terça-feira, 7 de dezembro de 2021

The Expanse - Temporada 6

Nunca fui muito bom em despedidas. Por isso até calha bem, uma temporada que não sabe dizer adeus. Ou então somos nós, que não sabemos deixar ir. É difícil perder para o espaço uma viagem destas, cheia de imprevistos, cancelamentos e missões de socorro. Foi um gozo percorrer estes anos. Ir percebendo que os lugares nos eram cada vez mais comuns. Que já sabíamos de cor o nome daquela malta toda e que só nos faltava o emblema de tripulação. The Expanse soube trabalhar esse jogo de conquistas, de nos ganhar e de se encontrar. Sente-se muito a força e empatia dos envolvidos; a dedicação quase caseira (ou terrestre) em cada troca.

Nesta sexta temporada creio que isso nunca esteve tão assente. Ao contrário do tomo anterior, onde tínhamos a maior parte dos protagonistas dispersos pelo sistema solar, em diferentes frentes, este apresenta o grupo de novo reunido. A Rocinante volta a ser o coração da ação e uma das últimas esperanças da Terra contra os contínuos ataques meteóricos/terroristas de Marco Inaros (Keon Alexander). Essa desolação de um planeta quase à beira do fim sente-se muito na luta: James (Steven Trait), Naomi (Dominique Tipper), Amos (Wes Chatham), Bobbie (Frankie Adams), todos eles estão cansados. É claro o peso, o desgaste; nas costuras, nos diálogos. Esse lado intimo, de propósito e redenção, está estupendo. E consegue-se muito bem passar o testemunho de Alex (Cas Anvar) (sem o esquecer) para as mãos de uma seguríssima e discreta Clarissa Mao (Nadine Nicole).

Mas não são só os Roci a quebrar. Camina Drummer (Cara Gee) continua roubar todos os frames e tem possivelmente a desenrolar a cena mais desarmante do seu périplo (e uma das melhores de toda a série). É o fim da linha, numa interpretação majestosa que encontra em Chrisjen  Avassarala (Shohreh Aghdasloo) uma adversária à altura: o jogo de forças entre ambas, Terra e Cinturão, dão todo aquele creme político que não podíamos dispensar.

Todos estes tempos de estratégia são pontuados, de forma muito equilibrada, com inesquecíveis batalhas espaciais. Gostava imenso que estes mastodontes cinematográficos como os últimos Star Wars perdessem uns minutos a ver uma destas cenas para perceberem como se faz. É daqueles bailados que só recuando aos saltos do Battlestar Galactica. O modo como as naves entram e saem de campo, rodopiam, perseguem, é de tal forma intenso e bem editado que a imersão é total. Destaque claro para o conflito (chave) em Force Projection (episódio 3) e aquele "ataque ao castelo" de Babylon's Ashes (episódio 6). Sequências que não só mantém a intensidade como a violência, continuamos com cabeças a explodir, membros decepados e tudo o resto a que temos direito.

Olhando agora para a fação que não me conquistou (nem antes, nem agora), chegamos à Free Navy. Marco Inaros continua a ser um vilão demasiado hiperbólico, naqueles trejeitos de imperador unidimensional. Já o seu filho Filip (Jasai Chase Owens), caiu num caldeirão de incerteza em pequenino. Não há paciência. Existem tantos avanços e recuos na sua postura, nas suas crenças, que nunca o conseguimos verdadeiramente acompanhar. Mesmo a nova personagem, Rosenfeld Guoliang (Kathleen Robertson), braço direito de Marco acaba por nunca conseguir sair daquele loop de gritos e ditos de guerra. A Pella merecia mais.

E toda aquela frota marciana que deu apoio a Inaros acaba também por ser remetida para segundo (terceiro, quarto?) plano. O mistério da Barkeith é utilizado, sim, mas tudo o resto encaixa no arco paralelo de Laconia: as introduções desta temporada remetem-nos para a novella Strange Dogs, lançada em 2017. Não é que eu não goste daquele ambiente The Lost World mas o conto acaba por não ser mais do que uma introdução a algo (um spin-off?). Não há qualquer encaixe na narrativa central e acaba por ficar esse amargo pendurado. Preferia ter visto esse tempo investido em novas personagens, novas intrigas. 

Mas no fundo, e como disse ao início, para um fã aselha em despedidas talvez o mais indicado seja mesmo um universo que só consegue dizer até já.

[O meu muito obrigado ao Diogo e à Amazon Prime Video pelo envio antecipado dos episódios]

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