sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Corre, John, Corre!


Reduzir John Wick: Chapter 2 ao número de balas é como circunscrever Mad Max a uma perseguição. A viagem, existe viagem, existe experiência, sumo e lucro. Não é isso que vem no bilhete? Ai é: uma edição tão cuidada e delicada, aparentemente descontraída que até uma gargalhada serve de raccord. O mais irónico é que o próprio filme se tenta reformar, como a personagem, descartar do seu papel, tentar aborrecer naquela centena, mais, de crânios a rebentar. Não consegue. Não consegue porque - e aqui amigos é que John Wick assume o estatuto de lenda - existe enquanto personagem do seu próprio filme. Num plano paralelo, suspenso no real, entre as gotas dos dias, sem ninguém se meter, sem ninguém tocar: como no final que todos param, todos são espectadores à espera que o último herói de ação desapareça. Ele foge, como espécie em extinção. Nós, ainda embevecidos, gritamos: corre, John, corre!

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