sexta-feira, 9 de julho de 2021

Filmar o tempo

Sai do carro. Primeiro, distrai-se com um avião a cruzar o céu, rasgando a traço branco o fundo azul. Depois vai apanhar algumas flores, num monte de folhagem seca que ali repousa. Ao retirar a última, uma lata adormecida cai para a estrada. O homem olha para ela e, reguila, dá-lhe o toque. Lá vai ela rua abaixo, primeiro para a direita e depois curva suavemente à esquerda até bater no passeio. E nós podemos assistir a tudo. Close-Up, o meu primeiro Kiarostami, é um inteligente e intrincado docudrama sobre uma pessoa que se faz passar por outra, recriado e interpretado pelos intervenientes reais, num jogo de espelhos que desafia formatos e convenções. Porém, é este compromisso com o tempo, com a espera - enquanto lá dentro tudo acontece - que me faz querer ver mais, saber mais e olhar mais.

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