Oferecendo
os argumentos, das construções de pedra e osso, concluímos que esta minissérie
é o que Stephen King sempre quis: ele próprio. Página a página, parágrafo a
parágrafo, do seu amado livro. Para eventualmente poder dormir em paz.
Oferecendo também o sono a todo e qualquer espectador. Quando se está demasiado
dentro, demasiado envolvido, existe uma promiscuidade que não nos deixa pensar.
Descolar, tomar decisões. E assim foi, sem cortes, sem filtros, sem segundas
opiniões. Uma adaptação é uma reconstrução, uma revisão e transformação. O
material base é isso, a base, a fundação para que se possa partir para outro
desafio. Kubrick conquistou o feito de uma forma absolutamente inacreditável,
corajosa e genial. Esmagou o carocha vermelho de King e ofereceu algo seu. Com
rostos sombrios, veias que não se viam, para se especular e carimbar história no
gelo. As personagens como veículos do medo vazio, da solidão. Loucura. Que não
se percebe mas persegue. King quis encher, oferecer personagens que falam,
descrevem e falam, transpondo todos os diálogos em cenas demasiado longas.
Quarto a quarto, sala a sala. Apenas passado uma hora é que eles ficam
sozinhos, só quase às duas é que começa a nevar e só ao bater das três é que
Jack começa a passar-se da cabeça. A cena em que ele bate na mulher com o taco
é tão longa que deixamos de ter pena, medo ou o que quer que seja. O interesse
vai-se no comprimento, entupindo todas as outras tentativas e boas ideias de
entretenimento. Longa, mal interpretada e pouco coesa esta vingança não se
serviu fria mas sim azeda. Criar é escolher, King não escolheu. Esperemos que
ele não tenha qualquer envolvimento, ou que pelo menos se mantenha calado, numa
possível adaptação da sequela de The Shining, Doctor Sleep, lançada em setembro
de 2013. Façam figas.
Texto publicado na Take 34
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