terça-feira, 12 de junho de 2007

Quando a FedEx passa


Espero quieto e sossegado na passadeira. Confronta-me do outro lado um boneco vermelho, estático, tento imitá-lo para meu bem, enquanto aguardo que o seu irmão verde me traga o movimento.
Passa por mim uma carrinha da FedEx e o meu estatuto solitário aumenta pela inevitável associação ao Náufrago. Foi das publicidades mais descaradas que já vi num filme( a par com os carros e relógios de James Bond, e o Head and Shoulders de Evolução) mas foi também dos exercícios mais simples e complicados de executar , tanto a nível interpretativo como a nível de construção da narrativa. Zemeckis fez um filme apenas com um homem e uma bola de vólei. Tudo está sobre Tom Hanks, e aqui ele abriu o livro e tem uma das melhores, senão a melhor, interpretação da sua vida (o Óscar era dele e não do expressivo porteiro de discoteca Russel Gladiador Crowe). Não é só a sua mudança física que impressiona, é tudo o resto que sentimos nos seus gestos, nas suas poucas palavras, na sua barba angustiada e queimada do sol. A solidão é o recheio de um bolo que nunca perde sabor, sempre com pedalada, até ao plano final, em que ficamos perdidos de novo, no meio de um cruzamento.Somos sempre náufragos à espera de uma escolha que nos faça sentir menos nós, menos sós.
Já ficou verde, o trânsito pára, eu pelo contrário sigo viagem.

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