Ui que isto ficou de noite bem rápido. Ainda ontem a vermos o Pierce Brosnan a rebentar com metade de São Petersburgo enquanto ajeitava a gravata e agora chegamos a este tanque cheio de alma, pecados e remorsos. Se olharmos agora para o quinteto Craiguiano de facto existe uma riqueza e verdade nunca antes empregues ao corpo do agente secreto. Uma sensibilidade que se foi acentuando, na continuidade dos desgostos, das vinganças, das peças que se iam assentando, como um jenga que agora cai. E nesse sentido, No Time to Die cai bem, com aquele nevoeiro purgador, na penumbra, no limbo de uma fotografia cuidada, de ação viva e bem distribuída. Imagina um homem como tu, já dizia a música e diz agora a saga. E a questão é: faz sentido abdicar daquele lado desmiolado, das one-liners, das grandes cidades, das bond girls más como às cobras, de cada filme a viver para si só? Para o puro divertimento? Se calhar faz, se calhar era esta a ordem natural das coisas mas como fã que cresceu na era Brosnaniana custa-me chegar a um final tão preocupado com os hashtags e as gavetas, tão milimétrico nos seus diálogos e na sua vontade de mudar. Não precisamos de cair no machismo dos 60/70 para termos sarcasmo, gadgets, diversão, vilões à altura (que não sejam o Freddie Mercury e que não tenham um plano escrito por um orangotango por favor). Não precisamos de ter um laser gigante seguido de surf no gelo mas há um meio termo, há um meio caminho e acho que é lá que está o meu James Bond.
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