quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Os melhores filmes de 2020 | Créditos Finais

Bem Bom adiado para 2021. Barretão. Lá tive eu de escolher à pressa outros dez filmes, como se mais alguma coisa importasse. Lágrimas lambidas, olhando a listinha de frente, salta à vista uma inquietude, uma reinvenção. Muito género a gritar "estou vivo, estou aqui!" e o cinema ali, a pulsar, a vibrar, a mudar. De fora fica a espuma de Kajillionaire, a simbiose de Sputnik, ou a noite de Lovers Rock. Lá dentro, é este festão que se avizinha, é entrar, é entrar.

10 - DICK JOHNSON IS DEAD

Só mesmo naquela igreja, perto do fim, é que o filme caiu em mim. A inevitabilidade depois de um cem número de simulacros, de hipotéticas mortes. Nos abraços, nos risos do seu pai. Daquela pessoa que, boa ou má, é a pessoa que amamos e que um dia se vai. Saber filmar esse canto, saber construir esse embate, é desarmante, é um pequeno milagre. Melhor documentário e melhor despedida.

9 - FREAKY

Triplo atestado de vitalidade: slasher, high-school comedy e body swap. Estão todos bem e recomendam-se. Christopher Landon (Happy Death Day) continua a cruzar géneros como um cientista saudosista, bêbado, aprimorando o foco e oferecendo um filme divertidíssimo. Melhor início e melhor Vince Vaughn de sempre.

8 - RUN

Sim, a história não é nova. Sim, no passado recente levámos com uma série de televisão e uma série de documentários sobre um caso idêntico. Mas sim, Run é o thriller do ano: enervante, emocionante, eficaz.  Aneesh Chaganty (Searching) volta a fechar-nos na sua exímia gestão de recursos, onde tudo conta, onde tudo pesa. Melhor mãe querida e melhor estreia de uma atriz (Kiera Allen) numa longa metragem.

7 - SPONTANEOUS


Foi no meio da converseta, entre dicas de escribas amigos, que Spontaneous me rebentou no colo. E assim do nada, putos a explodir. Premissa arrojada que evita de forma sincera os lugares comuns, convertendo-se num inesperado olhar ao desconhecido. É a comédia romântica a encontrar novo significado, enquanto os seus procuram explicação, razão, sentido. Melhor banda sonora e melhor monólogo final. 



Se o novo Borat me pareceu um filme de hoje para ontem, The Trial of Chicago 7, também com Sacha Baron Cohen, chegou-me como com um filme de ontem, para hoje. Não só nas ideias mas na dinâmica de contar uma história, uma boa história. Cheia de voltas, cheia de cores e, essencial, cheia de gente, de pessoas e personagens. Caraças há lá filme mais revitalizante este ano que este. Melhor elenco e melhor cena em tribunal.



Jim Cummings é o Shane Carruth (Primer) desta década, um gajo que escreve, realiza e interpreta o que quer, como quer, da forma que quer. Uma figura que aparece de tempos a tempos, para nos roubar o beicinho e nos deixar cheios de fé. Depois de Thunder Road, voltamos a uma terra pequena, a um herói que na sua contenção/explosão tem de resolver uma série de crimes associados a um aparente lobisomem. É Fargo, é The Silence of the Lambs, mas acima do referencial está um cinema que é dele e de mais ninguém. Melhor poster e melhor autor.



Começa e já lá estás. No fundo do mar, o abismo a pesar, sem tempo para guiar e visitar. Uma estação subaquática entra em colapso e um grupo de investigadores tem de tentar sair dali. Simples: a Alice a fugir da toca do coelho. A Alice no corpo de Kristen Stewart, o corpo, sempre o corpo contra os medos, a escuridão e os monstros. A lembrar a Ripley, a lembrar o despacho e eficácia de outrora. Melhor sequela do Cloverfield que nunca existiu e melhor fotografia. 



Desta feita sem gorila nem Kevin Bacon. É o regresso de um clássico: a figura invisível que povoa o pesadelo, o medo, o espreitar por cima ombro. E Leigh Whannell filma essa suposição como ninguém, essa aparente gente na cadeira vazia. Primeiro para inquietar e depois para te esbofetear (literalmente), numa série de momentos memoráveis. Por último, a par com Swallow, é um dos mais importantes e refrescantes contos sobre abuso e violência doméstica. Melhor jantar de irmãs e melhor Elisabeth Moss.



Só não lhe pergunto onde ele andou a minha vida toda porque ele é deste ano. Lembram-se do Monsters do Gareth Edwards? Mantenham as criaturas, retirem a contemplação e adicionem aventura e coração. Amor, é amor para todos, ao voltarmos a todos estes sítios onde fomos (e seremos) felizes, não só na jornada (saudades dum filme que sabe construir uma viagem) mas também dos detalhes. Como um casaco vermelho, como chegarmos ao fim e percebermos (como no final de Onward) que afinal o nosso cálice é outro. Melhor surpresa e melhor amigo do homem.



É muito isto que eu procuro ou melhor, começando outra vez, no fundo é isto. Um filme que nos desafia, que na confusão de umas sardas, de uns caracóis nos obriga a mergulhar. As dúvidas dela são pois nossas. Mas espera, espera que afinal somos mais, um quarto, uma casa de referências que se aglutina num único tempo. À espreita de possíveis passados, presentes e futuros. Kaufman, conduzido por um surpreendente casal de protagonistas, leva-nos aos seus constructos, ao seu universo, seja numa inesquecível viagem automóvel ou num bizarro jantar de família. Desarranja volta a arranjar, estimula para que depois da dança e do discurso fiquemos lá. Nas relações e nos laços, no sucesso e no fracasso. Na morte, lá está. Tudo acaba de facto neste filme estupendo. Melhores diálogos e melhor papel de parede.

Podem consultar a lista completa no Letterboxd.