segunda-feira, 21 de abril de 2008

There will be blood


Ou seja a eterna pronúncia de Daniel Day-Lewis


Nunca fui muito de ligar ao cinema de um ponto de vista quase semi-mecanizado, sem emoção, onde a ida a sala de cinema se torna uma obrigação, uma rotina casual. Tenho amigos que ao entrarem na sala de cinema gostam da garantia de ver um espectáculo em que os valores em representação no ecrã são garantias de valores firmados, onde a compra do bilhete não inclui o risco de se ir assistir a um espectáculo de alta ou baixa qualidade. Nunca fui desse género, para mim o cinema é um jogo de riscos e apostas, admito que vejo do bom e do mau cinema, mas sei demonstrar a qualidade de um bom espectáculo e um repúdio por um mau filme.
Ao entrar na sala onde iria ver There Will Be Blood de Paul Thomas Anderson, pensei em tudo isto, à partida sabia que se tratava de um bom filme, talvez o único real candidato que tenha feito sombra ao excelente No Country For Old Men dos irmãos Coen na última corrida aos Óscares. Havia lido que mais uma vez Daniel Day-Lewis se encontrava a todos os níveis brilhante, mas que talvez isso se transformasse na grande dualidade de critérios ao avaliarmos a película de Paul Thomas Anderson, o grande problema é que o trabalho de Day-Lewis é de uma qualidade tão elevada que as cenas onde ele não entra transformam o filme em algo de banal, e que o actor que partilhe uma cena com este gigante da representação se encontra sufocado e a abafado por presença tão marcante a seu lado. E aqui me encontrava eu sentado na minha cadeira a espera que tudo isto se confirmasse, mas a verdade é que There Will Be Blood com ou sem Daniel Day-Lewis foi pensado, escrito, e realizado para ser um grande filme (que o é).
A história passa-se num período de quase 29 anos e retrata a ascensão de um homem do petróleo nos fins do século XIX princípios do século XX Daniel Plainview (interpretado por Day – Lewis) que nunca teve nada e agora tem a hipótese de ter tudo. Durante 158 minutos somos quase que testemunhas do seu desgaste físico e emocional com o passar dos anos, a sua relação com o seu filho, o seu cada vez mais crescente ódio para com tudo e com todos, e a sua incessante busca por dinheiro e poder que o levarão a um final trágico destinado a loucura e solidão. Outra das problemáticas que o filme levanta é a presença ou ausência de Deus, como uma sentinela constante que a cada desafio ultrapassado pela personagem de Day-Lewis lhe apresenta um preço que este terá de pagar. De mencionar também o excelente trabalho de Paul Dano ao interpretar não só a personagem de Paul Sunday mas também do seu irmão o pastor Eli Sunday, este que será como que um rival e um amigo na vida de Daniel Plainview, o representar de uma América fanática e conservadora onde Deus tem cada vez mais nas suas mãos o destino dos homens, onde o ser humano não tem mais do que se contentar com o seu destino por vezes cruel e injusto.
Paul Thomas Anderson, mostra que é um realizador a ter em conta (já o tinha provado com Magnólia (1999) ) ,por vezes consegue demonstrar uma certa grandiosidade não só ao nível de imagem mas de som e fotografia, a imagem da montanha no início tem tanto de bela como de assustadora, revelando a sua cada vez maior maturidade como realizador. Por fim acaba o filme, saio da sala e dou-me como satisfeito, desta vez resolvi não arriscar fiz bem, There Will Be Blood transforma-se num exercício obrigatório para quem gosta de bom cinema, talvez apenas a apontar-lhe a (já antes mencionada) excessiva dependência de Day-Lewis para cada cena, e a por vezes ausência de secundários à altura , de resto o que fica no ar é a eterna pronúncia de Daniel Day-Lewis …e a magia do bom cinema!!

Capaxinhos

1 comentário:

Roberto Simões disse...

CINEROAD
http://cineroad.blogspot.com/

Pontuação: EXCELENTE


Crítica: "A banda sonora de Jonny Greenwood (guitarrista dos Radiohead) ficará como um acontecimento invulgar na história das relações entre música e cinema" - João Lopes, em cinema2000.pt. Subscrevo, inteiramente. Daniel Day-Lewis é o filme, uma das maiores interpretações da história do cinema. A fotografia está sublime. Materialismo vs Existencialismo: ambos os conceitos são apresentados como forças motrizes e criadoras da sociedade. Um filme bem diferente, único, do génio Paul Thomas Anderson.

CINEROAD
http://cineroad.blogspot.com/