Recordação de um ciclo que propus para o blogue do amigo José Carlos Maltez, A Janela Encantada, sobre Mundos Paralelos. Deixo aqui o início e convido-vos a passar o espelho para a restante aventura.
"A minha mãe ia contar uma história. Eu ia nessa história, com ela. A uma escola nova, terra vizinha. Esperando, como se espera sempre em espaço novo, o maior grau de estranheza, estranheza fresca, por abrir. Mas ali, naquela manhã, o esquisito sabia a família: o edifício era igual ao que temos em casa, aquela escola era igual à minha, só que em azul. Trocaram o amarelo e encheram esta cabeça de um universo paralelo. Primeira vez que fiz tal viagem, tal embarque a um conceito com regras muito bem definidas: “Parallels”, um filme de 2015 diz cedo na voz de uma das suas personagens – não viajaste no tempo, o dia e a hora são exatamente os mesmos, só que estás noutra versão do planeta Terra. Imaginemos que agora, num outro mundo, um outro “eu” está a gatafunhar esta crónica, só que em vez de uma BiC azul usa uma BiC preta. Pequeninas, minúsculas, ligeiras diferenças até às brutais como este amontoado de palavras não existir ou eu nunca ter nascido. Ou ter nascido mas gostar muito do “Shakespeare in Love”, ou melhor não ter mesmo nascido. O filme, esse, é também um piloto de televisão, o que faz todo o sentido uma vez que foi – e ainda é – o pequeno ecrã a oferecer o espaço das possibilidades. Dezenas de episódios cobrem com muito mais facilidade as viagens que podemos fazer, as variações que queremos montar. Mundos infinitos que, numa premissa como “Parallels”, precisam de todas as hipóteses, até dar, até ser possível. “Sliders” foi dos exemplos mais claros e cristalinos deste conceito e mais recentemente “Fringe”, que elevava a fasquia para uma guerra entre mundos, com protagonistas e seus duplos a marcarem a memória recente. Como “Stranger Things” e o seu Mundo Invertido ou “Flash”, que é pau para toda a obra e para além dos paralelos tem os mundos criados por viagens no tempo. Fazer diferente, a causa efeito, fantasmas ontem, monstros hoje. Mas comecemos a bater à porta, não das projeções futuristas e inter-dimensionais de “Black Mirror” e “Dimension 404”, mas sim do guarda-roupa. Sim e passemos para o cinema, senão daqui a bocado começa a tocar a orquestra e eu tenho de me calar."