quarta-feira, 28 de maio de 2008

Hot-Crazy scale

Personagens - Benjamin Linus

Benjamin Linus é das personagens mais interessantes, dúbias e complexas que a televisão já viu. Consegue criar no espectador sentimentos tão antagónicos e distintos que se torna quase impossível defini-lo e colocá-lo num dos lados da barricada.
Entrando apenas a meio da segunda temporada rapidamente agarrou o leme e é agora um dos maiores pontos de interesse da história, roubando toda a luz sempre que nos dá a honra de aparecer. Pequenino, com o seu corpo frágil, esconde uma inteligência acima da média e uma espantosa capacidade de manipular os outros. Os seus sorrisos irónicos de vitória, os seus olhares de espanto, as suas feições e atitudes, entre tantos outros pormenores, constituem um incrível trabalho de actor por parte de Michael Emerson, relativamente desconhecido até então e que carimba aqui um papel inesquecível. Vamos continuar a vê-lo (infelizmente só até quinta) sempre a espera que nos surpreenda, aguardando a próxima cartada e nunca percebendo se estamos a ouvir a verdade ou a mentira.

Cenas à chuva - 1

Como bom presságio e fazendo um apelo à tímida Primavera, acabamos aqui com a chuva. E de todas as cenas escolhidas esta é aquela que não podia de modo algum ficar de fora. Já referido aqui algumas vezes este é para mim o momento chave de Garden State, de toda uma geração indefinida e confusa que grita os seus medos e fantasmas para um enorme vazio. Parte de um todo por mim adorado, monta na perfeição o sítio onde me encontro, um tempo desiludido de uma juventude cansada, uma procura de um lugar certo numa sociedade esquecida de nos ver. A chuva espelha a liberdade e a vontade de continuar a luta, caindo sobre os sacos de plástico ao som de The only living boy in New York. Então, no refrão, chove um beijo e nesse momento todos gritamos, todos desejamos uns aos outros Good luck exploring the infinite abyss!

sábado, 24 de maio de 2008

O take mais longo

Uma das (poucas) coisas boas que Expiação me deu foi aquele fabuloso plano-sequência na praia. Deixou-me realmente rendido ao espectáculo e à perfeição de uns cinco minutos em contínuo movimento, sem interrupções. Como fã deste tipo de cenas fui investigar nos meandros da rede e deparei-me com esta lista bem jeitosa carregada com mais de duas dezenas de momentos, uns que conhecia, outros que já não me lembrava e por fim, as novidades absolutas. Agarrem então na câmara e deixem a filmar...sem cortes.

Olha quem ele é

Vi-o pela primeira vez à saída da sala de cinema mas pelos vistos ele já andava na minha vida há muito tempo.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull

Ao rever uma aventura qualquer dos oitentas, ou mesmo dos noventas, chego à conclusão, já muito concluída, que o cinema mudou. Já não temos o privilégio de ver a densidade e a espessura que caracterizavam antigas obras, já não pomos os olhos em ambientes fechados e personagens completas. O mercado mudou, as grandes empresas ditam as regras e criatividade está amarrada, sufocada, sem espaço para nadar sujeitando-se a novos conceitos mais abertos e vendo-se obrigada a agradar à pipoca. Cada vez mais temos heróis ocos e vilões de plástico. Tenho saudades do velho cinema, onde os filmes eram feitos para mim, recheados de guloseimas e pormenores, tenho saudades de uma época que infelizmente já não volta.

Isto para dizer que o Indiana de hoje nunca poderia seria o Indiana de 1981. Em parte por esta transformação global da indústria e por outro lado devido à idade do nosso herói, que envelheceu e evoluiu. As comparações com o passado são porém inevitáveis, o selo da saga está lá estampado (para o bem e para o mal), temos sempre um termo de comparação obrigatório que nos leva a dizer que sim, é o mais fraco dos quatro e que sim, não tem a magia latente nos seus irmãos. Então o que restou de Indiana no ano 2008?

Começando pelas coisas boas, tem um início magnifico, levando-nos de imediato para os anos 50, You aint nothin but a hound dog, toca num carro de um grupo de adolescentes cheios de vida que desafiam um dos carros carrancudos do exército para uma corrida. Os seus caminhos separam-se e depressa somos apresentados aos vilões de serviço, russos mal dispostos, que tiram da mala um velho Dr. Jones, que admite imediatamente que não vai ser tão fácil como era...E está dado o mote para a acção, que aqui arranca em grande estilo (seguindo-se uma fantástica cena com um frigorífico) e se prolonga por duas horas de aventura. Aqui o filme não desilude, Spielberg consegue oferecer-nos das melhores cenas de aventura que vi nos últimos anos, desde a perseguição da mota até à perseguição da selva (soberba mesmo!), passando pelas formigas, tudo é feito como só o mestre sabe, aliando a velocidade à gargalhada. Por outro lado, em todo este reboliço a idade de Ford não é escondida, ela está presente na história desde o início e essa auto-consciência é ponto chave no desenrolar dos acontecimentos, no admitir que os tempos mudaram. E é ele que nos dá sem dúvida os melhores momentos e a melhor actuação, com situações hilariantes como a da cobra ou a da biblioteca. A juntar-se à festa das boas interpretações temos também Shia LaBeouf que, e contrariando as minhas expectativas, tem uma prestação muito mais sóbria do que o normal, introduzindo a melhor personagem nova da saga. Em relação ao argumento, goste-se ou não do lado ET da coisa, acho que se conseguiu manter uma ingenuidade e inconsequência características dos anteriores e aqui neste ponto sentimos o cheiro da nostalgia e vemos as vontades de um cinema que já não se pratica. Recheando tudo isto temos as inúmeras piscadelas de olho ao passado que me deram um enorme gozo identificar.

Passando aos defeitos, há uma enorme falha na construção da maioria dos personagens: Cate Blanchett é uma vilã que nunca chega a aquecer nem a assustar; Karen Allen está uma Marion anestesiada e sem qualquer tipo de reacção; todos os outros russos não convencem e mesmo Jim Broadbent e John Hurt estão muito mal aproveitados. Aliado a isto existe também um sentimento de que nada de verdadeiramente novo foi adicionado, sentindo por inúmeras vezes a repetição e o lugar comum. Apesar de toda a aventura falta também suspense e tensão às cenas, não existe palpitações e acelerações dos batimentos, nada está realmente por um fio que nos faça espremer a esponja dos assentos e vibrar de nervosismo.

Concluindo Indiana Jones and the Kingdom of the Cristal Skull é um excelente filme de aventuras, com óptimos momentos de acção e comédia, trazendo ao de cima memórias de um outro tempo impossível de superar. No fim a juventude tenta pôr o seu chapéu mas Ford tira-o e sorri como quem diz o chapeu ainda é meu, e não é que é mesmo!
(+) É um Indiana Jones.Ponto final.
(-) Algumas personagens vazias e uma acentuada falta de suspense.

How happy is the blameless vestal's lot!

The world forgetting, by the world forgot
Eternal sunshine of the spotless mind!
Each pray'r accepted, and each wish resign'd.

Alexander Pope

Os estranhos

Tanto um como outro estão na minha lista de bizarrias a ver este ano. Se um vem da mente do autor de Fight Club, o outro é definido como um casamento entre o Garden State e o Crash de Cronenberg. Choke tem um homem que se engasga propositadamente e repetidamente, fazendo disso o seu modo de vida. Qui Pro Quo tem um locutor de rádio paraplégico que inicia uma investigação sobre pessoas que têm prazer na amputação dos seus próprios membros. Qual dos dois o mais impróprio? Não sei, mas para mim quanto mais estranho melhor!

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Don't give up on your dreams boy

Uma mão cheia de documentários, é o que o actual panorama cinematográfico nos oferece. Está aí a arte de documentar e entreter, com temas apurados e imagens cada vez mais sedutoras este género ganhou sem dúvida o seu lugar nas salas de cinema. E não são só o Michael Moore e o Al Gore que têm o sentido e o tacto da coisa, não é só política e ambiente, há todo um outro mundo para ver: podemos levar umas injecções valentes do mundo dos esteróides com Bigger, Stronger, Faster ; sentarmo-nos comodamente na plateia e ouvir Glass, a Portrait of Philip in 12 Parts ou os ternurentos octogenários de Young At Heart; classificar este ou aquele filme em This Film is Not Yet Rated; subir ou descer o rio em Up the Yangtze e continuar, num sem número de opções e temáticas. Mas falta aqui o dono daquela fotografia, o detentor de uma calorosa recepção em Sundance, o documentário de seu nome American Teen. Realizado por Nanette Burstein (vencedora do óscar de melhor documentário em 1999 com On the Ropes) chega-nos a história, ou o relato, do último ano do secundário de cinco adolescentes, de cinco mentes distintas. Se já estava curioso apenas com o poster (numa homenagem a The Breakfast Club), agora que vejo o excelente trailer, a vontade de assistir a este filme subiu em flecha!E uma das coisas que esta apresentação me deu foi a boa disposição, em parte devido à óptima canção dos I´m from Barcelona que aqui deixo para começaram a semana com um valente sorriso na cara!

sábado, 17 de maio de 2008

Qual é o filme?

(...)
Don't say goodbye,
let accusations fly
like in that movie,
You know, the one where Martin Sheen
waves his arm to the girl on the street
(...)




dEUS - nothing really ends

Lars and the Real Girl


Numa das cenas de Lars and the Real Girl os “anciões” da pequena aldeia reúnem-se para tomar uma decisão: devem ou não aceitar a estranha ilusão de um dos seus? Várias vozes se levantam contra, até uma das velhotas trazer todos à razão, lembrando a cada um as suas manias e loucuras, os seus momentos mais estranhos e peculiares. Esta sublime cena espelha as decisões pessoais de cada espectador em alinhar ou não nesta fantasia.

A premissa não é de fácil digestão, podendo afastar muito boa gente que vê este filme como mais uma maluqueira perversa, da piada fácil e do mau gosto: Lars, um solitário com dificuldade nas relações interpessoais, compra uma boneca numa sexshop virtual e faz dela o seu novo amor.
Quem viu o trailer percebeu que morava aqui muito mais que um vulgar caminho; para ele Bianca é real, com um passado e um presente, com gostos e sorrisos, com virtudes e defeitos, com a carne que o faz dialogar e apresentá-la ao resto do mundo. Quem viu o filme sabe que está aqui o caminho certo; sem saberem bem o que fazer, o seu irmão e a sua cunhada, com a ajuda de uma médica, decidem entrar na ilusão e fingir que nada se passa, passando a palavra e levando uma pequena comunidade a aceitar Bianca, a ajudar Lars. O que nos oferece um conjunto de situações estranhamente divertidas, assentes no evoluir de uma mente fechada que cria um amor ficticío com um objectivo, ela está na cidade por alguma razão diz a médica. Ao divertimento junta-se uma serena balada sobre o ser humano, as amizades e os afectos, tudo com uma suavidade caseira, embalando qualquer coração. A música é a luva na mão certa, os secundários são bastante bons, com especial atenção para Paul Schneider (já tinha gostado muito de o ver em Elisabethtown), e Gosling é (mais uma vez) soberbo, fechando a peculiar persongem no seu cabelo lambido e olhar nervoso, deixando em aberto as questões duma cabeça complexa. E é isso que nos faz sentir família, a oportunidade que a história nos dá de sermos nós os escritores finais, de entendermos Lars à nossa maneira.

Quando cai o negro dos créditos ficamos com a sensação que queríamos mais, quase como se nos tivessem tirado à força um quente cobertor numa gélida tarde de Janeiro. Mas as paixões são assim, e assim como Bianca chegou, assim nos deixou...

(+) A história podia ter descarrilado para tantos lugares comuns mas consegue de forma primorosa levar a carruagem à estação do triunfo.
(-) É um pequenino grande filme que poucos irão ver.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Dois amigos



As cores levaram-me ao preto e branco. Ou por outras palavras a foto de cima trouxe-me a foto de baixo. Ao ver as primeiras imagens de Pineapple Express não pude deixar de recordar uma das minhas comédias favoritas, o Nothing to Lose. Como denominador comum temos dois falhados, dois desgraçados no sítio errado à hora errada, envoltos numa série de peripécias inimagináveis e delirantes. Não se trata da vulgar comédia de pacote, mas sim de uma divertidíssima história recheada de tudo, com os timings perfeitos e com duas óptimas interpretações a encabeçar o elenco (o melhor papel da carreira de Martin Lawrence). É daquelas comédias que me surpreendeu totalmente, ia apenas ao cinema ver mais um filme mas acabei por levar com uma das obras mais simples e ternurentas que a comédia americana algum dia me deu. Esperemos então que Pineapple Express, à semelhança deste seu primo afastado, não seja apenas mais um e faça real diferença nas gargalhadas (eu estou francamente convencido que sim).

terça-feira, 13 de maio de 2008

Hablas conmigo?

Ir ao cinema em Espanha pode ser um problema. Partamos deste princípio. Ou melhor, ir ao cinema em Espanha é um problema. Pode ser um problema muito grave. Não há versões originais dos filmes comerciais. Não há, ponto. Se uma comédia ou acção de terceira categoria até marcha, mesmo com as Cameron Diaz e os Keanu Reeves hablando na língua de Cervantes, qualquer coisa em que a palavra qualidade esteja ligeiramente implícita é terrivelmente atrocidada pela extorsão da língua original. É(-me) extremamente difícil nutrir algum respeito (cultural) por um povo que não conhece a voz do Robert de Niro.

momento flickr (inspired by the movies) #4

segunda-feira, 12 de maio de 2008

My wife is an alcoholic

Best person I ever met. She has 600 different smiles. They can light up your life. They can make you laugh out loud, just like that. They can even make you cry, just like that. That's just with her smiles. You'd have to see her with her kids. You'd have to see how they look at her, when she's not looking. To think of all the things she lives through, and I couldn't help her.

Ernesto

domingo, 11 de maio de 2008

Tom Waits: Glitter and Doom Tour press conference

ser genial é ser isto.

Histórias de um sábado que já é ontem

- A televisão nacional esteve invulgarmente interessante. Nem um filme com o Adam Sandler ou o Rob Schneider, nem um cão ou um macaquinho. A verdade é que deram três óptimos filmes: Die Hard - A Vingança, Batman - O Início e Os Salteadores da Arca Perdida, cada um no seu respectivo canal. Estranho...
- Descobri que Donnie Darko irá ter uma continuação e cheguei à conclusão que certas sequelas deviam dar pena de prisão. Ou melhor, só o simples facto de pensar em fazer o 2 já devia dar multa.
- Ouvi diversas bandas sonoras, cada uma à sua hora, cada uma com o seu interesse e qualidade, cada uma e uma a uma que recomendo vivamente:

Ficava a matar na minha estante

Num passeio pela Fnac dei de caras com isto. Não sou grande fã de coleccionar bonecada, mas estes deixaram-me mesmo rendido. Existem muitas versões e edições mas em qualquer uma delas a minha escolha recairia sobre Mr. Blonde. O melhor é mesmo não começar, senão depois dos cães viriam muitos mais...Continuando na maré Tarantino encontrei (ou relembrei) um poster de Jackie Brown. É um dos meus posters de personagens favoritos. Traduz todo o estilo do filme e mostra-nos uma senhora que (infelizmente) poucas vezes nos dá o ar da sua graça.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Mandy Lane

Agora percebo porque é que All the Boys Love Mandy Lane, é que a dita cuja chama-se Amber Heard e é o que o meu pai costuma chamar de um borrachinho. Esta jovem estrela de 22 aninhos, entrou em filmes como North Country, Alpha Dog e mais recentemente Never Back Down (que penso ser uma espécie de Karate Kid do novo século). No futuro iremos vê-la no slasher movie acima referido, em Pineapple Express, em The Informers e em The Stepfather. Estrela em ascensão ou apenas mais uma cara bonita só o futuro o saberá dizer, por enquanto contentamo-nos com a cara bonita. E sai mais uma foto.


quarta-feira, 7 de maio de 2008

Cashback


[As traduções portuguesas dos títulos chegaram a um ponto que, quando as leio, a minha única reacção é um encolher de ombros conformado. São como aquele maluquinho que todas as terras têm, que vagueia sozinho em acções estranhas, gritando alucinado e pedindo cigarros a quem passa. Quem o conhece já não estranha, limita-se a dizer ele é mesmo assim, coitado.E lá continua ele, no seu mundo próprio sem que as vozes alheias o incomodem. Vamos então vê-lo em acção: Forgetting Sarah Marshall foi traduzido para Um Belo Par de...Patins e Cashback para Bem Vindos ao Turno da Noite. Ia argumentar e tentar explicar porque é que isto não faz sentido nenhum, mas já desisti...já nada me surpreende...]

Aclamado em muitos festivais e nomeado para o Óscar de Melhor Curta-Metragem em 2006, Cashback desdobrou-se agora num filme completo. Sean Ellis pegou no cerne já construído e adicionou duas novas partes, uma antes e outra depois, que se unificaram nuns saborosos 100 minutos.

Primeiro devo confessar (mais uma vez) que sou um fã absoluto do supermercado como espaço da acção, há toda uma dinâmica e uma poesia estagnada que me fascina. Assim como The Mist este Cashback filma-se quase na sua totalidade entre as prateleiras e os carrinhos das compras.
Depois de um doloroso fim de relação Ben deixa de conseguir dormir, os dias duplicam e as horas arrastam-se dolorosamente. Preso nesta insónia constante decide dar uso às oito horas que sobram no seu dia, começando a trabalhar no turno da noite de um supermercado, ele dá o seu tempo, eles dão-lhe dinheiro (cashback). Sem o repouso necessário desenvolve a estranha capacidade de congelar os momentos e vaguear nestes segundos imóveis, apreciando a beleza escondida das coisas. Esta era a premissa da curta e continua a ser a base desta longa metragem, que adiciona ao enredo uma história de amor e novas personagens.

Visualmente Cashback é muito bonito, transformando pequenos instantes em enormes deleites visuais, desde o ambiente consumista e deprimente da superfície comercial , até aos momentos parados num silencioso desfile de estátuas. A contar tudo isto aparece a narração do protagonista, que reflecte de forma perfeita o sentimento de ausência, captando coisas tão singulares que, se não fosse ele, esqueceríamos que elas fazem parte da vida. Constroem-se assim monólogos e diálogos fantásticos que reflectem uma geração desagradada, instalada num meio termo incerto, e que pouco ou nada acredita num lugar ao sol. À volta deste ser temos um leque de criaturas estranhas e diversificadas, desde o louco do patrão até à discreta menina da caixa, que ajudam no estabelecimento de um universo peculiar, típico dos sonhos, ou dos pesadelos.

Por ser um filme que vive à base de parcelas, sentimos por vezes uma certa desfragmentação da narrativa, percebemos que existiu uma certa dificuldade em colar os três pedaços, falta coesão nalguns pontos de ligação. Outra fragilidade do filme é a história de amor e o seu final previsível, que vai contra todo o negrume e diferença do que estava para trás. Fazia falta um desfecho real, mais podre e mundano, um fim à imagem do início, e não o desenho de um conto de fadas. Em certos momentos achei também a caricatura a certo esterótipos demasiado forçada, sente-se o exagero num grito ou dois das personagens secundárias, ofuscando um pouco a linearidade da primeira meia hora.

Cashback não é para todos os gostos. Temos que entrar por completo e fechar a porta. Encontrarmos pontos comuns com Ben e deixarmo-nos levar. Eu achei-me e apesar de ter alguns defeitos, acho que no geral se trata de um belíssimo filme, com momentos que apetece escrever e voltar a ver, com pensamentos do dia-a-dia, da vida, da simples beleza escondida num pacote entornado de ervilhas.

(+) Todo o filme é muito bonito e tem momentos genuinamente geniais.
(-) Falta de coesão nalgumas passagens o que faz com que por vezes o filme perca o seu ritmo.

terça-feira, 6 de maio de 2008

De tanto escrever o meu blogue parou

Até amanhã.

As areias do tempo

Lembro-me daquele dia. Do momento em que vi pela primeira vez o velhinho Prince of Persia. Início dos 90 e um computador cansado, estacionado na sala de jogos da nossa ludoteca, fazia-nos sonhar com as maravilhas mais recentes do mundo dos jogos, do mundo lá fora. Para a altura era um estrondo, tanto a nível gráfico, como a nível de história e longevidade, era aos olhos deste puto o melhor jogo do mundo. As areias do tempo correram, os jogos estão noutro patamar e surge agora o primeiro poster do filme que estreará em 2009. Tem tudo para ser bom e o que eu peço ao senhor Mike Newell é que não estrague o sonho aqui desta criança.

Continua vivo

It´s still alive..ouvia-se na gravação invertida depois de desenrolados os créditos finais de Cloverfield. Mais uma pista para o saco e ficava definitivamente o rastilho aceso para a sequela. E se o primeiro teve uma campanha viral de peso com certeza que o segundo não ficará atrás. Eu como fã absoluto, desdobro as pistas e perco-me de site em site, que nem doido desnorteado, à procura de teorias, de vídeos, de frames com setas vermelhas, de mais sobre a história do gigantesco monstro que uma noite decide destruir Manhattan!Isto tudo porque, vindas não se sabe bem de onde (até podem ser falsas e esse lado especulativo dá um imenso gozo à coisa), apareceram na internet duas fotos do fundo oceânico onde vemos...bem isso agora deixo ao critério de cada um...
Tudo (ou muito pouco) sobre este assunto aqui e aqui.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Para o infinito e mais além


Este blogue faz um ano e para comemorar vamos organizar um ciclo de cinema do Renny Harlin. Estão todos convidados para este evento do qual farão parte filmes como o estonteante Driven, o assustador The Covenant e o arrebatador Cutthroat Island! Two thumbs up!

Estava a brincar. Queremos apenas agradecer a todos os que frequentam aqui o nosso cantinho e continuam a ler as nossas linhas! (Um especial obrigado ao Chainho pela colaboração!)É muito bom fazer parte deste universo cinéfilo, de falar e de ouvir, de dar e receber, de ler, de chegar a casa e escrever.

Estes dois compinchas vão continuar por cá, a trocar ideias e a contar histórias do céu, neste nosso espaço...

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Iron Man

Nunca tinha ido ao cinema tão cedo. Nem sabia que existiam sessões antes da uma da tarde mas a verdade é que, como assinalado no bilhete, ao 12 e 50 lá estava eu no escuro da sala, preparado para mais uma adaptação de uma BD da Marvel. E antes de começar, ou começando pelo fim, deixem-me dizer-vos que achei Iron Man um óptimo filme. Dito isto vamos lá desmontar o herói por peças.

Mesmo sem conhecer os quadradinhos quem viu os trailers leva de antemão uma gorda noção da história e do rumo dos acontecimentos. Lá começamos no deserto onde Tony Stark, um milionário da indústria do armamento, é feito refém por um grupo de rebeldes que o obrigam a construir um inovador missil, fabricado com o intuIto de servir as tropas americanas. Sem grandes alternativas e com uma espécie de íman no peito que o mantém vivo, decide construir um fato indestrutível e assim tentar a sua fuga das fechadas montanhas do Afeganistão. Esta é a base que sustém e desencadeia toda a acção, assente num só homem: Robert Downey Jr., que foi realmente uma certíssima escolha para o papel, parecendo em certos momentos que são mesmo dele as jogadas inconscientes e os toques de arrogância, o poder de ter tudo e conseguir conduzir a sua fábrica para o bem, fabricando uma nova forma de agir. Como qualquer herói que se preze, Stark tem também a sua mais que tudo, Pepper Potts (Gwyneth Paltrow) fiel secretária, empregada, assistente, o crânio por detrás de todos os compromissos e vida social, reuniões e confusões. Formam um par amoroso com uma dinâmica pouco usual mas muito bem conseguida e que dá imensa cor ao filme (o pormenor da prenda que ela lhe dá ser no final a sua salvação é muito bom). A estes dois pontos fortes juntam-se os efeitos especiais absolutamente fantásticos (apesar de não serem inovadores), com cenas aéreas de cortar a respiração, um ritmo muito competente, que nos envolve com facilidade (são 126 minutos que passam a correr), algumas cenas divertidas e um final com muita personalidade.

Apesar de todas estas virtudes, Iron Man não me encheu as medidas, não me fez vibrar e desejar a vitória do nosso super-herói (lembro-me de que no Superman Returns estava mesmo em delírio). Falta alma e ambiente, sente-se demasiado a ausência de uma música forte, de um tema que se devia impor e gravar os tons nas nossas memórias, um quadro pintado, ruas mais espessas que se associassem a um certo universo que não é de todo definido. O que não temos também é um vilão à altura: Jeff Bridges tem uma boa actuação mas nunca chega a ser o mau que se precisa, não consegue a densidade necessária, sem contar que rapidamente lhe descobrimos a careca. Chegamos ao fim sem nenhum momento para levar para casa, sem grande tema de conversa ou alguma controvérsia. Faltava algum rasgo criativo, alguma invenção que agitasse o passo certo da fita.

Feitas as contas Iron Man, apesar de não salvar o dia, é um excelente entretenimento, construído com bons actores, muita acção e algum humor. Um bom pontapé de saída para a promissora época que agora começa!

(+) A personagem Tony Stark.
(-) Nunca consegue ser memorável.

NOTA - esperem até ao final dos créditos para verem uns 40 segundos bastante curiosos.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Foi engraçado encontrar a paz num filme de guerra

Vinha no caminho a pensar em meia dúzia de palavras. Em conceitos que aqui montados vos dessem uma ideia de paz. A solidão de uma viagem cansada tem destas coisas, vemos sozinhos outros sítios, vemos tanta coisa que nunca vemos a estrada. Cheguei a duas ou três composições, repeti-as com as manias e tiques de uma condução acertada, soavam a enjoo. Queria mostrar o segundo antes de um final, a imobilidade antes de uma tempestade, a serenidade antes da queda. Gosto desse instante, e só me saíam poemas quadrados com quadras pobres, sem milho nem trigo para alimentar o mais faminto dos leitores. Queria cortar aquela fatia de tempo onde poderia viver o resto, o que ainda tenho e o que ainda vem, queria mas só caíam contos desajeitados onde o casal morre, onde saiem todos destroçados. Até que cheguei. A casa e ao mar. Não tenho as letras desta cena, mas tenho um soldado que decide ser apenas homem e mergulha na calma azul do sossego, onde os corpos deslizam lentamente e uma canção flutua ao ritmo de cada vontade.