Kelly Macdonald toca na nuvem e diz algo como: o futuro a acontecer e eu
a vivê-lo ou o futuro a existir e eu a existir nele ou algo diferente
mas neste sentido. Depois revemos, corrigimos; ou abdicamos disso e
deixamos o erro, o erro é que tem piada. Black Mirror volta a cair nesse
tempo projectado que hoje já temos, num reflexo podre que caminha a
passos largos para algo ainda mais escuro. É um jogo de amanhãs, qual
deles o mais hoje? O mais nosso? Logo um jogo íntimo, unipessoal, e
desenhado no modo de episódios autónomos, para autonomamente podermos
escolher. Mas antes dos meus queridinhos, uma nota da rodapé, ou melhor,
um avião daqueles das praias: magnífica transição, se é que foi
transição, para nova casa e novo número. Há mais espaço, para os mais
típicos, para os mais estelares, para os mais experimentais e para os
mais novos. Espaço este sempre ocupado por uma
identidade muito vincada e pouco aleatória. Todos os géneros no seu género. A posição tem um sentido e
agora sim.
Os meus meninos, que ironicamente coincidem com este arranjo
estratégico. Nosedive, o primeiro, primo directo de White Christmas,
agarra em seus preconceitos finais e transforma-os num novo sonho
americano. Feio, lindo de morrer, com os rosas e seus feitios engomados a
darem lugar a uma catarse maravilhosa, naquela que é possivelmente a
cena final mais emblemática - Edward Norton naquela última noite - da
série. É a introdução perfeita, para leigos, para fãs, para o mundo.
Saltamos logo para o último, o mais comprido da saga, que podia muito
bem ser o melhor filme policial do ano. Possivelmente é. Num retorcido
julgamento ambientalista que termina com a punição inevitável, é o
apocalipse, é o final. Desde a música, até às incríveis interpretações
da dupla feminina, este ódio à nação é amor para a vida.
Por último, o
meu predilecto, continuando no feminino. San Junipero, a réstia de luz
que sobra no poço. Um regresso ao passado para encontrar alguma réstia,
do que somos e do que queremos ser. Nada se limita, tudo se vai
expandindo, lutando até à felicidade, essa eternidade prometida, seja em que
"cidade" for. É uma canção, um suspiro de amor, um magnífico acreditar.
Obrigado pela viagem. Black Mirror regressa como sempre foi, uma
montanha russa, altos e baixos de episódios onde nada é garantido, onde
nos perguntamos a cada curva. É a descoberta, do que nos contam e do que
queremos depois contar, no nosso espelho negro.
Por
último, e porque este desabafo não seria o mesmo sem um top maricolas,
aqui ficam os meus episódios até à data, do pior para o
melhor, com referência ainda mais bicharoca aos episódios desta temporada:
13. The Waldo Moment (S2, Ep3)
12. The National Anthem (S1, Ep1)
12. The National Anthem (S1, Ep1)
11. Men Against Fire (S3, Ep5)
10. Playtest (S3, Ep2)
9. Be Right Back (S2, Ep1)
9. Be Right Back (S2, Ep1)
8. Shut Up and Dance (S3, Ep3)
7. Fifteen Million Merits (S1, Ep2)
6. White Bear (S2, Ep2)
7. Fifteen Million Merits (S1, Ep2)
6. White Bear (S2, Ep2)
5. White Christmas (S2, Ep4)
4. Nosedive (S3, Ep1)
3. Hated in the Nation (S3, Ep6)
2. San Junipero (S3, Ep4)
1. The Entire History of You (S1, Ep3)