domingo, 7 de julho de 2024

Eles veem (e explicam) tudo


- Oh meu deus onde é que eu estou? Que letras e palavras são estas?
- Nós chamamos-lhe (PAUSA DRAMÁTICA) O Texto.
- Wow, é quem são estas pessoas que nos estão a ler?
- Os antigos chamam-lhes (PAUSA DRAMÁTICA) Os Utilizadores de Internet.

The Watchers é assim, do início ao fim. Tudo tem nome, explicação e história de origem. Fica muito pouco nas nossas mãos, o que para uma floresta carregada de mitologia e folclore fazia todo o sentido. Há de facto boas ideias (e belas molduras) nesta primeira obra de Ishana Night Shyamalan; porém acabam por ser comprimidas num calendário demasiado preenchido e luminoso.

quarta-feira, 3 de julho de 2024

Contranatura

Assim como havia algo de profundamente magnético naqueles longos planos de um gajo a pintar, no Twin Peaks de 2017 há algo de perversamente confortável na viagem mato adentro deste serial killer. Fez-me lembrar o A Ghost Story, na perspectiva inusitada e declarada de voyeur; de uma visão contemplativa e raramente contemplada. Aqui o outro lado, um Viver Mal dos slashers: seguimos, quase sempre na primeira pessoa Johnny, um monstro que acordou e iniciou a sua matança. Lá vai ele aos poucos nas florestas, nos bosques, nos lagos, nos pastos. De manhã, de tarde, de noite. Sempre à procura de alguém a quem possa infligir uma morte danada. Este virtuosismo do percurso e da montagem, acaba por diluir a tensão e expetativa tão necessárias no género. Transformando este In a Violent Nature num animal curioso mas em conflito consigo próprio.

segunda-feira, 1 de julho de 2024

Ecoa na eternidade de uma sequela

Paul Mescal matou Pedro Pascal é o trava línguas cinematográfico do momento. Imensas crianças a brincar a isto nos recreios enquanto fazem aquelas combinações idiotas de palmas e carapau sardinha. Atenção ao dizer isto muito depressa. E atenção também a esta sequela com o filho da Connie Nielsen, que deve ir vingar o Russell Crowe (fantasma da força?) e fazer festinhas no feno como não se houvesse amanhã.

segunda-feira, 24 de junho de 2024

Alterações netflixmáticas


Falava com o João, ao almoço, de como a Netflix - e plataformas em geral - se têm apropriado dos nomes. Aos poucos, os filmes deixam de ser daquela pessoa e passam a ser daquele monopólio. O que acontecia já com as séries chega a este cinema de plataforma, encaixotado no catálogo "o que ver a seguir". Por outro lado é neste "Quem quer ser John Netflix", que os autores encontram poiso para os seus trabalhos e podem continuar a filmar. Este Sous la Seine é um óptimo exemplo disto: não é o último filme do Xavier Gens, é o filme de tubarões da Netflix, já a obra mais vista no segmento dos 14-24 anos às quintas-feiras depois das 20h15. Não sei quem ganha aqui. Por um lado é pôr um autocolante por cima e vai tudo a eito. Por outro, é forma de relembrar filmografias menos faladas e ver finalmente o Frontière(s), por exemplo. O que é que vocês acham?

Em relação ao filme, gostei da cidade e suas catacumbas. Sítios reais que depois não casam com os efeitos de segunda linha e as piruetas daquele tubarão fêmea. Algumas cenas com piada - como a dos nadadores - mas falta assumir o divertimento e o massacre, como tão bem executou Alexandre Aja no seu Piranha 3D. Leva a sua patetice demasiado a sério. E assim resta-nos esperar pelo Sous la Seine: Dominion. Onde o mundo fica cheio de tubarões e depois os nossos protagonistas vão a Malta andar de mota de água e acabam num complexo aquático de uma multinacional cheios de gafanhotos. Gafanhotos do mar, claro.

quinta-feira, 20 de junho de 2024

Diz adeus ao par de trombas

Naomi Scott, a única princesa da Disney que já foi Anjo de Charlie e Power Ranger. Ou a única Power Ranger que já foi princesa da Disney e Anjo de...bem vocês perceberam. Metam o favorito em primeiro. Certo é que esta tríade vencedora entra agora no segundo capítulo da (aparente) saga Smile, que para além de ter aqui um fã tem também um belo poster. O Halloween 2024 acaba de ficar mais interessante.

terça-feira, 18 de junho de 2024

Canções com filmes - I Miss You (blink 182)




We can live like Jack and Sally if we want
Where you can always find me
And we'll have Halloween on Christmas
And in the night, we'll wish this never ends
We'll wish this never ends

sexta-feira, 14 de junho de 2024

Nalgas: The Awakening

Ainda não vos tinha dito mas as Nalgas voltaram. Cortámos os três o cabelo, para se perceber que estamos mais velhos, como a Zendaya fez no Challengers, e mudámos de nome. Agora somos só e apenas Nalgas do Mandarim. Mais apurados. Como um bom vinho; só falta a nova imagem ser um desenho duma criança, como a Herdade da Malhadinha. E enquanto 2025 não chega - ano em que iremos celebrar uma década de vida, em princípio com a primeira Feira Medieval das Nalgas - temos novo episódio, que, como de costume, é um valente fartote.

quinta-feira, 13 de junho de 2024

Não tem é padres biólogos, como o outro

Conhecem aquela música dos Pólo Norte: Se eu voltasse atrás, Por minha vontade, Trocava alguns anos desta vida, Por um só dia na tua idade. Pois bem, eu trocava maior parte dos terrores desta carreira de espectador borradinho por um só frame deste The First Omen. Podia ser este, quando ela acorda. E que me lembra tantas outras obras das quais não me consigo lembrar. Esta primeira longa de Arkasha Stevenson - que já tinha espalhado magia nas séries Brand New Cherry Flavor, Legion e Channel Zero - tem esse dom: de nos lembrar muito cinema, desde Argento a Carpenter, mas de no final sair por cima, em belíssimos quadros de horror e angustia. Um dos filmes do ano.

domingo, 9 de junho de 2024

A vossa máscara não me é estranha

Renny Harlins no caminho? Vejo-os todos. E um dia ia dar nisto. Juro que pensei que este The Strangers: Chapter One era prequela de origem, descrevendo como é que esta grupeta de psicopatas se tinha juntado. Até apostava num daqueles twists em que depois uma das vítimas se tornava também uma "estranha" no final e o filme fechava com ela a comprar uma daquelas máscaras no Centroxogo. Afinal não, é só mais um reboot frame a frame do original. Desinspiradíssimo, nas interpretações, nos tempos, nos sustos. Seria de esperar pelo menos a experiência e a visão de alguém como Harlin. Mas foi tudo terraplanado. Tinha sido muito mais interessando manterem o conceito base mas darem-lhe uma nova volta, como fizeram recentemente as sagas Wrong TurnParanormal Activity. Ainda para mais é uma trilogia ou seja estamos entalados com mais dois filmes. Pode ser que o pior já tenha passado, copo meio cheio, sempre o copo meio cheio.

sexta-feira, 7 de junho de 2024

As reviravoltas do universo aranha

Intitulava-se "O bom, o mau e a antecipação". Focado no universo aranha. Não é nesse, é mesmo no universo de filmes de terror com aranhas; sem os linguadões de pernas para o ar. Pronto, então, o bom ia ser o Vermines, o único que tinha visto na altura que engendrei o título. O mau ia ser o Sting e a antecipação o remake do Arachnophobia. Só que a vida está cheia de surpresas e afinal o Sting é mais ou menos. Armei-me em Nostradamus fanfarrão e esta história de uma miúda que adopta uma aranha alienígena tem algumas picadas dignas de registo. Gore e asco necessários para um filme de criaturas; o crescimento da antagonista acompanha bem a expansão dos outros inquilinos no prédio e o mecanismo Alzheimer é usado de forma inteligente para duplicar o medo. Por outro lado as interpretações não são as melhores e desperdiça uma boa analogia (na banda desenhada) para fortalecer as suas teias. Conclusão, se a vossa religião só vos deixar ver um filme de aranhas fodidas este ano vejam o Vermines. Se não tiverem restrições, não ficarão mal servidos com uma sessão dupla. 

Então e o Arachnophobia? Ah pois é. Ia acabar o texto, até porque tenho um suflê de peixe para fazer, mas posso ficar mais umas linhas. Ao que tudo indica é sequela de legado, produzida por James Wan e realizada por Christopher Landon, daqueles filmes simpáticos onde ela morre todos os dias. Não tenho muito mais informação para vos dar. Possivelmente vamos ter direito ao Jeff Daniels em modo Bill Pullman no Independence Day: Resurgence, já velho e senil, "ninguém acreditou em mim!", e depois o neto, mais os amigos, que descobrem um velho barracão, e mais não sei quê. Ah e claro, muitas, mas mesmo muitas, aranhas em CGI.

quinta-feira, 6 de junho de 2024

A estrada da Furiosa

Ainda não li nenhuma crítica ao Furiosa que não fale de Fury Road. Até eu, ao dizer que não li nenhuma crítica ao Furiosa que não fale de Fury Road estou a falar de Fury Road. E esta apendicite pode de alguma forma prejudicar um filme que se serve bem sozinho. Vira o disco e toca outra merda completamente diferente: outro tom, outro ritmo. Miller agarra numa figura cheia de carisma e oferece-lhe um era uma vez; o épico arriscado que ela merecia. Num cenário tão rico em personagens que parece que nunca saímos da luxuriante floresta. O Pedro (Cinemaxunga) a meio do filme disse-me que aquela trupe só podia mesmo existir ali, e de facto é verdade. Há tanta energia e tanta cor nesta malta que qualquer um deles nos podia levar pela mão aos recantos da Wasteland: desde a Mary Jabassa (a mãe de Furiosa), passando pelo  Praetorian Jack (beijaria), até ao Scrotus (o outro filho de Imortan Joe) ou a Elsa Pataky em dose dupla. Esta segurança, onde qualquer um pode assumir o volante e seguir noutra direção, torna esta saga num objeto único. Especial e imersivo, onde, sem travões, temos a certeza de que não nos iremos perder. 

quarta-feira, 5 de junho de 2024

Acho importante o novo Governo ter mantido estes pontos de saída da Matrix. 
Sempre dá para ir jantar a Zion de vez em quando.

sexta-feira, 31 de maio de 2024

La La Garland

[SPOILERS] Aos vinte minutos de filme, já depois da viagem ter começado, pensei - Ah de certeza que no final a jornalista veterana falece e a novata regista o momento. Depois esbofeteei-me. Não sejas parvo Miguel, é o Garland caralho. Não é um tarefeiro qualquer. É claro que ele vai procurar outro caminho. É claro. É claro que não. E saltando essa barreira da expectativa autoral, encharcadinhos de previsibilidade, podíamos ter esse mesmo final se existisse uma construção/ligação entre essas duas personagens. Era necessário sentir a transformação, a energia de uma que se esgota em prol da metamorfose da outra. Falta tempo, falta química. Os diálogos pouco trabalhados e as decisões artísticas guiadas pelo manual - como as fotografias a preto e branco - também não ajudam a que se possa encontrar um espaço distinto. Gosto muito do lado da reportagem, de irmos de momento em momento, de relato em relato, com uma cinematografia incrível (o tal verde garlandiano a espaços, o que eu procurava a espaços). Mas sinto que o filme nunca se encontra, entre os horrores da guerra, a adrenalina da profissão, o conflito de gerações, a crítica política, o valor da imagem. Tudo tem lugar mas nada realmente assina e se deixa assinar. 

quarta-feira, 29 de maio de 2024

O bocadinho que falta

Estávamos à espera das salsichas do Carlos. Ali sentados, banco de entrada do Passos Manuel*, num dos momentos de pausa do Nalgas Film Festival 2023. Enquanto os cachorros que o nosso mais que tudo assegurou não chegavam, discutia com o António (Segundo Take) as potencialidades socioeconómicas do glamping em zonas despovoadas do país. Não discutia nada, falávamos de cinema, claro. Do último Indiana Jones e de como a pressa se apoderou do blockbuster. Filmes a correr que nunca mais chegam ao fim. Há um momento em particular neste Marcador do Destino, logo ao início quando o Indy em CGI cai de um penhasco com o Capote, em que na cena a seguir vemos a superfície da água. Para que o momento resultasse era preciso aquele impasse. É claro que todos sabemos: ninguém morreu. Mas esses segundos fazem parte do engenho e do espaço; é vital ficarmos naquele tique-taque da espera. Mas não, esse interlúdio de ar fresco é cortado, e assim que vemos o local da queda eles voltam à tona. 

Nisto chegámos ao Speed, não por faltar um bocadinho, neste caso de autoestrada, mas porque o tinha revisto recentemente. Apanhei-o na televisão, nessa mesma cena em que todos percebem que falta um pedação de asfalto. E é maravilhosa, uma métrica cinematográfica frenética mas que nos engole com calma em todos os seus passos. Eles aproximam-se naquele carrito, falam com o Keanu, transmitem-lhe as más notícias e depois afastam-se. Nesse afastar, percebemos que estamos sozinhos. Percebemos que estamos mesmo naquele autocarro e que vamos mesmo ter de dar o salto com aquela malta. 30 anos depois continuo a vibrar como se fosse a primeira viagem. Não sou o único. O Stuckman grava uma bonita carta de amor à obra, onde estabelece uma interessante teoria sobre a força dos filmes de ação dos anos 90. 

Sim, mais uma lamúria que escapou à polícia da saudade. Mas é também forma de celebrarmos os nossos filmes e de encontrarmos caminhos para uma nova velocidade.

*uma sala de cinema com um pequeno bar e não um bar com uma pequena sala de cinema.

segunda-feira, 20 de maio de 2024

Popular entre os amigos

Gosto sempre de um filme onde as personagens para parecerem mais velhas cortam o cabelo. Nova: cabelo longo. Dez anos mais velha: cabelo curto. Obviamente. E já que comecei com a rapariga, enterro aqui a minha espada da embirração; tens toda a minha atenção Zendaya. Papel seguríssimo, a ligar esta grupeta à corrente, com gozo, estilo e sexo. Figura ainda mais curiosa, e complexa, porque opera numa relação que não é (nem nunca foi) dela. A morder e a pressionar para que o ténis se reencontre neles. E os confrontos - ou os momentos da grande partida - vão ficando cada vez mais arrojados até ao final onde na câmara já vale tudo. 

Para além disso, a juntar à ingenuidade e destrambelho, temos o início do Blade, da discoteca, só que em todas as cenas. Olá boa tarde, era um café e um copo de ág....MÚSICA DA KADOC...Então que tal correu o teu d....MÚSICA DA KADOC. Quase que apetece ir ao bar e pedir um vodca laranja. Mas na verdade, e o cinema tem destas coisas, tudo resulta. Uma tempestade - como aquele momento dos papéis a voar - um ziguezague narrativo - como a bola cá e lá - que se juntam num conjunto charmoso, vibrante e magnético.

sábado, 18 de maio de 2024

Os segundos dois minutos

Depois do filme andei ali, no turismo dos tristes, de seta em seta no Google Maps à procura dos sítios. E enquanto o amigo Daniel Louro - do The World is a Set - não vai a Quioto temos de nos contentar com este link farsola. River, antes de ser fantasia é um espaço, uma estalagem real que recobre o filme de autenticidade. É ela que impõe o sentido de repetição: quão monótono pode ser aquele trabalho? Quão fechado é aquele microcosmos? É ela também que reformula o género ao apresentar o time loop de dois minutos - o segundo na filmografia de Junta Yamaguchi - como um problema local, estilo corte de luz ou falta de água, que tem de ser resolvido para bem estar dos hóspedes. Se a obra anterior funcionava em plano sequência entre dois andares e dois monitores, esta eleva a fasquia ao fazer um reiniciar geral à beira rio a cada dois minutos; mecanismo muito difícil de manter mas que se segura com uma criatividade, fotografia e um painel de personagens invejáveis. Cada volta é única. E eu a contar os minutos para a próxima.

quarta-feira, 15 de maio de 2024

O frio chegou e veio para ficar

Três coisas que me congelaram o ânimo neste Ghostbusters: Frozen Empire. Primeiro, voltar à cidade voltando as costas à mesma. É surreal regressarmos a Nova Iorque e estarmos enfiados em salas e salecas. Com exceção da cena de abertura - melhor sequência do filme - mais nenhum momento usa a metrópole como personagem, como energia primordial dos Caça-Fantasmas; as pessoas, as multidões, a festa. Desapareceu tudo. Em segundo, a praga de humanizar todo e qualquer antagonista. Neste caso os fantasmas, com um arco à la Casper (1995), que tem tanto de desnecessário como de profundamente infantil. Os fantasmas são os fantasmas foda-se, monstros que podem ser familiares, mas que são bizarros, descontrolados e assustadores. Por isso é que são caçados. Era carregar no potencial do vilão e explorar toda a (interessante) mitologia dos cavalheiros do fogo. Em terceiro e último lugar, a velha guarda de papelão. É desolador ver Venkman, Stantz e Zeddemore transformados em bibelôs de uma nova geração sem tempo cómico, sem vida e sem diálogos de jeito. O primeiro quarteto vivia das diferenças, das peripécias e da amizade. Não lhes dar a devida digestão e dimensão dos 40 anos depois, torna tudo num enorme quartel, gelado e vazio.

terça-feira, 14 de maio de 2024

Vampiros e bandidos tenrinhos

 
Descobri agora que o Ballerina, spin-off do John Wick, é do Len Wiseman. O artista daquele Total Recall de 2012, sobre o qual combinámos todos, juramento de mindinho, nunca mais dizer uma palavra. Já fomos. Mas não são os bailados da Ana de Armas que nos juntam aqui hoje, hoje mordemos o mais recente filme da dupla Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett. Depois de ressuscitarem o Ghostface, que nem relâmpago (mais ou menos certeiro) no cemitério do slasher, agarram na sua protagonista acabadinha de ser despedida e fazem lhe uma avença simpática neste Abigail. É um filme de vampiros, mas é também um filme em que um grupo de desconhecidos é reunido numa casa por motivos que normalmente só aparecem no terceiro acto. É uma obra redondinha, onde se nota a presença de um argumentista, em prol, quiçá, de um catering sem folhadinhos de salsicha. Saímos a ganhar, com vários inícios - abertos até de madrugada - e várias reviravoltas. O sangue, as tripas, as regras e as desregras compensam alguns tiros ao lado no humor e nos diálogos.  

Gosto destes comboios sem muito alarido; onde uma tropa curiosa, mais ou menos batida no género, vai criando um universo logo ali abaixo da crosta.

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Corpos e pescadinhas

Alguém já percebeu porque é que as garrafas de polpa de tomate ficaram com os vidros fumados? Já não se pode agarrar naquele casalinho de polpas descansado, para ter sempre na despensa; temos de abrandar passo para olhar vezes sem conta, rodar, ver o que está lá dentro e pensar - Mas o que é esta merda? Bem continuando. Bodies. A série da Netflix, não confundir com o filme Bodies Bodies Bodies, do ano passado onde no final (spoiler alert) afinal era só jajão. E não, não pensem em Bodies Cinematic Universe, não vai haver um Bodies Bodies no meio ou um 4Bodies a seguir. Esta minissérie de 8 episódios apanhou-me meio na curva, neste caso num beco e nunca mais me largou. Baseada numa novela gráfica de Si Spencer conta a história de quatro detectives, em quatro épocas diferentes, que investigam o mesmo homicídio. O mesmo corpo, a mesma bala. Para além daquele festival causa-efeito que me assenta no cachaço que nem cachecol de seda, existem quatro histórias bem feitinhas. Quatro versões de uma investigação/obsessão, quatro retratos do tempo, e quatro peças que se vão juntando das formas mais inusitadas. Nada se perde. É verdade que a conclusão precisava de mais tempo, para poder servir de contraponto justo a tudo o que foi construído, mas ainda assim reside neste corpo uma das propostas televisivas mais interessantes do ano passado.

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Os (maus) efeitos do fim do mundo

 

- São flamingos?

Acho que é o Ethan Hawke que pergunta, no filme de Sam Esmail, Leave the World Behind. Ou então é a Myha'la, não me lembro. O outro diz que sim, que são flamingos, ali a chapinhar na piscina. Ao que eu contra respondo: não, não são flamingos, o que estamos a ver são flamingos em CGI. Foda-se, mas será que é assim tão difícil arranjar meia dúzia de flamingos verdadeiros? Um salto à herdade da Mourisca, filmam os marotos no estuário, os atores embedam-se em Setúbal, o turismo agradece e o espectador pode acreditar. Ganhamos todos.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Os melhores filmes de 2023 | Créditos Finais


[SPOILERS] Não poderia começar com outro nome senão Bradley Cooper. Oh Bradley, you've done it again. Haverá, em 2023, papel mais marcante? Interpretação mais concentrada, dedicada e emotiva que aquela que ele oferece em Dungeons & Dragons: Honour Among Thieves como Marlamin, o ex pequenino da Michelle Rodriguez? Inesquecível. Ah então e o outro filme muito bom onde ele também entra? Calma, calma. Guardians of the Galaxy Vol. 3, também está aqui no top, e a voz de Rocket Raccoon é o coração de toda esta aventura. Tão simples como ir salvar alguém de quem gostamos. De facto estes dois tomos fazem-se passar por velhos, na nostalgia, mas injectam aquela energia desconstruída de uma boa história, procurando novos caminhos. Não vou picar filme a filme, é um conjunto que se une por vontades, de rever, de conversar, de perceber. Porém vou deixar alguns pontos altos, que serão quadro futuro quando voltar a visitar o ano.

Frame: este diálogo na varanda de  Asteroid City.


Sequência: todo aquele plano de John Wick: Chapter 4. Esse.


Música: PIMP de Anatomie d'une chute, na cabeça com volume no máximo.

 

Momento: abrir os braços com o Moretti em Il sol dell'avvenire. Uma festa.
 
 
Finala despedida de Past Lives. E sobre ele...
 
 
...não me lembro de outro filme que desmascare tão bem a cidade, no som das sirenes, na água a bater no cais, no gotejar das caleiras, no próprio céu, cinzento e pouco amigável. Existe um esvaziar do postal de visita, onde os espaços são apenas espaços, infindáveis torres de quotidiano por onde passamos, sozinhos. Todo o romantismo é remetido para os silêncios e as possibilidades. E nós com as nossas próprias linhas e desculpas, rendidos a este belíssimo primogénito de Celine Song.
 
 
 Lista completa em:

 
 
 

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

A ternura dos 60

Senti falta daquela amargura. Nem foi bem da amargura, mais do desconforto. E de uma irreparável tristeza que sempre acompanhou Payne na maior parte da sua obra. The Holdovers é muito mais optimista (e muito menos sincero). Porém é cinema de lareira com L grande: trio de luxo, belíssima fotografia e uma daquelas bandas sonoras para o caminho.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

20 anos de Cinemaxunga

"Um dos primeiros contactos que tive com o Pedro foi a propósito de uma iniciativa que criei no meu blogue: escolhia um animal e depois convidava três escribas da blogosfera para associar um filme a essa espécie. O animal em questão era o porco. O Pedro escolheu o “Hannibal” do Ridley Scott porque tem porcos e principalmente porque tem a Julianne Moore. Estou a brincar. Escolheu os porcos cúbicos de “Space Truckers”. Eu, pequenito imberbe, nunca tinha ouvido falar de tal extravagância; camionistas espaciais e porcos geneticamente modificados, tudo apresentado num texto que misturava o golfinho cyberpunk de “Johnny Mnemonic” com os cangurus humanos de “Tank Girl”. Dois parágrafos, uma viagem.


As entradas deste compêndio são esses carimbos de passaporte, viagens inesperadas a um universo que se foi construindo ao longo dos últimos 20 anos. Nas histórias que nos levam a outras histórias e nos tocam quem nem o dedão luminoso do E.T. Porque para além de uma visão holística e de um respeito inabalável pelo cinema, o Pedro manobra o coração da arte sem nunca o deixar cair, nunca esquecendo que os filmes, os nossos filmes, são momentos. Como os vivemos, com quem os vivemos, onde os vivemos. É essa interface, esse assumir o filme como parte de nós, como película muito além dos 90 minutos (hoje 180), que torna cada título desta aventura tão especial. Por outro lado, folhear estas páginas é também voltar atrás, aos blogues, aos clubes de vídeo, aos velhos cinemas. Quando os bilhetes não eram um talão do Continente e as alcatifas ditavam aquela magia. Percorremos com ele esses degraus do que já não é até aos dias de hoje, às plataformas e aos super- heróis, sempre com a missão clara de continuar a procurar, descobrir e partilhar. A embrulhar todo este apocalipse xunga, o humor único, as dicas, os conselhos, quer seja para sugerir um filme aos amigos ou para escolher aquela sessão da cara metade. Arnie, Bronson, Carpenter, e o resto do alfabeto que interessa, tudo aqui."


Excerto do Prefácio do Livro "20 Anos de Cinemaxunga" do meu grande amigo Pedro.

À venda na banca do costume: