quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

The Curious Case of Benjamin Button

We are defined by opportunities, even the ones we miss. É esta frase que nos apresenta a fábula atípica de um homem que cresce ao contrário. É ela que tenta definir a obra mas que acaba por encaixar apenas na figura do realizador: Fincher, criador caracterizado por todos os seus filmes, mesmo aqueles que não resultam e Button é, infelizmente, essa oportunidade falhada.

Esta adaptação do conto de F. Scott Fitzgerald (1920) fala do tempo, daquele que temos e perdemos, daquele que se estica e se troca, como se as regras da vida fossem pedaços de uma qualquer plasticina. E tempo é o que não falta para pintar a brilhante premissa: uma criança nasce idosa, com todas as doenças e problemas da idade, e em vez de envelhecer, rejuvenesce, fica melhor e mais novo, até ao estado final de pequeno bebé. História contada por uma filha à sua mãe às portas da morte, através de um velho e misterioso diário. Iniciamos assim uma biografia invertida, um conto à moda antiga, contado e narrado na primeira pessoa (inevitável não associar a Lemony Snickets).

É neste arranque que temos os melhores momentos de todo o filme. A pequena história do relógio que trabalha ao contrário é absolutamente fantástica e deixa-nos apresentados à lógica dos ponteiros. Reconhecemos aqui Fincher e esta é a analogia perfeita para a meia hora que se segue: o nascimento do protagonista, o acolhimento no lar, a percepção de que é diferente e os primeiros passos, todos dados com ritmo e força. Depois de nos agarrar, a obra trava e limita-se a arrastar o que foi conseguido anteriormente.

O velho vive demasiado tempo, alojado nos mesmos moldes e sem acontecimentos de relevo. Conhece a rapariga e depois faltam aventuras, histórias incríveis, personagens peculiares que se adicionem ao protagonista e formem episódios marcantes (talvez ao jeito de Big Fish). Se os marinheiros ainda conseguem ter alguma frescura, a mulher casada (Tilda Swinton) é um poço de aborrecimento. O tempo atraiçoa e pára a acção, desenrolada sobre o romance de duas pessoas demasiado caracterizadas (Pitt e Blanchett). Maquilhagem a mais, coração a menos. Onde estão as angústia de um amor amaldiçoado? Onde está a dor de um par impossível? Não há. Temos apenas reencontros repetitivos sem química nem paixão. Pelo meio existem os fantásticos raios fulminantes que atingem um velhote do lar e uma excelente cena sobre o acaso (no momento do atropelamento, aqui é Fincher de novo). O cansaço apodera-se e o inevitável destino apresenta-se apenas como uma marca a ser atingida, a hora certa em que tudo termina, sem expectativas ou questões de interesse.

Previsível como o facto de a leitora (Julia Ormond) ser a filha de Button o filme termina, com o relógio inicial esquecido no meio de uma tempestade. O fim abraça-nos e, tirando tudo o que poderia ter sido, mais nada nos conforta.


(+) A caracterização, das personagens e das épocas.
(-) A incapacidade de, concisamente, nos tocar.

9 comentários:

Jp disse...

Gosto do novo pormenor das classificação por estrelas... A querer dar um toque de profissionalismo??

Quanto ao filme, continuo a ter intenção de o ver, mas agora com espectativas bem mais baixas. Que é feito do Fincher do Seven, Fight Club, Alien...?

Anónimo disse...

Eu adorei o filme. Mas gostos são gostos, claro!

João Bizarro disse...

Afinal nem sempre estamos de acordo. Eu gostei muito do filme.

Miguel Ferreira disse...

Realmente estava à espera de algo com mais força, com mais alma. Ainda para mais sendo Fincher um dos meus realizadores favoritos. Enfim nem todos lemos as coisas da mesma forma e foi para mim uma desilusão daquelas. Pelas restantes opiniões que li acho estou mesmo em minoria absoluta!

Abraços

João Bizarro disse...

Miguel, eu não sei se se passa contigo mas por vezes há quem espere muito de determinados realizadores devido ao trabalho que fizeram antes. Ou seja, o fime seguinte tem de ser tão bom ou melhor que o anterior.
Ainda me lembro de ir assistir à estreia de O Jogo, à Meia-Noite e ver pessoas completamente desiludidas. E eu gostei muito do filme. Como tinha gostado do Alien 3 (que vi em Grândola, na sala de cinema da Biblioteca!!!) e do Seven!
Aliás, estou para aqui no IMDB a olhar para todos os filmes do Fincher (com medo que me esqueça de algum) e reparo que gosto de todos.
Mesmo dos mal amados Panic Room e Zodiac.

Miguel Ferreira disse...

João concordo que as expectativas acabam sempre por influenciar o juízo final. É inevitável. Mas o que aconteceu aqui foi mesmo não conseguir ter algum tipo de ligação com o filme. Gostei muito do início mas depois nada do que se foi construindo me agarrou de facto, senti as personagens muito vazias e sem força...Já sabia que este seria um Fincher atípico, não pedia aqui grandes colagens aos seus moldes anteriores, queria apenas mais irreverência, mais risco,porque a jogada segura acabou realmente por me aborrecer.

Quanto ao resto do trabalho dele também gosto de tudo! E também fui ver o Alien 3 à velhinha sala da Biblioteca ;) Assim como o Fight Club e o Jogo!

Para concluir acho que este não é bem o território do Fincher, mas como disse há pouco estou em completa minoria =)

Abraços

João Bizarro disse...

Compreendo o que tu dizes (li aqui e no blog da Premiere) e em relação ao ultimo paragrafo do teu ultimo comentário... "acho que este não é bem o território do Fincher"... Até acho que tens razão mas acho que o Senhor (repara no S grande) se saí muito bem. Há filmes de estúdio e há filmes de realizador (os que prefiro) mas o Fincher sai-se bem nos dois, apesar de achar que em alguns casos não foi o que ele idealizou.

Jp disse...

Não digam mal dos filmes de estúdio, que tenho a mania de gostar muito de quase tudo que sai dos da Fox Searchligh... :)

Roberto Simões disse...

Estou de acordo contigo.

Lê a crónica satírica do Calcifer em cineroad.blogspot.com.

O filme não me desiludiu. Mas é certo que não me surpreendeu.

Roberto F. A. Simões
cineroad.blogspot.com