segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Caminhos do Cinema Português - Sobe o calor

Não subiu calor algum. Estava a chover, frio nos pés. Mas nada disso tira a pinta de um arranque lá em cima, com a melhor vista do mundo sobre Coimbra. Atrasos (a)normais de gala, feedback nas orelhas e lá vamos. Curta Banho de Paragem, produto do 5º curso de Cinemalogia, também a cargo do festival, apesar de muito apressada e pouco fluída, revela algumas boas ideias. Especialmente o final, o enquadramento final. A seguir #Lingo, uma curta de animação sobre o poder das redes sociais, bem desenhada - muitíssimo bem desenhada - mas demasiado evidente, especialmente na tragédia. Eu sei que é trágica a ausência do presente, todos sabemos daí talvez precisarmos de outros avisos. Apesar de tudo positivo, é fodido fazer cinema e as curtas são esse esgar desesperado que eu tanto admiro. Depois a cereja do título, sobe o calor, música de Sérgio Godinho que dá o mote para Refrigerantes e Canções de Amor, ou como os outros lhe chamam, o filme do Markl. Escrito por ele, realizado por Luís Galvão Teles, conta a história de um coração partido que faz músicas para anúncios de refrigerantes e que se apaixona por uma dinossaura cor de rosa. E é em larga escala que começo, despachando, não o extinto, mas o vivo elefante: o filme mostrou-se todo nos trailers! Vendeu-se do início ao fim na promoção, todas as cartas, como se fosse preciso apregoar diferença e irreverência. Não é, deixem-nos chegar lá, deixem-nos também participar convosco. Toda a narrativa sofre, numas áreas mais que outras, deste escancaramento. Por exemplo, precisamos de ter um motivo para ela não querer sair do fato? Temos de ter razões para as nossas carapaças? Demasiado foco em mostrar e não tanto em fazer, em deixar ser, o que cria falta de ligação e fluidez, especialmente entre os dois grandes antagonistas, as duas grandes linhas. Mas, mas, é uma comédia bem disposta, com canções do caraças e que faz uma coisa difícil: não ofende. Não nos leva na brejeirice e piada fácil, do mecânico, do arroto, e dos virados do avesso. É levezita, com centenas de referências porreiras, alguns momentos muito bem conseguidos - o diálogo do hitman é um deles - e depois um supermercado como cenário. Só aí, para mim, é uma estrela. Moral da história: que fossem todos assim. E que um gajo saísse sempre de alma quente a trautear a melodia.

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