We are defined by opportunities, even the ones we miss. É esta frase que nos apresenta a fábula atípica de um homem que cresce ao contrário. É ela que tenta definir a obra mas que acaba por encaixar apenas na figura do realizador:
Fincher, criador caracterizado por todos os seus filmes, mesmo aqueles que não resultam e
Button é, infelizmente, essa oportunidade falhada.
Esta adaptação do conto de F. Scott Fitzgerald (1920) fala do tempo, daquele que temos e perdemos, daquele que se estica e se troca, como se as regras da vida fossem pedaços de uma qualquer plasticina. E tempo é o que não falta para pintar a brilhante premissa: uma criança nasce idosa, com todas as doenças e problemas da idade, e em vez de envelhecer, rejuvenesce, fica melhor e mais novo, até ao estado final de pequeno bebé. História contada por uma filha à sua mãe às portas da morte, através de um velho e misterioso diário. Iniciamos assim uma biografia invertida, um conto à moda antiga, contado e narrado na primeira pessoa (inevitável não associar a Lemony Snickets).
É neste arranque que temos os melhores momentos de todo o filme. A pequena história do relógio que trabalha ao contrário é absolutamente fantástica e deixa-nos apresentados à lógica dos ponteiros. Reconhecemos aqui Fincher e esta é a analogia perfeita para a meia hora que se segue: o nascimento do protagonista, o acolhimento no lar, a percepção de que é diferente e os primeiros passos, todos dados com ritmo e força. Depois de nos agarrar, a obra trava e limita-se a arrastar o que foi conseguido anteriormente.
O velho vive demasiado tempo, alojado nos mesmos moldes e sem acontecimentos de relevo. Conhece a rapariga e depois faltam aventuras, histórias incríveis, personagens peculiares que se adicionem ao protagonista e formem episódios marcantes (talvez ao jeito de
Big Fish). Se os marinheiros ainda conseguem ter alguma frescura, a mulher casada (
Tilda Swinton) é um poço de aborrecimento. O tempo atraiçoa e pára a acção, desenrolada sobre o romance de duas pessoas demasiado caracterizadas (
Pitt e
Blanchett). Maquilhagem a mais, coração a menos. Onde estão as angústia de um amor amaldiçoado? Onde está a dor de um par impossível? Não há. Temos apenas reencontros repetitivos sem química nem paixão. Pelo meio existem os fantásticos raios fulminantes que atingem um velhote do lar e uma excelente cena sobre o acaso (no momento do atropelamento, aqui é Fincher de novo). O cansaço apodera-se e o inevitável destino apresenta-se apenas como uma marca a ser atingida, a hora certa em que tudo termina, sem expectativas ou questões de interesse.
Previsível como o facto de a leitora (
Julia Ormond) ser a filha de
Button o filme termina, com o relógio inicial esquecido no meio de uma tempestade. O fim abraça-nos e, tirando tudo o que poderia ter sido, mais nada nos conforta.
(+) A caracterização, das personagens e das épocas.
(-) A incapacidade de, concisamente, nos tocar.