terça-feira, 30 de março de 2021

E nem vou falar daquele início


O Chris Stuckmann, a determinada altura do seu vídeo, destaca o facto de uma das cenas ser de facto uma cena. Uma peça, desenhada, pensada e montada como tal. Com espaço, para o medo mas também para nós. E The Empty Man é essa capela. Confesso que se não fosse este alerta, tinha seguido com a minha a vida, evitando o que parecia ser mais um Boogeyman ou Slender Man desta vida, com aquela pequenita do Truth or Dare e uma maldição que no primeiro dia ficas com caganeira, no segundo careca e no terceiro já gostas da filmografia do Rob Schneider. O poster não ajuda e acho que o trailer também é batoteiro. O que temos na realidade é um thriller policial sobrenatural, como The Outsider ou Fallen. Um ex-polícia de luto à procura de respostas - e salvação - para uma série de ocorrências bizarras, diretamente ligadas ao seu círculo de conhecidos. Para saber mais é entrar nesta inesperada toca de coelho: uma cinematografia belíssima, cheia de detalhe, detalhe que passa para as transições (como a do mapa!), para a estranheza, para o suspense, ali certinho no beiral da cadeira, até ao final. Até percebermos a dimensão do arrojo e do obrigatório passa a palavra.

quinta-feira, 25 de março de 2021

Tempos livres


Qual é a tua cena favorita de Popstar: Never Stop Never Stopping? Perguntei eu a mim próprio enquanto a  raia cozia. Opá, fogo, és, sou, sempre o mesmo, a meter-me em escolhas apertadas. Há tanta coisinha boa: a banda sonora, desde a música do Bin Laden até à da Mona Lisa, o Seal, a cena do Seal amigos, já me estou a rir de novo, a atuação final, com aquele mítico convidado, e depois aqueles salpicos de genialidade que povoam certas e determinadas cenas. Mas de todos os momentos, o cameo do Bill Hader continua a ser o meu favorito. Um técnico de guitarras que tem um hobbie muito especial. Inesperado, requintado, hilariante. 

quarta-feira, 24 de março de 2021

Viajantes no tempo pela verdade


Eu acho, mas acho mesmo, que a Ana Rocha de Sousa é a Ursula Andress no Dr. No. Agora, de que forma é que ela foi e voltou, isso já não sei. Aliás ela até pode ainda nem ter ido e aquela que aparece no Bond ser uma versão do futuro que ainda não sabe que tem de ir para o passado. Ao ler isto é que percebe. Fogo, se uma pessoa não estivesse atenta à verdade das viagens no tempo o continuum temporal estava todo escangalhado.

terça-feira, 23 de março de 2021

O urso no blogue

Tinha acabado de arrumar o quadro de cortiça, todo embrulhadinho por causa da humidade. Pior, estava sem pioneses nem novelos de lã vermelhos em casa. Foi tudo ao ar na decoração de natal. E cai-me assim no colo este Black Bear. Lá fui á pressa desembrulhar, comprar e estou agora a olhar para esta complexa rede de acontecimentos, teorias e personagens. Caixas dentro de caixas, que podemos usar, trocar e mudar de sítio. Devíamos ter um assim por semana, para andarmos arrebitados, desafiados, com aquela vontade de conversar. Ainda por cima o filme não se fecha no puzzle, expande-se sim numa Aubrey Plaza fora de série e no impiedoso vórtice do processo criativo. A arte como sacrifício, rascunho e rascunho, de algo que nunca está bem fechado.

sexta-feira, 19 de março de 2021

Passou por cá


Há uma série de filmes que me aproximam do meu pai. Temporárias abreviações de um texto permanente e doloroso. Surgem ao lado daqueles que vivemos e vimos juntos. Aparecem - a cores no preto e branco - como obras que sei que ele ia gostar. Pelo tema, personagens, agitação. A vida que carregam; o meu pai sempre procurou essas narrativas: da gente real, das pessoas que estão ali à mesa sem lentes, a conversar, que se juntam para aprender italiano ou que se isolam como guardas de uma estação de comboio. O meu pai ia adorar este Sorry We Missed You. Uma família inglesa a braços com um quotidiano pesado, precário e injusto. Um amanhã pouco possível, a fugir aos tic tacs das entregas, aos cuidados dos mais velhos, a um filho rebelde ou a uma filha aplicada. Todas as peças destes tempos, com quatro interpretações insuperáveis, especialmente a mãe, com momentos de completo desarme (sim a cena do hospital). Ken Loach filma a falta de esperança com uma sobriedade e um respeito pelos laços, pela ternura, que a tristeza vira facilmente um caloroso abraço. Obrigado. 

quinta-feira, 18 de março de 2021

Entre mocas com o Vampiro


Não sei se já contei esta história. Uma vez no Starbucks pedi um Caffè Mocha. E a senhora da caixa perguntou: - De que tamanho é que é a moca? - rimos todos muito e agora fica, para contar nestes momentos de convívio. Isto para dar entrada a uma moca sem unidades de medida que conduz Vampire´s Kiss. Nicolas Cage a 100%, sem gordura, como se tivesse caído em pequeno num caldeirão dele próprio e que agora a sua força fosse ele mesmo, em ácidos, com todos os tiques a bater no vermelho. Há muito tempo que não me sentia tão desconfortável. Entrei para uma comédia de terror, mas o riso passa de descontraído a nervoso nos primeiros minutos, como se estivesses a ver um músico bêbado, aos tropeções e a esquecer-se da letra. Começas a olhar para o lado, a sentir aquele formigueiro: por uma prestação completamente fora de tempo - há um momento Rua Sésamo indescritível em que ele dita o abecedário - por uma personagem espezinhada ciclicamente e por uma narrativa confusa que nunca te dá qualquer pista. O final, e seu verdadeiro horror, vem tarde e sem esqueleto: dentada que dói mas que não chega para transformar ninguém.

quarta-feira, 17 de março de 2021

O bebé Keyser Söze


Era espetacular ter um filho com esse nome, dava para lhe apertar as bochechinhas e perguntar: quem é o Keyser Söze quem é? Quem é?

A manobra Ariana

Sabem aquele movimento de cabeça que a pita do Jurassic Park faz muitas vezes? Tipo torcicolo, a rodar lentamente o pescoço espetado, com os olhos muito abertos em jeito de epifania. Sabem? Pois bem, não é exclusivo da personagem, é transversal à carreira de Ariana Richards pois em Timescape, num momento chave, lá temos a boa da manobra. E que filme é este? Perguntam vocês também a rodar ligeiramente, mas sem grande jeito para a coisa, a vossa cabecinha. Ora bem, o primeiro filme de David Twohy - o homem por detrás da trilogia Riddick e de um filme meio parvo com a Milla Jovovich de férias - narra a história de um pai viúvo, a lutar pela custódia da filha, que recebe na sua estalagem inacabada um grupo de turistas do futuro. Quem nunca. Tripadvisor: o passado é uma merda. Não disseram isso, mas voltaram atrás por razão muito especial. Este mistério, este circuito central, juntamente com o núcleo família e o cenário de pequena aldeia, tornam esta aventura num produto muito genuíno. Sincero, que acaba por reconfortar alguns efeitos menos conseguidos. Depois é mostrar o bilhete e aproveitar a vista, em todas e quaisquer paragens do percurso cinemático que é a viagem no tempo.

sábado, 13 de março de 2021

O Caso Eraser


Como é que se chega a Enigma em 2021? Pausa. Não é assim tão difícil, basta praticar a salta-pocinhice (cuidado com os estrangeirismos) das internets que correm e estamos lá. Torneio de filmes do Arnie no Facebook. Comecei a trautear a música que pensava ser do Eraser. Fui à procura. Corri a banda sonora toda, no telemóvel, no computador, na cozinha, no quarto. Zero. Então mas? Seguiu-se aquele momento de auto-reflexão que num filme do Shyamalan serviria para perceber que o Eraser nunca tinha existido. Então, pimba, cheguei lá: é a música do trailer, que, fechando assim a corrida, é dos Enigma.

quinta-feira, 11 de março de 2021

Ia escolher só um









Mas são todos tão bonitos que desenhei uma sequência. É o meu segmento favorito de Monsoon Wedding, um simples, silencioso e certeiro aproximar entre o organizador do evento e a  empregada da casa. Nas sombras da grande festa, da confusão e do drama familiar, a universalidade de dois peitos a bater um pelo outro. 

quarta-feira, 10 de março de 2021

E por falar em comédias românticas difíceis


[SPOILERS do filme Last Christmas, se não viram e querem ver talvez seja a altura de irem ler outro textinho, depois voltam calma, não sejam dramáticos] 

Até quando é que vamos ter de levar com o twist Mónica Sintra Sexto Sentido (MSSS) do "afinal ele estava morto, e eu sem nada saber, beijei-o"? Por favor, Paul Feig, podias ter pedido ao Pai Natal uma surpresa menos manhosa. E só agora é que eu percebi porque é que o filme se inspira na música dos Wham!, Last Christmas I gave you my heart, porque ele literalmente lhe deu o coração, o órgão. Ui, ficou ainda mais esquisito.

terça-feira, 9 de março de 2021

Filme Gandalf


Quando eu vi que era do realizador de Mamma Mia! Here We Go Again pensei: oh diabo isto vai ser bom. Não pensei nada. Mas ao ver a Sarah Connor e a Violet do Coyote Bar juntas, numa comédia inglesa acreditei. Acreditei muito. Tanto, para tão pouco: Imagine Me & You é uma trapalhada monumental. Ou existe um Snyder Cut algures com mais duas horas ou então pensaram que ninguém ia ver isto. A premissa é bem intencionada, amor à primeira vista, improvável e imparável, a ter de lidar com os reveses da órbita. Só que depois, a passagem de tudo isto para a fita parece automatizada, com os tempos errados, sem tempo para qualquer química ou pingo de humor. Aquelas etapas obrigatórias do género aparecem desformatadas, criando um insípido progredir de coisa nenhuma. Como diria o tio Gandalf: run you fools.

segunda-feira, 8 de março de 2021

Quote - Roger Dodger (2002)


And she’s been hiding it because she thinks that’s the part that’s gonna blow it or make you leave or get bored or whatever, but you get to that part, and you’re still there. And you’re even more in love.

domingo, 7 de março de 2021

Afinal são muitas mais


A meio do ciclo caseiro "Mas afinal o que é que te falta do Coppola?" lembrei-me do Bryan Adams. Da música do Jack, para começar, e depois de todas as outras: duas, cinco, cheguei às cinco. Muita coisa, pensei eu, com todo o carinho. Afinal são muitas mais, com toda a dedicação.

sábado, 6 de março de 2021

Créditos Iniciais - Detention (2011)

Detention é como aqueles cachorros das quatro da manhã, em que a premissa esfomeada dá lugar a todos os molhos e condimentos da roulotte, crescendo numa amorfa montanha de extras que cai aquando a primeira dentada. Tudo e mais alguma coisa: ursos, viagens no tempo, extraterrestres, liceus, serial killers e referências e mais referências. Um bocado destrambelhado mas o que vos queria mostrar é o início e seus créditos, que maravilha.

sexta-feira, 5 de março de 2021

Criaturas em extinção

Há um instante em Nomadland onde Frances McDormand encara um gigante dinossauro. Como se estivesse a partilhar a sua extinção, a conectar o seu tempo com outro que também já não existe. Um belíssimo interior, um dos muitos que se fazem sentir na vastidão. Numa obra que, se nos ganha pela proximidade da gente real e das ruínas, nos perde na total imersão da viagem, do processo. Na ideia de um conto que ainda se procura a ele mesmo.

quinta-feira, 4 de março de 2021

Vamos falar de Servant

Não vamos falar muito, só um bocadito. Eu gosto do Shyamalan, tivemos as nossas turras, mas a verdade é que a próxima corrida me deixa sempre equipado. E Servant, a sua produção para a Apple TV, tem tudo no sítio. A fotografia, aqueles jogos de campo; a loucura, a comida e a carne - quase cronenberguianas - tudo muito podre, muito chuvoso. É um festim para os sentidos, conduzido por um quarteto extraordinário de assustados. Está tudo lá de facto, mas não se passa nada foda-se! Parece a música do Piruka. Vamos a meio da segunda temporada e os mistérios (barra enredos) são de tal forma turvos que eu creio que eles já nem existem. Uma espécie de feitiço visual, do qual estou quase a fazer "não obrigado".

Tremeu mas pouco


Se Host acertou em cheio no porta-aviões, este Shook fica mesmo mesmo no meio da água. A afundar, de cabeça. Shudder, minha querida, na saúde e na doença eu sei, mas não é fácil gramar com hora e meia de tanta palermice. O que podia ser um engenhoso terror dos novos media - e a transposição das mensagens, imagens, écrans para o espaço casa está de facto lá - cai nas típicas trapaças do género, preguiçosas e mal elaboradas. A bater bocejo, à procura de um tema dentro dos temas, a fazer tempo onde devia era criar medo.
 

quarta-feira, 3 de março de 2021

Os últimos dias


Melhor monólogo de sempre sobre A Dama e o Vagabundo. O original, não é aquela parvoíce com cães meio CGI da Disney +. De resto é um eu tenho dois amores versão Plateau: boa música, bom ambiente, geração bonita e pulsar cultural. A vibração e a nostalgia estão de facto lá, só é pena é que qualquer personagem e enredo interessante tenham sido barrados à porta.

Como miminho extra, deixo aqui a lista do Spotify, não me responsabilizando pelo grau de danceteria que a mesma irá empregar nos vossos corpos.