quinta-feira, 23 de agosto de 2018

A resistência tagarela


Richard Linklater continua a querer conversar. E só essa gana de diálogo, de o escavar, seja por que portas e travessas, deixa-me sossegado. Confiante. Tudo para aquela cena do comboio, em que os velhos amigos se salpicam em velhas histórias, de intimidade e saudade, tão ao sabor da verdade que queremos ficar ali o resto da viagem. Não tinhas de sair? Não. Não tinha. 

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Essa é a cara dele em pânico


O Tom Hardy dos pobres foi pedir um Venom aos pais, para o Natal. Eles despacharam logo a coisa e ofereceram-lhe afinal, surpresa das surpresas, o Robocop, o Transcendence e o Death Sentence. Sortudo. Esta reciclagem de Upgrade, apesar de suscitar sempre aquela reviravolta ocular ao início, poderia ser superada se o filme tivesse força e identidade. Se fosse claro quem é e nas suas referências escrevesse algo visível para  o espectador. Mas não, acaba por cair às mãos de diálogos frouxos e de um elenco que já não se pratica para produções acima dos mil euros. Quando o vilão espirrou juro que ouvi um bom ator a morrer de ataque cardíaco, algures no mundo. A própria ação é demasiado segmentada, falta-lhe massa para desenhar uma mitologia, para nos poder engolir. Desculpa lá moço, aqui não chegou. 

Capitão Falcão, onde estás tu amigo?


Seria injusto dizer que o que se esconde por debaixo é indecifrável ou invisível. É clara a intenção de um mosaico de histórias meio perdidas, meio chungas/sci-fis, naquela onda grindhouse onde Blood Drive leva a taça de um bom passado recente. Mas supostamente seco este é um formato bem escorregadio, não tanto pelo carácter revivalista mas mais pela (aparente) ausência de regras. E é aqui, neste mais olhos que barriga, que Linhas de Sangue se estatela ao comprido: não percebe o que cabe e o que não cabe. O que é e o que não é. Com isso perde-se foco, perde-se tom e acima de tudo perde-se a ideia. Se segmentos como o da Marina Mota são exemplos do que o todo poderia ter sido - uma sequência com graça, sólida, bem desenhada - os restantes tomos são caricaturas dos seus próprios esquissos, descontrolos totais de realização e representação. Humor pateta, pobre, sem tempo de entrar nem tempo de respirar. Mesmo quem resista duas horas à gritaria é trespassado por um final apressado, claro na sua incapacidade de fechar, de em última hora oferecer o tal filme que vinha escrito no bilhete de cinema.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Arranha pouco


Toda a gente a gabar o Tom Cruise no último Missão Impossível e ninguém se lembra, que mesmo ali ao lado, está um trabalho/entrega/esforço cem vezes maior. Sim, muita gente não sabe mas Dwayne Johnson saltou mesmo daquele guindaste para um prédio de 300 andares em chamas no seu Skyscraper. Mais, ele cortou mesmo a perna - direita ou esquerda, já não me recordo - para o filme ser mais realista. Ela agora cresce, porque é o The Rock, mas mesmo assim chiça! Se isto não é trabalho de ator não sei o que será, sinceramente. Quanto ao filme, para além daqueles insistentes suspiros por Neve Campbell, resumimos a coisa desta forma: todas as cenas do Die Hard que correram bem neste aqui correm mal. Tudo o que resulta no outro, neste não existe. Parece uma peça da escola, mas sem pais e, mais triste, sem palmas.

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Teremos sempre Paris. E zombies.


Tenho para mim, que quando recorremos a outros títulos para caracterizar/descrever/definir o título atual, a coisa falhou. Não há autonomia nem embate suficiente para o clássico "pelas suas próprias palavras". Claro que depois nos caem no colo desafios mais híbridos, para os quais tentamos desesperadamente encontrar soluções originas. La nuit a dévoré le monde é um desses malandros: uma adição inteligente ao género zombie, que sabe jogar de forma exemplar com os escassos recursos e as poucas peças que tem ao seu dispor. Porém, e agora vem a cara triste, não deixa de ser o casamento poligâmico do REC com o Cast Away e o 28 Days Later.