domingo, 30 de julho de 2017

O jogo de todos medos


O amadorismo de Fear, Inc. até podia ser pitoresco. Engraçado, se no final conseguisse descolar. Desprender-se das referências e apresentar um puzzle novo. Porque os ingredientes estão lá e estão lá bem: ironia, paródia, reflexão. Estica-se com alguma bravura mas depois não se concretiza, não se propõe a mais do que um sistema de bonecas russas, de homenagem em homenagem. E isso por si só já chateia.

sexta-feira, 28 de julho de 2017

No fundo a culpa não é minha


Ela chegou a casa e topou logo. Depois super discussão. Ainda tentei mentir, não, a sério, vi o Synchronicity por causa da gaja, a sério, foi pela gaja, é bem boa, chama-se Brianne Davis e é bem boa. Nada feito, conhece-me em demasia e viu nos meus olhos. Lá tive de admitir que tinha acontecido a recaída e que tinha voltado a ver um filme de merda time travel. 10 meses limpo para isto. 

Destino obrigatório para estas férias


Vamos lá sentar bem na cadeira: Valerian and the City of a Thousand Planets tem a melhor cena de ficção científica da década. Fazendo ainda peitos a muito bom portento que está para trás. O mercado, aquele arranque narrativo alucinante, do que vemos e não vemos. Acreditamos e desdenhamos. Ali no meio do deserto, pões os óculos e zás, um passeio pela indústria, pela história e no final ainda trazes uns brindes, ainda vês o que sobrou. E eu via já tudo de novo. Uma troca, um resgate, um ritmo impiedoso que se embrulha simultaneamente em tempo. As cenas voltam a ser cenas, senhoras com identidade, idade e memória. Besson sabe e quer dar-nos isso. Este e o outro. E a outra grande conquista da sua obra é esse movimento, tão bem recebido e desembrulhado: o CGI como parte da travessia, corpo e parede da jornada, orgânico, imersivo, sem nunca cair no cansaço automático de uma amálgama de explosões. Não, estamos na cidade dos mil planetas, que apesar de mil não deixa de ser uma. Unidade, de aventura em aventura, da dança da Rihanna ao chapéu branco da Delevingne. O resto poderia ser o serão mas é apenas a deixa, para vós, Valerians desta vida. 

terça-feira, 25 de julho de 2017

Baseado obviamente numa história verídica


O ritmo documental abre, a espaços, um claro e fresco policial. Saltos de pista em pista envolvem o filme mais no mistério e menos no found footage, ou melhor, o mistério usa o found footage e não o contrário. Acabando o terror por ficar de lado, dando de facto intensidade e acendendo a curiosidade. Só é pena que a resolução não tenha o mínimo de respeito por esta construção, por qualquer espectador fã groupie do género, com 896 películas destas no currículo, que só pretenda o mínimo de invenção. Como no The Dyatlov Pass Incident, por exemplo. Não, encaixa na cassete final e resolve facilmente com a desculpa tremida e óbvia. Sem rede, sem intriga, sem nada. Mais uma. 

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Bem, vou só ver mais uma vez

As probabilidades sempre nos indicaram esse sei lá possível, de todas as combinações, factores, a colidir para que o produto resulte. Tudo conta, tempo, espaço, eles, nós, zeros zeros e mais zeros. É difícil fazer um trailer falar; mais difícil ainda falar connosco. O trailer da segunda temporada de Stranger Things tira esse coelho da cartola. E deixa-nos de boca aberta, em 2017, como se houvesse espaço para espanto neste presente. Há, e há lugar para esta saudade, esta família, que, apesar de envolta na fantasia do CGI, segura um real, uma orgânica, uma proximidade. Os planos sempre em cima, os rostos, os ícones, é já ali ao lado. E por ser tão perto, para mim já ganhou.


Afinal as teias estavam lá


Spider-Man: Homecoming, ao contrário do que nos tentaram exaustivamente vender, começa sem amarras. Com suas teias fresquinhas, logo a reinventar a cena do último Capitão América e a tirar a água do capote. A descartar aquele cansaço que foi, aquela enxurrada de personagens, teasers, introduções e trambolhões. Hoje não, hoje é este puto, a pedir com graça que voltemos a acreditar nos super heróis. Ironia das ironias, já ninguém acredita, já ninguém tem pachorra. Ele sabe disso, ou não fosse ele protagonista daquela deliciosa cena, de toda aquela frustração. Bestial, assim como o vilão, um Michael Keaton sempre seguro a segurar intenções humanas e não a eterna parvoíce de controlar o universo com a merda dum anel ou um rubi, ou um anel de rubi. Para te levar ao concerto que havia, bem vocês sabem. O problema, é que mais ou menos a meio, talvez mais perto do último terço, o filme se descarte de responsabilidades, do verdadeiro "baile de finalistas". O próprio twist é arrastado para o final de forma a evitar o confronto e a problemática: ou seja pedem-nos que sejamos homenzinhos mas depois acabam por nos dar apenas carrinhos e bonecos de brincar. E havia lá mais, bem mais. 

domingo, 16 de julho de 2017

E durante todo este tempo era o macaco que tinha a chave


Afinal era tão fácil. Bastava virar a câmara. Mudar de sujeito, objeto, foco. Esquecer, finalmente, os James Francos, Freidas Pintos, Jason Clarkes e Keris Russells desta vida, pôr de lado a pastelice humana e apagar a fé. Admitir e finalmente circunscrever um protagonista, o protagonista: Caesar. E começando no que poderia ser uma perna mais curta, uma falta de orgânica, os efeitos especiais que dão vida a esta malta estão absolutamente maravilhosos. Não me lembro de recentemente ter ficado tão absorto e convencido pelo digital e pelo fabricado. Apoiados por cenários muito inteligentes e austeros, levando-nos rapidamente ao segundo ponto. O argumento. Leva o debate, o cruzamento, do que é ou não humano, pensante, digno e verdadeiro para outro nível. Baralha os olhares e no meio da luta quer realmente deixar algo, muito cinzento. Para além disso, o material promocional foi macaco - foda-se que trocadilho - e escondeu o filme, dando apenas pistas. Resultando então naquele que é sem dúvida o blockbuster mais interessante do ano.

quinta-feira, 6 de julho de 2017

Ela existe


Aquele artifício esperado, das renováveis hollywoodescas, é aos poucos substituído por uma ambição fóssil. À medida que nos embrenhamos na selva - ou nele próprio - vamos tirando o plástico; não que isso implique tirar a poesia, nunca, as imagens estão lá, apenas e sempre para nos trazer a história. O compromisso, os laços. O que perdemos e queremos encontrar, está ali, existe. Belo filme.

terça-feira, 4 de julho de 2017

Também me lembrei do miúdo dos auscultadores no Face/Off


A cena é de facto muito parva. Mas se virarmos a câmara, mudarmos o ângulo, num filme absolutamente anónimo, idiota e mecânico, um bebé com auscultadores aos trambolhões de um lado para o outro acaba por ser refresco. Como a pimenta no cu dos outros. Um desvario digno das comédias infantis dos anos 90 e a mais que merecida homenagem a essa enorme e inconfundível obra de negligência parental Agarrem Esse Bebé

domingo, 2 de julho de 2017

A mãe da galinha dos ovos de ouro


Até quando é que as comédias americanas vão recorrer à temática paternidade/maternidade para as suas sequelas? Então como é que enchemos mais 120 minutos disto? Podíamos trazer os pais, podíamos trazer as mães. Mas a história é igual não é? É é, a mesma merda. Pronto, então vamos lá. Um filme, que eu nem sabia que existia, com o Ferrell e o Wahlberg, tem agora continuação com os respectivos progenitores Lithgow e Gibson, Daddys Home 2. Quase tão abjecto como A Bad Moms Christmas, que para além de usar a do natal usa a carta mamãs das mamãs. E assim em surdina lá se vai enchendo o rabiosque, mais uma volta. 

Então mas hoje não sai nenhum filme com o Nicolas Cage?

Ah espera. Sai sim.