sexta-feira, 13 de março de 2015

Um homem como eu

Imaginem um homem como eu. Um dia, a conseguir escrever um sério texto. O mais difícil, e o que distingue um fenomenal crítico de cinema dos restantes: encarar qualquer bacoquismo, com o mesmo ângulo, que se aborda qualquer obra prima. Elite, que muito admiro, imaginem, eu, um dia. Agora faltam sacos para agarrar tantas compras e disparates. O que dizer de Virados do Avesso? Há quem realmente consiga mas aqui a vontade é brejeira. É um filme maricas, não nas orientações sexuais, mas no medo com que trabalha as mesmas. Sempre acorrentado aos jargões populares, o que acaba por ser irónico: um filme sobre homossexuais ser a película mais machista que o cinema português alguma vez pariu. Bichas e grandes machos, o mundo é isso, muitas mamas e cus, femininos, porque o resto, o real, já não vende. É claro que a ideia é boa, é claro que existiu ali em tempos um argumento megalítico fresco e com potencial, que rapidamente se degradou na montagem looney tunesca e na piada do calipo. O pior da televisão a surgir num formato sem comando. O que acaba por ser inglório para um aparelho que tem combatido a regularidade e oferecido as peças mais originais e criativas do humor português na última década. Odisseia, por exemplo. E pronto, é mudar de canal e ficar com o cu olímpico duma e as mamas da outra. Arrotar a seguir, um homem como eu, não eu.


Sem comentários: