Estudo de uma universidade inglesa descobriu que 67% das pessoas que assistiram ao novo trailer do Spectre ainda estão a dormir. Acordem malta, já passou!
segunda-feira, 30 de março de 2015
Publicidade porreira a tendas de campismo
Porque filme ruim é bom pra caralho! Foi desta forma, inesperada, poética, introspectiva, ousada, misteriosa, corajosa, que as legendas de Backcountry se despediram ontem à noite. Uma pessoa espera sempre um faça likes, ou acompanhe o nosso trabalho. Nunca uma encriptação deste nível, que deixa a pensar muito além do filme: não gostaram? é mau? é bom por ser mau? todo o filme ruim é bom pra caralho? Ai, que densa floresta de dúvidas!! O resto, que se calhar é o que vos fez vir cá: valente exercício, muito bem filmado, crescendo ao ritmo certo. Não acrescenta grande coisa ao género "casal que vai acampar sozinho e está mesmo a pedi-las" mas como todos os outros passa num instante, não magoa e tem uma scream queen do caraças.
domingo, 29 de março de 2015
Já não estão debaixo da cama
Mini ciclo de cinema Ray Wise, cá em casa. Digging Up the Marrow e Dead End. Só por ele, só por ser ele, esta iniciativa familiar já era uma aposta goleadora. Mas é claro, que para dar ainda mais ânimo, a bicharada ou a tripalhada tinham de ajudar. E o mar esteve de feição. O primeiro, mais recente, é um mockumentary de Adam Green, ele próprio a encabeçar uma investigação: um velho diz que sabe onde moram os monstros, e que eles existem. Para um fã, que toda a vida os construiu, esta é de facto a última cruzada. Muito bem trabalhada no sentido estético, com cromos inesquecíveis a juntar ao panteão, quer desenhados quer em carne e osso. É o Monsters Inc. para adultos, que por ser tanto acaba por ficar ligeiramente aquém: um gajo quer sempre mais monstros foda-se, já deviam saber isso. Tomem lá monstros:
Dead End, mais idoso, apresenta a clássica situação da estrada, das voltas, dos labirintos e dos fantasmas. Num carro, com cinco protagonistas, como uma peça de uma loucura crescente, surpreendentemente fresca. É extradordinário, que com tanto em cima, com tanto já visto, o mecanismo simples de adeus ào norte consiga manter o susto acordado e consiga, no final, conquistar. Rei e senhor deste sub-sub-sub género.
sexta-feira, 27 de março de 2015
Então claro, acaba lá isso que eu espero
Anda tudo um bocado chateado. Ou então só um escriba qualquer que generalizou, à la Jornal da Noite. Seja como for, parece que os thronies andam de birrinha porque a série vai passar a perna aos livros. Ora vamos lá ver uma coisa, sem palavrões: aquela merda já é mais lenta que um cavalo marinho, se ficarmos à espera que o gordo termine os livros, nem daqui a vinte anos. O homem é só donuts, e quando lança uma obra nova, ela cronologicamente acontece ao mesmo tempo que outra que já foi lançada nos anos 60. Por amor de deus malta, andamento. Os livros depois ficam para pisar papéis ou para chegar às prateleiras mais altas.
Boom!
O maior desafio, num conjunto de peça soltas, é encontrar unidade, mantendo-a incógnita. Sem adereços de ligação ou "ah que agora faz sentido". Isso vem, debaixo da pele. Wild Tales parece acertar em tudo, até na ordem desordenada de seus contos. Histórias onde pessoas se passam da cabeça. Rebentam. Num fundo é isso, mais ou menos burlesco, mais ou menos sórdido, são eus e tus no limite. Sempre mais longe, com traços quentes mas suficientemente distintos para debate, para favoritismos ou longos porquês. O casamento final é maravilhoso, mas não consigo esquecer o duelo na estrada. E com acontecimentos tão frescos, como o homem que rebentou a segurança social ou o que despenhou o avião, não conseguimos de facto apagar a importância alerta. Como prenúncio de uma sociedade. É um Black Mirror, sem os artifícios da tecnologia.
segunda-feira, 23 de março de 2015
Os finais do tio
House of Cards foi fraquito não foi? Muito Doug, muito hacker insuportável, muita caracoleta e pouco andamento. Algum dia tinha de ser. Sabíamos bem que a escalada era mais interessante que a montagem da tenda, lá no pico. Fiquei também meio azedo com o final: o Frank ganha sempre foda-se, nem que lhe desse um tiro, para fingir atentado, alguma coisa, mas ele ganha. Não fica assim a coxear de boca aberta. Enfim, para ano logo me dão miminhos, espero. Entretanto para compensar, outros campos apresentaram-se bem mais fertéis e apetecíveis. Chegando mesmo a provocar gritinhos de pita. Man Seeking Woman, com uma temporada inacreditável, de desafio em desafio, impossível em impossível como se a comédia nunca tivesse deixado de ser. Reinvenção impensável, tricotada com um detalhe que rói a alma de inveja: final com time travel. Melhor, do ano, sempre, bla, bla, bla. Obrigatório, como The 100, a nova fé das sagas, das grandes histórias pós apocalípticas de ficção científica. Mais difícil de vender, devido ao seu aparente embrulho juvenil (e algum bad acting), é o melhor produto desde Lost e Battlestar Galactica, sem grandes conversas ou papas na língua. Despachada e com uma mitologia envolvente - potencial infinito - que nos leva desde os grandes conflitos humanos - e o que é nosso, que são os nossos? - até à inteligência artificial. E malta com nomes para decorar, e um genérico bonitinho, e, e, e. Falta Black Sails eu sei. Termina para a semana, podemos então combinar à mesma hora?
terça-feira, 17 de março de 2015
Entrevista do mestre
Tenho a plena noção: no dia de salvar a blogosfera, lutar por ela, rebentar com umas cabeças, foder uns cyborgs à metralhada, o Pedro será sempre o nosso John Connor. Entrevista essencial aqui.
5 coisas que não sabias sobre As Cinquenta Sombras de Grey
1. Jamie Dornan tem na verdade os dois olhos iguais. O facto de parecer que é meio zarolho, ou olho preguiçoso, ou uma merda qualquer, foi opção do estúdio. Aparentemente, colocá-lo meio defeituoso acentua o seu lado frágil, e as gajas adoram.
2. O Grey não fode. Ele diz que fode. Pode parecer que ele fode. Mas vá lá, aquilo não é foder. E aquilo não são palmadas. Mas voltando ao foder - e é uma incrível experiência de cinema partilhar esta coisa com outros - quando ele diz para a Anastasia que só fode, o cavalheiro atrás de mim, com a sua subtileza e charme disse: ah pois, é só mesmo para derrubá-la. Maravilhoso.
3. Existem inúmeros easter eggs ao longo do filme. Por exemplo, quando ela está na cozinha a fazer panquecas, ou bolos, ou cenas, em cima do balcão está o picador de gelo do Basic Instinct. Ou por exemplo no painel de parede do quarto onde ela dorme sozinha está muito bem definida a silhueta de Elizabeth Berkley, referência subtil a Showgirls. No mesmo quarto está bem a bola da Pixar, para desanuviar.
4. Dakota Johnson utilizou uma dupla de pêlos púbicos porque na verdade ela costuma rapar o pipi.
5. Já estão a preparar um segunda trilogia que irá contar a história de como é que o Grey ficou assim malino do sexo. É uma prequela que começa com ele em pequenino e termina com ele a construir o quarto do prazer. A má é aquela velha que nunca aparece e os bons são outros pequeninos que também são abusados.
O sapo e a sanguessuga
O filme de animação Epic processou o filme de fantasia Sócrates e o Cheque Secreto. O primeiro acusa o segundo de plágio descarado de Bufo, "João Araújo é de facto uma personagem incrível mas que foi copiada, quase ao detalhe, do nosso sapo", diz o produtor. De facto, de facto.
sexta-feira, 13 de março de 2015
Um homem como eu
Imaginem um homem como eu. Um dia, a conseguir escrever um sério texto. O mais difícil, e o que distingue um fenomenal crítico de cinema dos restantes: encarar qualquer bacoquismo, com o mesmo ângulo, que se aborda qualquer obra prima. Elite, que muito admiro, imaginem, eu, um dia. Agora faltam sacos para agarrar tantas compras e disparates. O que dizer de Virados do Avesso? Há quem realmente consiga mas aqui a vontade é brejeira. É um filme maricas, não nas orientações sexuais, mas no medo com que trabalha as mesmas. Sempre acorrentado aos jargões populares, o que acaba por ser irónico: um filme sobre homossexuais ser a película mais machista que o cinema português alguma vez pariu. Bichas e grandes machos, o mundo é isso, muitas mamas e cus, femininos, porque o resto, o real, já não vende. É claro que a ideia é boa, é claro que existiu ali em tempos um argumento megalítico fresco e com potencial, que rapidamente se degradou na montagem looney tunesca e na piada do calipo. O pior da televisão a surgir num formato sem comando. O que acaba por ser inglório para um aparelho que tem combatido a regularidade e oferecido as peças mais originais e criativas do humor português na última década. Odisseia, por exemplo. E pronto, é mudar de canal e ficar com o cu olímpico duma e as mamas da outra. Arrotar a seguir, um homem como eu, não eu.
Racistas da treta
Hoje não me deixaram entrar numa barbearia porque ainda não tinha terminado a temporada 3 do House of Cards.
quinta-feira, 12 de março de 2015
Afinal não passou
Ainda ontem tinha lido que não. Cervejas, cervejas, e algum vinho, para a festa. Afinal tudo em vão. Frozen 2 a caminho. Ponham os capacetes rapazes, acendam os fósforos, the winter is coming, again and again.
quarta-feira, 11 de março de 2015
Sou ou não sou?
Foda-se mas como é que eu agora vou provar que não sou um robô? Será que esta malta não viu o Blade Runner?
A cidade da minha televisão
O som da comédia
Permitam-me começar, a sair. Vou ser breve. É uma história de cinema. Vão ver que faz sentido. Begin Again, a mais recente obra de John Carney (Once), oferece Nova Iorque ao som da canção. Utiliza esta para transformar a outra. A cidade como personagem, construída aos olhos de quem a ouve. Somos nós, nossos leitores, nossas playlists, nossos passos e encontrões que a redesenham num contínuo que nunca fecha. Nunca dorme. Os dois protagonistas andam perdidos pelas ruas, partilhando o som, através de um adaptador, e dividindo pela primeira vez a experiência. No final, sentam-se no passeio e ele desabafa: como a música tem o poder de transformar qualquer cena banal numa pérola. É a arte a roubar descaradamente os espaços e a dar-lhe novos contornos. Furtar à vista de todos Nova Iorque, erguê-la à sua medida. Assim a música, e nossos dias. Assim a comédia, e os mesmos nossos e os mesmos dias. Em concreto a grande maçã no pequeno ecrã. A rimar e a concluir com esperado sucesso este raciocínio, que sim reconhece uma enorme variedade de abordagens, mas que não, não encontra outra casa como o riso.
O mar é infindável quando procuramos séries televisivas ambientadas em Nova Iorque, de cabeça ou de teclado. A lista é gorda a cada década que passa. E são claras as sirenes. O policial que aproveita o cinzento para dele descobrir seus casos. Usando nalguns casos, descaradamente o N e o Y como bandeira. NYPD Blue (1993) e CSI: NY (2004) por exemplo. A primeira correu durante doze anos e terminou pouco depois da segunda arrancar. Que por sua vez lá se esticou em nove temporadas. Não existiam nelas dúvidas da sua presença. É ali, gritavam no genérico, nas cores e no tempo, para que fosse impossível pensar na fuga. Movimentos rápidos da pistola à procura do suspeito rimavam com os acelerados desvios da câmara. As sequências aéreas de magnitude que depois se fechavam nos apertados becos chuvosos. Castle, Rescue Me, Law & Order, Elementary, Person of Interest, Without a Trace, Blue Bloods. É difícil descolar com tamanha imposição azul, com a força de intervenção, mas estamos em última instância a falar mais na forma. Não tanto nos vasos sanguíneos. Na incorporação das ruas nas veias, do metro nas artérias. Isso galopamos num único sentido, o da comédia.
O mar é infindável quando procuramos séries televisivas ambientadas em Nova Iorque, de cabeça ou de teclado. A lista é gorda a cada década que passa. E são claras as sirenes. O policial que aproveita o cinzento para dele descobrir seus casos. Usando nalguns casos, descaradamente o N e o Y como bandeira. NYPD Blue (1993) e CSI: NY (2004) por exemplo. A primeira correu durante doze anos e terminou pouco depois da segunda arrancar. Que por sua vez lá se esticou em nove temporadas. Não existiam nelas dúvidas da sua presença. É ali, gritavam no genérico, nas cores e no tempo, para que fosse impossível pensar na fuga. Movimentos rápidos da pistola à procura do suspeito rimavam com os acelerados desvios da câmara. As sequências aéreas de magnitude que depois se fechavam nos apertados becos chuvosos. Castle, Rescue Me, Law & Order, Elementary, Person of Interest, Without a Trace, Blue Bloods. É difícil descolar com tamanha imposição azul, com a força de intervenção, mas estamos em última instância a falar mais na forma. Não tanto nos vasos sanguíneos. Na incorporação das ruas nas veias, do metro nas artérias. Isso galopamos num único sentido, o da comédia.
Quem és tu miúda?
Broad City foi uma das grandes revelações de 2014, presente em qualquer top que se preze, armando ou não os cucos. Revelação, pequena maravilha, hilariante, os adjetivos seguiam em fila indiana, servindo pois para alertar os mais despistados. A série criada e protagonizada por Ilana Glazer e Abbi Jacobson, e produzida por Amy Poehler, estreou no início desse ano no Comedy Central, e dá continuidade à websérie de mesmo nome que arrancou em 2009. Duas amigas, nos seus vinte e tais, em Nova Iorque. É esta a premissa. Minto, é um bocadinho mais citadina: comédia estranha sobre um casal de gajas (broads), melhores amigas, que passeiam os seus vinte anos em Nova Iorque. Falidas e falhadas, não dizem não às situações complicadas que a cidade lhes impõe. Cidade de gaja, cidade das gajas, é por aí, resume bem a situação. E a especificidade necessária para que exista de facto tudo dentro deste enorme nada, natural e realista. O cenário passa a motor essencial, não só na sinopse e título mas na verdadeira orgânica narrativa. É o terceiro elemento, tão vivo e esperto como todos os outros, a colidir incessantemente nas peças que se deslocam baralhadas, e azaradas. Tão ou mais importante que a carne e osso. É que feitas as contas é a sua magnitude e diversidade que tornam possíveis as situações, relações, e consequentemente as características das personagens. Um lugar de tudo e de todos cria usualmente os habitantes insensíveis, sarcásticos, cáusticos, perdidos e sem horizontes. Exatamente o oposto do sonho americano, de lá tudo ser possível. Exatamente o oposto da abordagem trinto-quarentona de Sex and the City. Onde as quatro amigas passeiam os seus sapatos de salto alto e o seu sucesso, pelas ruas bem mais ficcionadas e coloridas. Saímos do realismo para o consumismo, porém sem nunca sair de lá. É outra vertente, bem mais apelativa a um estilo de vida, ou só ao estilo. À emancipação feminina na forma de notas, carreiras e encontros amorosos. Muitos encontros amorosos. Nova Iorque possibilita o acaso, o anonimato, e as relações em catadupa. A libertação e liberalização do sexo, girl power, como gritavam as Spice Girls. A série da HBO e sua febre já todos nós provámos: seis temporadas, dois filmes e uma série prequela (The Carrie Diaries). Também todos nos lembramos das ousadas cenas de sexo do quarteto, umas com mais sexo que outras, mas todas a despir e a marcar uma época. À imagem da mais recente aventura feminina do mesmo canal Girls, que viu recentemente um dos seus episódios causar pesada polémica. O número um da quarta temporada ofereceu uma arrojada cena de sexo anal/oral que deixou todos a falar. Longe demais ou na mouche (sem segundas intenções) foram as ondas que se seguiram caindo na areia, sobre o momento protagonizado por Allison Williams e Ebon Moss-Bachrach. A série de Lena Dunham sempre foi desenvergonhada no que toca à nudez, sexo, linguagem. Como a casa a mãe, alvo de um delicioso vídeo satírico que terminava com a frase “it´s not porn, it´s HBO”. Quatro amigas, a tentar a sorte na cidade grande. Parecido no número a Sex and the City e idêntico nos dilemas geracionais a Broad City, Girls acrescenta algo mais à interface rapariga-cidade. Sai do assumido campo da comédia e mistura-o com o dissimulado campo do drama. A comédia da vida, que às vezes não tem piada nenhuma, atirando para o fundo uma série de ambições e vontades. Passeando mesmo na lama. Constatando demasiado cedo os falhanços e a reação ausente aos mesmos, deixar andar, no dia-a-dia. Egoísmo do grande anonimato mas também os sonhos, a dicotomia campo-cidade, deixar tudo para amadurecer. Como uma velha canção, é a bofetada mais acertada, não apenas sobre raparigas, mas sobre todo um conjunto de seres humanos procurando desesperadamente algum significado.
Amigos (da onça)
Friends será sempre rotina. Por muito que não se queira, onze anos depois a série continua presente. Nos espaços, nas conversas, nas deixas, nas televisões e eternas repetições. Até aqui, ou não tivesse a última Take dedicado acentuado parágrafo aos seis amigos. A propósito da longevidade da mesma, dez aninhos. Agora voltamos à carga, ou não fosse esta uma peripécia nova-iorquina. Muitos cenários, muito estúdio, mas os pequenos separadores levavam-nos automaticamente para a rua. Contexto, como o Washington Square Arch que lá nos indicava mudança de cena. Foi o início do rastilho. Uma abordagem mais ingénua e facilitista, que serviu de percursor aos murros que atualmente levamos. Evoluindo, para o real, como a própria comédia. Não deixa porém de ser o caótico vendaval que permite depois a figura do reencontro, naquele famoso apartamento ou café. Ou no bar, se saltarmos sem misericórdia para How I Met Your Mother, série que se despediu do público em 2014. Isto depois de uma promessa que demorou nove anos a ser cumprida. Uma resposta que foi sendo adiada, adiada, adiada, adiada, para bem da indústria, para mal dos fãs. É difícil manter frescura, mesmo com a cidade na mão. Apesar disso o gangue dos cinco criou momentos lendários, com as histórias dentro das histórias, sendo a aleatoriedade do movimento a funcionar como motor. É o coração do país, e da identidade cultural. Inúmeras as piadas a respeito da personagem canadiana (Robin) ou inúmeros locais icónicos a servir por sua vez de piada (a famosa manobra de Barney no topo do Empire State Building onde se aproximava de uma rapariga sozinha e com ar desesperado e proferia a frase: ele não vem). Uma estirpe de comédia que unificava cada uma das personagens, nas suas idiossincrasias e peculiaridades, que divertia mas que nunca aleijava. O lado melhor, mais ficcionado e artificial. Cheirava mais a cartão que a verdadeira, única e ácida. O grupo nova-iorquino que terá para sempre a estátua, o pódio, o prémio. Seinfeld, claro está. Não é por acaso que o canto do cisne os retira aos quatro da cidade grande e os coloca na cidade pequena. Numa vila, aldeia, noutro lugar, fora do aquário. E também não é por acaso que é lá que eles são presos e julgados, não apenas por não terem ajudado uma pessoa mas por tudo o que fizeram no passado. A lei do bom samaritano, foi essa que eles não respeitaram, que eles nem sabiam que existia. Porque as suas leis são outras: nova-iorquinas. Só a metrópole para produzir tamanho egoísmo, ou melhor, só a metrópole para trazer à tona tamanho umbigo. Porque para além de produzir, há o incomparável fator espelho que nos seduz, que nos envergonha e sinaliza. Somos assim de facto: pobres de espírito, mesquinhos, sovinas, maldizentes, ruins, podres. Mordazes, irónicos, críticos, críticos, críticos e críticos. Era essa a genialidade deste nada: recorrer ao enorme para concretizar o muito pequeno. Os locais, as peripécias, o saltitante sonoro, são conjunto que definiu não apenas uma década mas uma forma de ver e sentir a cidade. Cada um por sim, prenúncio do fim. No fundo o que Louie já percebeu há algum tempo: que a vida é uma cidade solitária, onde de vez em quando tentamos ter piada.
Texto publicado na Take New York.
terça-feira, 10 de março de 2015
Vamos lá acabar com a palhaçada
Take New York
It´s up to you. Cidade viagem, dos sonhos deste bom cinéfilo. Cenário de tanta coisa, de tanto imaginário que merece esta vénia, para que não se dissipe no infinito. New York, New York.
sábado, 7 de março de 2015
Cerelac - O Filme
Depois do franchise dos jogos chegou a vez das papas. O que não só possibilita trocadilhos como "um filme sem papas na língua" como também abre todo um universo de bens alimentares, nunca antes explorado pelos estúdios. Ao que parece a Universal tem já desenhado um plano meticuloso de abrir a boca e deixar entrar colher:
2016. Cerelac - The Movie
2017. Nestum - Rise of the Honey
2017. Pensal - Barley of Darkness
2018. Cerelac - The Movie 2: The return of Marie Wafer
2018. Maizena - Episode I
2019. Nestlé Expert - SINLAC
2020. Nestum 2 - Saving Private Wheat
Limpar a parede
Seguindo as pisadas do meu comparsa Carlos, colocarei em curso uma limpeza bruta da barra lateral. Quem quiser lá morar é só deixar o link nesta caixa de comentários. Com um beijinho vá, para não ser assim tão seco.
sexta-feira, 6 de março de 2015
Inesperada risota
Com Man Seeking Woman já renovada, e cada vez melhor, aparece The Last Man on Earth. E de delírio atrás de delírio vamos aquecendo de novo a fé.
Pouca bandeira
O que é uma pena. Pois a nível de conteúdo, ou sendo sincero, premissa, o último livro é o mais composto. Não só na luta mas no modo descrente como a mesma é feita. Cada vez mais em círculos, como as coisas de hoje. Daí a importância. Que é dividida, arrastada e pouco entendida. Fica a galhofa, o último dos remédios.
segunda-feira, 2 de março de 2015
Um novo conceito
Cartas da Alma é o melhor programa de apanhados que não é programa de apanhados de sempre. Comédia, mas comédia daquela dói dói no maxilar. Domingos, terças e quintas, TVI, claro. Às tantas, também claro. Uma senhora, Michelle qualquer apelido, astróloga, atende os mais diversos telefonemas de ouvintes à procura de resposta para os seus problemas. O problema é que a Michelle é possivelmente a pior astróloga do mundo: pede a data de nascimento, insere-a num portátil e olha para um software sinistro, mapa astral diz ela. Depois não diz nada, e se a pergunta for difícil lança dois dados verdes e um azul. Ah pois posso-lhe dizer que vai ser um processo moroso. Posso-lhe dizer para não pensar tanto nisso. E depois quando se tenta perguntar mais alguma coisa ela desliga, só tem direito a uma pergunta. No entretanto, canto superior direito, uma balofa de nome Morgana faz sessões privadas de tarot. É preverso. É indecente. É hilariante.
E no final
Ver os filmes dos Óscares depois dos Óscares é como ir ao Algarve em dezembro, um descanso. Sem os quilogramas diarreicos do vale o que vale, das hipóteses impossíveis ou das teorias da avó. Filme por filme. Assim American Sniper, sem valores ou rigores exacerbados. Pesada a cabeça do chapéu verídico. E o bebé, esqueçam lá isso. Patriota? Claro, mas que querem de um filme com a palavra "americano" no título? Uma visão mexicana da coisa? É certinho a um lado mas sem nunca o forçar em demasia. A obessessão e a violência presente no corpo permitem um distanciamento, uma certa escolha. O stress e o som, especialmente o som, denunciam em demasia o mal estar - The Hurt Locker nunca precisou de tamanhos artifícios para contar o vício - coxo na criatividade do realizador. Que por outro lado não esqueceu o valente ritmo. Só por aí já ganha. E mesmo que se volte à corrente do "god bless America", não nos conseguimos esconder da ironia do desfecho. Essa é a guerra a retirar, a guerra do todos contra todos, onde todos perdemos.
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