Cristoph Waltz vira-se, encolhe os ombros e pede desculpa. Não conseguiu evitar, diz ele. Recordei-me de Norton e seu American History X, o mesmo gozo sanguinário, festejando ao de leve a ironia. O pedido não é feito apenas ao filme mas também a nós, para que aceitemos tal intromissão. Está ali a ser feito cinema, a ser gravado na carne, e nós temos de perdoar. Nós que não somos poucos. Ontem estava a caminhar para o cheio e é raro, ao sábado. Mas trata-se do último Tarantino e a verdade é que as pessoas ainda se movem para ver o último Tarantino. Como antigamente, quando íamos a tantos últimos acontecimentos, para nunca mais esquecer. Não há outro realizador que consiga tal corrida, que desperte tal memória, vivida não só nos assentos e seus ritos, mas na tela e na própria obra. Pede desculpa, não só por nos arrastar mas por nos arrastar com causa: este é o seu mundo. Ouvimos as gotas a escorrer da garrafa e a cair no tapete, o suor, em constante esticar, para depois rebentar entre as quatro paredes. Maravilhosa catarse, tão sua como nossa, do seu palco para a sua plateia. Tapo os ouvidos, a cena rebenta, eu rebento com ela. Saciado penso no pedido de desculpas e retribuo com o mais sincero dos obrigados.
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