segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Cinema Animal - Falcão

Cinema Animal é a mais jovem rubrica do Créditos Finais. Como se fosse o pequenino raptor a sair do novo, naquela cena. Mas que cena é esta então? Sem aborrecer, trata-se de um desafio proposto a três ilustres da blogosfera nacional, onde eu digo o animal e eles o filme. Basicamente é isto. Assim eu pergunto FALCÃO. Ao que vocês respondem...
 

Luís Mendonça

 
A primeira tentação seria dizer logo: "Kes". Mas não, esse filme tem um falcão mas não É como um. Entenda-se: falcão como ave de rapina. Ela sobrevoa, aos círculos, a presa até desferir a golpada imisericordiosa. Só podia ser um filme de… ou o próprio, inteiro, integral, despido na sua desfaçatez, na sua bicuda, afiadíssima, mais-que-cortante, presença: Erich von Stroheim. O filme é "Blind Husbands", onde um oficial austríaco vai iniciar a sua caça furtiva: a inocente mulher casada com um cirurgião, que está tão cego quanto à vulnerabilidade da mulher ante presas impiedosas que de cima a sobrevoem como pelo amor que devota a esta e à sua profissão. É um homem íntegro, mas Stroheim interpreta um homem integral, quase animal, e... militar. Militar no seu desejo pela caça, no seu apetite pela mulher alheia - a melhor das peças! -, militar também na sua determinação em ir até ao cume da desfaçatez e lançar-se em pique para abocanhar e desfazer em pedaços o mandamento: "não cobiçarás a mulher do próximo". O amor é cego, o marido especialmente, mas Stroheim, o destruidor de lares, vê e ataca como uma lança a boa moral cristã. Como uma lança não, como um falcão!
 

Edgar Ascensão

Brain-Mixer
Calhou-me na rifa um animal majestoso, hipnotizante e complicado. É complicado, não em feitio (que como é certo, nunca socializei com nenhum até hoje) mas em termos triviais: Quantos filmes com falcões consegue um cinéfilo enumerar? Eu lembrei-me do Manimal, mas queria afastar-me de séries televisivas, e principalmente desta série...

Enquanto retirava da memória close-up's de panteras e cavalos dos anos oitenta, a mente divagava para Spielberg. E o seu Tintin de 2011 abriu-se-me.

O falcão é co-protagonista da melhor cena de acção do filme (e quiçá desse ano), onde um plano sequência leva os heróis de uma barragem no alto do monte até à beira mar de um país oriental. Espalhando especiarias pelos ares arábicos, detritos imobiliários por água abaixo e arrastando militares destravados por ali abaixo, e as garras desse falcão que não deixam Tintin sorrir nem um pouco no fim desta perseguição completamente insana. Agarra daqui, escapa dali, lá vai o precioso papel...

É certo que depois o falcão sai de cena e não tornando a aparecer no filme, mas deixa a sua pegada como um bicho francamente temperamental e persistente. Que diabo, se eu sempre vi "The Adventures of Tintin - The Secret of the Licorn" como um digno sucessor de Indiana Jones, quanto mais o viria como o verdadeiro quarto capítulo que Spielberg deveria ter realizado. E daí virão as óbvias comparações com os bichos da trilogia do Homem do chapéu, onde se junta às cobras, insectos e ratos para nos deixar com comichão, desprezo e olhar inflamado.

Pedro Andrade


 
Assim que o desafio me foi lançado, e o animal atribuído, que não tive qualquer dúvida sobre que filme iria escrever. Falcão fora a escolha, Millennium Falcon a associação imediata.

A primeira trilogia de “Star Wars” a ser produzida está, e sempre estará, no topo das minhas preferências no que toca a cinema. Não porque considere os filmes obras-primas (longe disso). Não por lhe reconhecer um papel de grande importância para a História do cinema norte-americano (e tem-lo e reconheço-lo). Não por ser uma das principais referências da cultura pop (que é e sempre será). Não por serem dos filmes mais populares de sempre e seguramente não pelo simples facto de serem populares. Não, a minha paixão para “Star Wars” reverte-me para a infância, altura em que mais do que um filme era uma oportunidade para viver uma aventura nos dias mais cinzentos e numa altura em mais do que personagens, o Luke, o Han, a Leia e companhia, eram companheiros, amigos, irmãos.

Não é fácil crescer num sítio onde as possibilidades de amizades se contam pelos dedos das mãos. Nem é fácil crescer na solidão. Muito menos é fácil crescer sem perceber bem que alguém que nos deixou não volta mais. E aquelas VHS, aqueles três filmes gravados da RTP, eram o meu outro lado do espelho. Estava sentado no jardim e não vi qualquer coelho a passar. Vi um falcão. Segui-o, não por um buraco mas por entre as estrelas e lá fui até uma galáxia muito, muito distante.

4 comentários:

Luís Mendonça disse...

Obrigado Miguel, pelo convite. Abraço,

Miguel Ferreira disse...

Obrigado eu Luís, pela disponibilidade e fantástico texto!Abraço

brain-mixer disse...

Foi rápido! E foi fixe que foram todas escolhas bastante diferentes :)

Miguel Ferreira disse...

Sim é muito interessante - e por vezes ao contrário ao que seria de esperar - nunca existir sobreposição. Cada qual com o seu cinema! =) Obrigado Edgar, por mais este contributo, excelente!;) Abraço