10 – Friends
Enquanto uns são esquecidos, outros são constantemente recordados. Nunca saem realmente de moda, quer nas reposições, referências ou visibilidade dos protagonistas. Terminaram há 20 anos, mas todos os anos lá temos novas listas, novos momentos, novos rumores de reunião e, claro, nova maratona dos episódios todos de seguida, que usualmente termina em desidratação e urgências. Mas não deixa de ser muito engraçado. Não é, mas prosseguindo, de todas as celebrações dos 20 anos esta é capaz de ter sido a mais notada, falada e comentada. Para onde quer que se olhasse lá estavam eles, citações, abraços, choradinhos e aquele fado de que nunca mais uma comédia voltará a ter aquele impacto. Até abriram um Central Perk de verdade, onde uma horda de saudosistas se podem sentar no sofá laranja, tirar fotografias e beber café, como os verdadeiros fictícios faziam. Loucura. As filas são de facto extensas para se poder compreender tamanho impacto. “So no one told you life was gonna be this way” alertavam logo os Rembrandts, no seu I´ll Be There For You, como antevendo a surpresa do seu gigantismo. Quando se começa a escrever, nos inícios da grafite, quando a série ainda se chamava Insomnia Cafe – sim tinha esse nome – David Crane e Marta Kauffman não deviam sonhar ou projectar dez temporadas, dez anos, 236 episódios e mais de 60 nomeações aos Emmys. Certo é que aqui estamos, com as caixas na prateleira e com constantes reposições televisivas. Até tivemos direito à versão dobrada em português, ainda nos anos 90, que era tão boa ou melhor que a versão original. Obviamente, que analisar 10 anos de vida- muita moda correu - não é traçar uma curva exponencial ou outra recta, anos de muita saúde e depois a idade, inevitável perda de fulgor. Mas o conjunto é algo que neste caso sempre falará mais alto, muito devido, em parte a esse sentido colectivo de união, sempre cultivado quer pela ficção quer pelos actores, mas também pelo modo como acertaram nos 6 protagonistas. Uniformidade colectiva presente numa individualidade que se espelhava nesta ou noutra forma em cada espectador. Memorável.
15 – E.R.
Ai os dramas médicos. Eternos corrupios de doenças, de portas que abrem e fecham, apressadas no bip bip dos ritmos cardíacos, do sangue e da entrega. Máscaras e toucas que escondem bonitões solteiros, com problemas emocionais e um problema maior: deixar de ser solteiro. Orgânica que tem sempre grandes hipóteses de aguentar a maratona. Diferenciar dentro de um ambiente comum, pouco conhecido mas familiar a todos. É o passar a linha e espreitar, não só as vidas mas os casos, fonte inesgotável de inspiração. Não há fim à vista quando falamos de doença, o House que o diga. Mas voltemos a 1994 e à estreia de E.R., série da NBC criada por Michael Crichton e pensada inicialmente, por este e Steven Spielberg, para o formato cinema. Desse conceito saltaram para um piloto televisivo, inicialmente condenado por muitos velhos: não resulta, demasiado filme, demasiado movimento, demasiado tenso. O resultado foi o oposto e as longas sequências por diversas salas, personagens e acontecimentos marcaram o universo televisivo dos anos 90 e prenderam ao sofá um número incontável e interminável de fãs. Escrever história é isso: depois de retirar os prémios (mais de 100), os episódios (mais de 300), as temporadas (15), as estrelas formadas (George Clooney, Juliana Marguiles, Anthony Edwards, Noah Wyle, etc) e os recordes alcançados (drama médico mais tempo no ar, entre outros) ficar a ideia de uma era, de uma marca. Pensar nos anos 90 do pequeno écran é, inevitavelmente, pensar em E.R.
20 - Kommissar Rex
Parece-me importante referir neste começo que existe uma border collie que consegue identificar cerca de 1000 palavras. É só uma dica, para quem quiser fazer nova aventura canina não tão quadrada, com os pastores alemães. Depois tenho de escrever algumas linhas que no seu conjunto poderão ser tidas como “enorme aborrecimento” mas que servem para contextualizar e justificar o porquê do glorioso número 20. Desde lá até cá, sem parar. Vinte anos? Não pode ser! Pois lá está, o que aconteceu foi o seguinte: originalmente a série era feita na Áustria e tal aconteceu desde 1994 até 2004. Depois, em 2008, a série regressou mas agora com roupagem italiana e existe até aos dias de hoje. Isso não vale, pensam. Então não vale, se os Trovante podem comemorar 35 anos de carreira já não existindo, também o Rex pode saltar este hiato e assumir-se na vintena. Número bonito e impressionante para este melhor amigo do homem, que ladrou na SIC alcançando um enorme (e inesperado) sucesso. De tal forma que, como regressou lá, também regressou cá e em 2013 à estação de Carnaxide, com as suas novas temporadas e agora com a apetecível dobragem. Dava de manhã, para a pequenada. Até hoje, Rex teve 6 parceiros, 1 spin-off (Stockinger), uma versão polaca (Komisarz Alex) e uma versão portuguesa que se chamava Inspector Max, da TVI. Também esta com 20 temporadas. Brincadeirinha, foram só duas.
Não deixa de ser interessante, com todas as suas limitações, estabelecer um padrão de tempo de vida com base nos géneros e espécies. O íntimo, pessoal e polémico acaba por ser o primeiro condenado, seguindo-se o género mal-amado, depois o drama familiar, que acaba por se consumir nele próprio passados 5 ou 6 anos. A comédia elástica, estica, estica, estica, e por fim os casos da semana, médicos e policiais, eterno duelo que ainda hoje está para as curvas. Com a rapaziada dos crachás a levar alguma vantagem. Será assim para sempre? Será a maioria voraz por muitas e não grandes histórias? Será um episódio sozinho, repetidas vezes, o santo graal da televisão? Eu penso que sim, mas começaram este ano tantas outras ficções, vamos ver onde elas chegam e daqui a 20 anos confirmamos.
1 comentário:
Friends foi uma série que não acompanhei do começo ao fim. Não sei porquê mas nunca achei grande piada. E. R nem pensar. O meu lado hipocondríaco impede-me de ver qualquer coisa ligada à medicina. O Rex, sim, gostava de ver. Se um dia tiver um cão, vai ser um pastor-alemão só por causa dele. Prometo! ehehe
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