sexta-feira, 23 de maio de 2014

The Shining: a longa minissérie (4)

A panorâmica

Oferecendo os argumentos, das construções de pedra e osso, concluímos que esta minissérie é o que Stephen King sempre quis: ele próprio. Página a página, parágrafo a parágrafo, do seu amado livro. Para eventualmente poder dormir em paz. Oferecendo também o sono a todo e qualquer espectador. Quando se está demasiado dentro, demasiado envolvido, existe uma promiscuidade que não nos deixa pensar. Descolar, tomar decisões. E assim foi, sem cortes, sem filtros, sem segundas opiniões. Uma adaptação é uma reconstrução, uma revisão e transformação. O material base é isso, a base, a fundação para que se possa partir para outro desafio. Kubrick conquistou o feito de uma forma absolutamente inacreditável, corajosa e genial. Esmagou o carocha vermelho de King e ofereceu algo seu. Com rostos sombrios, veias que não se viam, para se especular e carimbar história no gelo. As personagens como veículos do medo vazio, da solidão. Loucura. Que não se percebe mas persegue. King quis encher, oferecer personagens que falam, descrevem e falam, transpondo todos os diálogos em cenas demasiado longas. Quarto a quarto, sala a sala. Apenas passado uma hora é que eles ficam sozinhos, só quase às duas é que começa a nevar e só ao bater das três é que Jack começa a passar-se da cabeça. A cena em que ele bate na mulher com o taco é tão longa que deixamos de ter pena, medo ou o que quer que seja. O interesse vai-se no comprimento, entupindo todas as outras tentativas e boas ideias de entretenimento. Longa, mal interpretada e pouco coesa esta vingança não se serviu fria mas sim azeda. Criar é escolher, King não escolheu. Esperemos que ele não tenha qualquer envolvimento, ou que pelo menos se mantenha calado, numa possível adaptação da sequela de The Shining, Doctor Sleep, lançada em setembro de 2013. Façam figas.
Texto publicado na Take 34

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