quando aparece um ator ou uma atriz que chama a si todo um reino. Neste momento Anthony Mackie é o principezinho da ficção científica. Confesso que não ia muito à bola com ele mas esta entrega a um dos meus géneros favoritos criou respeito, admiração e um laço curioso, do que virá a seguir. Deu corpo a Takeshi Kovacs, na musculada segunda temporada de Altered Carbon* e agarrou no escudo em The Falcon and the Winter Soldier. Em ambas, numa personagem que já existia, emprestando o seu invólucro por uns dias ou vestindo o fato como legado, destino. Porque no futuro somos eternos, a transitar para algo híbrido, que nem o androide de Outside the Wire. Por último o seu mergulho mais profundo: Synchronic, de Justin Benson e Aaron Moorhead (os realizadores do incrível Resolution e do não tão conseguido, mas ainda assim inventivo, The Endless). Nele é desafiado a tomar o comprimido e a conhecer outros tempos. E a verdade é que mais ou menos conseguidas, com mais ou menos encanto, as questões, as viagens e as vontades estão todas lá. Siga.


* descancelem-me já esta série por favor.

segunda-feira, 26 de abril de 2021

Lobisomens do Século XXI - Dog Soldiers (2002)

 

Já viram o novo do Neil Marshall? Tem bruxas mas também tem 4.6. Queria ver se alguém ia à frente. Se entretanto ninguém levantar a mão o vosso tio avança. De peito aberto e braços no ar, eu só quero conversar, vou eu dizer ao filme, para ver se não levo logo um balázio na testa. Mas pronto, hoje estamos aqui para falar do bom e velho Neil, ali a arrancar carreira com um revigorante conto licantrópico. Dog Soldiers adopta a simplicidade de uma emboscada, como The Descent: um grupo de militares vê-se encurralado no meio da floresta por uma série de criaturas, que, ou eles muito se enganam, ou são lobisomens. No fundo duas matilhas, uma contra a outra. Boa utilização dos seus recursos - inventiva, especialmente nas perseguições primeira pessoa - e bons efeitos práticos, grandes, altos, fodidos. A picar o ponto nas obrigatórias mordidelas e transformações, mas sempre fluido, com direito a um explosivo final numa casa de campo. Melhor filme deste ciclo até ao momento.

quinta-feira, 22 de abril de 2021

Dá-me lume

[SPOILERS] O que dizem os meus olhos? Dizem que o Nobody é um filmalhão do caraças. Até me emociono, a relembrar aquele regozijo contido no autocarro, agora sim, de volta. O John Wick não está sozinho - belíssima piscadela de olho com a música do trailer do terceiro capítulo - e assume aqui a forma Jorge Palmaniana, do "eu não passo de um homem vulgar", que tem a sorte de esbofetear e acertar esse passo inseguro a toda a malandragem de leste. Bob Odenkirk, que maravilha de escolha e de entrega, com o seu corpo pequenito e destreinado, mas dono de uma fome e um nervo, em lutas secas - tem vergonha Mortal Kombat - e super sangrentas. É inevitável o laço, a vizinhança, e melhor, a edição agarra-nos do início ao fim, do quotidiano em família até a um confronto alucinante, que constará certamente nos melhores payoffs do ano (triple head shot!!!!). E depois, Chistopher fuckin´ Lloyd, a oficializar, à lei da caçadeira e ao som do You Will Never Walk Alone, este regresso de amigos. De facto, com esta malta, nunca caminharemos sozinhos.

quarta-feira, 21 de abril de 2021

Quem sabe um dia


Estava aqui a pensar que é um bocado estranho nunca terem feito um reboot do Mortal Kombat. Se bem que, se calhar, depois prometiam abordar a mitologia de algumas personagens, como o conflito Scorpion e Sub-Zero, num início porreiro e de seguida deitavam tudo ao lixo. Com uma enchente de figuras descartáveis, enredos previsíveis, lutas fugazes e efeitos baratuchos. Se calhar prometiam gore e depois era só aquele inócuo vermelhar do aborrecimento. Combates que funcionariam como marcos geodésicos do argumento, com tudo "escrito" à sua volta, sem tempo, sem ritmo, sem sentido. Se calhar o protagonista até seria o maior canastrão dos sete reinos e os diálogos dignos de Mortal Kombat com Açucar: Férias de Verão. Se calhar até queríamos vibrar, sentir união e nostalgia na aventura. Se calhar, enfim, é melhor assim. 

terça-feira, 20 de abril de 2021

A Olga dos desejos

A Olga Kurylenko é a única Bond Girl que é também Hitman Girl e Max Payne Girl. Se sair num quiz já sabem. Mas não é nenhum destes filmes incríveis que me traz aqui hoje. É o The Room, não esse, um de terror de 2019, que em português ganhou título de O Quarto dos Desejos. Isto porque, alerta spoiler, tem um quarto onde podes, tambores, pedir desejos. Casa velha, casal novo, divisão misteriosa: ah e tal quero uma daquelas empilhadoras que a Ripley conduz no Aliens? Pimba, empilhadora nas mãos do nino. Fogo queria tanto. Claro que depois não é só guita e festa, eles tentam ir mais além e a coisa começa a correr mal. O filme é meio apressado, em vinte minutos resolve todas as possibilidades desta "lâmpada mágica" e segue para o "objeto" central da narrativa. Mas sem nunca aprofundar, quer as angustias passadas do casal, quer as relações presentes com a nova personagem. O terceiro ato é de facto um belo mergulhar na toca do coelho, com as caixas dentro de caixas, mas o vínculo criado (e depois quebrado) podia (e devia) ter sido retorcidamente maior.

quinta-feira, 15 de abril de 2021

Filme Dengaz

Eu queria dizer que não mas não consigo. Ficção científica florestal, carregadinha de verde e acampamentos esquisitos. Como aquelas escolas contentores, de apenas um ano, até acabar a obra; depois vamos a ver e já lá estamos há dez. The 100, After Earth, lembra esse regresso à natureza, essa fusão com um suposto zero (des)conhecido. Oportunidade que depois se corrói nos vícios do costume. Existe em Chaos Walking uma excelente premissa, com origem na trilogia homónima de livros, da autoria de um dos argumentistas, Patrick Ness. Não sei se foi já com olho num possível futuro, ou no desespero da ausência do mesmo, que se tentaram enfiar nestes 109 minutos demasiadas coisinhas. (SPOILERS) Temos a questão ruído, com toda uma origem oculta e um propósito pouco claro. A nível de mecanismo serve muito pouco a ação, a problemática. Podemos tirá-lo e o filme continua a fazer sentido. Visualmente é um mimo, especialmente em grupo e nas projeções da malta que já sabe utilizá-lo de forma mais profissional, mas enquanto núcleo diferenciador parece que nunca se justifica. Depois vem a questão do desaparecimento das mulheres (a única tentativa de ponte com os balões de pensamento), da diferença dos géneros, do livro aberto e do guardar um segredo, que acaba por ser pouco explorado ao entrarmos logo noutro acampamento onde aparentemente tudo é mais normal. Em tantos anos de vida o Tom Holland não pensou em explorar mato, em ir dar uma volta? E a espécie indígena, com direito apenas a uma pequeno cameo? Que tipo de conflito existiu? Ainda existe? Porque é que lhe falta um braço? Os mistérios resolvem-se e levantam-se sem peso, ligados mas sem objetivos. Por fim a Daisy Ridley, que se despenha no planeta e precisa de contactar a sua nave mãe, para dar início a uma segunda vaga de colonização. Acaba por ser esta a linha central, mas cada um destes novelos representaria sozinho um filme. Os atores esforçam-se, os efeitos também, mas no fim do dia, por muito que eu queira ter uma refeição prazerosa neste buffet, é comida a mais.

terça-feira, 13 de abril de 2021

quinta-feira, 8 de abril de 2021

Lobisomens do Século XXI - Howl (2015)

Werewolfs on a train. O poster faz lembrar um pouco aquele filme do Vinnie Jones em que ele anda no metro a espalhar magia, com um martelo de carne, à noitinha. Há um twist, nesse. Neste não, são só ingleses empancados no meio da mata numa noite de lua Cheia. O nosso protagonista é um pica com pouca auto estima mas com um grande tesão pela sua colega de turno. Problemas de comunicação, tristeza, fantasmas, tudo catapultado para um ataque inesperado de lobisomens. De facto, são eles que salvam um pouco a noite: criaturas bem feitas, bem desenhadas e bem caracterizadas, sem grandes problemas na quantidade de carne que arrancam. A questão depois é um grupo de personagens passageiras, desinteressantes, numa edição molengona sem riscos nem tensão. Uma armadilha deste género exige adrenalina, planos, reformulações e não apenas os demorados e previsíveis apeadeiros.

quarta-feira, 7 de abril de 2021

De todos


Os momentos mais difíceis acabam por ser aqueles discretos intervalos, em que Hopkins, em pleno controlo do seu corpo/carreira, vira as costas e segue caminho para o quarto. Esse balançar, sapatear do tempo, é o que torna este The Father tão universal, tão dono dos nossos reflexos e tão impulsivo nas nossas ternuras. Belíssimo filme.

[Magnífico poster caseiro do amigo Edgar Ascensão]
 

terça-feira, 6 de abril de 2021

O Michael Caine a rir


O Michael Caine a rir, como se estivesse em casa, vale por si só o preço do bilhete. Três momentos chave em que ele, ao ver os percalços certinhos dos seus atores, se diverte como espectador encantado. Contagia-nos, como se os colegas de plateia fossem apenas aquele gargalhar cavalheiresco. Do resto, fica uma estrutura muito curiosa de repetição - lembrei-me do One Cut of the Dead - em que podemos ver a mesma ação, sob diferentes ângulos e humores. Não fosse o uso e abuso da slapstick comedy - que não é de facto a minha chávena de chá - tinha aqui peça para aplaudir de pé.

segunda-feira, 5 de abril de 2021

Lobisomens do Século XXI - Wer (2013)

Apanhando o embalo da Rádio Cinemaxunga e do seu Ciclo de Lobisomens do Início dos Anos 80, decidi manter o uivo mas avançar uns anos. Cheguei à conclusão que tinha visto pouquíssima coisa deste subgénero. Talvez por ser menos explorado, por serem filmes mais independentes ou por eu ser um vendido às estacas e ao alho que não quer saber da Lua cheia. Quero sim, isto não pode ser só glamour, festas e pescocinhos, temos que comer o resto das moelas também. E eis que chegamos a Wer, realizado por William Brent Bell (The Boy) e encabeçado por A.J. Cook, a loira de Mentes Criminosas. Há 15 anos. O tempo passa a correr quando nos estamos a divertir. Também entra no O Último Destino 2, que começo a colocar à frente do primeiro no meu top semanal de Últimos Destinos. Mas voltando ao mistério: uma advogada americana em França vai defender um cavalheiro extremamente esquisito, que foi acusado de matar uma família de campistas. Culpado, inocente? Animal, humano? Não são as questões que nos conduzem o interesse (até porque são respondidas relativamente cedo) mas sim o (inovador) lado documental. Da ciência como resposta ao mito e à crença. Lobisomens pela verdade, tudo hiper violento, sem autorizações nem concessões. Boa malha.

sábado, 3 de abril de 2021

Não mexe mais


Depois de um contemplativo Godzilla - no seguimento do meu querido Monsters - e dum pastoso Godzilla: King of the Monsters chega agora a nota afinada. O filme que se assume, definitivamente, como um episódio e abre portas a uma saga, até às estrelas. A receita é simples: começar a meio, com uma vertiginosa e telegráfica meia hora - sequências de dez/quinze segundos - personagens reduzidas a explicações de escola e depois batatada da boa. E é aqui que Godzilla vs. Kong vence, as cenas de ação e de conflito, para além de estarem estupidamente bem feitas - a batalha naval então - são pragmáticas. Esqueçam o cansaço metálico de Transformers, aqui é tudo energicamente eficaz, com respeito pelo entretenimento de grande escala. Não é mais do que isto, na saúde e na doença: um Fast 5 ou um Saw 4 que fecha as regras dum futuro dedicado aos fãs.

quinta-feira, 1 de abril de 2021

Para quem ainda não percebeu

Retroactive é um filme porreiraço. Um terror na autoestrada que vira time loop, com aquele filtro "deserto texano" e meia dúzia de atores, de pistolão e caçadeira na mão. Jim Belushi é o mau, Kylie Travis é a boa, ambos segurinhos, num vamos lá outra vez que desta é que é. Porém, a razão de aqui estarmos não é apenas para adicionar este sci-fi à lista, é para falar de um dos melhores momentos de "explica-me como se fosse muito burro" de que me lembro: ao início, vemos a nossa protagonista no carro, percebemos que ela está a fugir de algo, quando no rádio ouvimos que houve um incidente com reféns, 6 mortos e que a psiquiatra da polícia se demitiu. Pronto, é ela, certo, está contextualizado. Espera. Close-up da folha de jornal com a notícia e crachá da moça no banco do pendura. Ok, é isso, está confirmado de novo, se calhar não era preciso, mas assim de facto não há duv....pumba flashback, preto e branco, a cena toda dos reféns, helicópteros, tiros, ela a gritar, explosões. Porra, malta, calma, assim é entrada direta no Guiness da super exposição.