domingo, 30 de abril de 2017

Colossal


Podia estar aqui o resto da tarde, a bater com os meus dedos de batata frita nesta tecla e na outra, que não iria fechar a equação. Colossal é o meu filme, os da categoria do coração ou do adoro muito tanto. Sem haver minuciosa demonstração. E o mais engraçado é que os números estão aí. Os posters são deliciosos. Os trailers assumiram de forma inteligente o rastilho, sem nunca queimar cartucho. O argumento, é uma construção hábil de um regresso à infância com uma simultânea dose - negra - das responsabilidades da vida adulta. Das transformações, aquele virar. Quase que não damos por ele, o némesis, e por os outros tons que de repente se apropriam da comédia. Assumindo-se sempre como um sci-fi original, como uma parque infantil a explorar. Como aquele nosso filme que nunca dá bem para explicar.

Guardiões da Guláxia


Ao olharmos para Ayesha, a vilã de Guardians of the Galaxy 2 Vol. 2, assaltam-nos logo imagens de Prince Nuada, o vilão de Hellboy II: The Golden Army. Ambos dourados, pintados, servindo de motor à comparação. Necessária, para não trazer o quadro e o giz. Para não levar tau tau no final da sessão. É que o filme de Del Toro tem essa presença, essa voz, para que todos se lembrem; existem aquelas criaturas, aqueles ambientes. Personagens, os sítios são criados com personagens, que nos acolhem e constroem. Gunn faz tudo ao contrário, acrescenta peças que não interessam - para quê o arco da Nebula? - e retira-as onde elas deviam existir - as cenas no planeta de Ego por exemplo, são bacocas, carregadas de CGI e desprovidas de odor ou sabor. Os grandes recantos sci-fi encontram-se a espaços, especialmente nas cenas com a trupe do Yondu, mas não chegam. Não chegam para dar ritmo a um filme que se enche dele próprio, que se faz refém do seu brilho, agora tique, agora demasiado repetido e mastigado: como a música, até quando temos de ver planos da cassete? Já sabemos que é a remistura fantástica 2 e que possivelmente está à venda. Já sabemos das câmaras lentas. Já sabemos que o Baby Groot é super fofo. Já sabemos, agora repetir tudo em larga escala deixa de ser mais e passa a ser mais do mesmo. E eu gosto destes protagonistas, talvez os meus predilectos neste universo cinemático da Marvel, conseguem fazer-me rir, bons diálogos e referências hilariantes, daí ser um pouco revoltante esta gula da meia hora a mais. Esta fome de carregar o ato final de efeitos e explosões, até cansar, até se perderem os elos. Até pedir, como canta o Tiago Bettencourt, que nos devolvam os laços. 

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Esta Hollywood portuguesa não perdoa


Alguém me explica, em duas linhas que filme é este do Sérgio Graciano - produção Leonel Vieira - e porque é que ele é cópia a papel químico do Open Water 2: Adrift? É mesmo remake à tuga? É isso? O que vem a seguir? A Descida com um grupo de espeleólogos na Arrábida ou o Rio Selvagem no Paiva?

Regresso ao futuro


1923, quando eu escrevia crónicas de cinema para o jornal local e não sabia escolher fotografias.

sexta-feira, 21 de abril de 2017

Muita atenção


Chama-se Riley Keough. É a pedra estacionária de American Honey. É também neta do Elvis. E este ano vai rebentar em força, apertem os cintos.

quarta-feira, 19 de abril de 2017

O amor não acontece


Como já aqui tinha referido, não existia convite mais claro e mais honesto. Um gajo só cai porque quer. Porque quer e porque o rómance é uma coisa linda. E lá está, plano a plano. Nem é bem uma adaptação para carne e osso, é mais daquelas reconstituições foleiras dos documentários criminais, com não atores a darem vida ao crime. É isso, pessoas a recriar algo que aconteceu, sem acontecer. Depois cantam, minuto sim, minuto sim, cantam muito e parece num suspiro que nunca mais acaba. Quando acabou bateram palmas. Claro.

domingo, 16 de abril de 2017

Outro texto


Este texto nem sempre foi este texto. Ao início era só um convite para discutirmos o final de Another Earth. Uma pergunta, proposta, até podiam não estar para aí virados. Depois rapidamente passou para o efeito Brit Marling e o seu uso das histórias. Do storytelling como ferramenta fundamental para o imaginário do próprio percurso. Poucos têm esta habilidade de usurpar as nossas referências e usá-las em prol de uma narrativa - a cena do cosmonauta. Entretanto apaguei, e já só aqui tinha uma imagem, como se o espanto desta intimidade espacial não pudesse nunca ser explicado.

sexta-feira, 14 de abril de 2017

Achei mal ele partir a máscara, há aí muito bom vilão a precisar duma


O Luke diz que é tempo dos Jedis acabarem. Vem cá a Portugal tentar fechar atividade nas finanças e logo vês se continuas com essa ideia. Ninguém acaba com ninguém, vamos mas é ver o trailer mais 20 vezes, especular outras tantas e esperar que em agosto não seja tudo refilmadinho.

quarta-feira, 12 de abril de 2017

Tranquilidade Harrelsoniana


Eu acredito francamente que enquanto tivermos Woody Allen e Woody Harrelson tudo fica bem. O primeiro já aqui levou mimo, o segundo nem por isso. Aliás, o segundo é daquelas peças que de repente nos explode na cara: foda-se, que maravilha, andava adormecido, eu. Ele, liberta aquela presença magnética, embebida - ironicamente - numa naturalidade e contenção, como se fosse o vizinho do lado. Atabalhoado, com os seus problemas e palavrões. Assim em The Edge of Seventeen, a comédia bonitinha a quem ele decidiu roubar todos os momentos e oferecer a razão que faltava. É o maior.

terça-feira, 11 de abril de 2017

Que se come frio mas frio


Só por si, isolar a ira no elenco, já é de homem. Percebemos que não foi só fogo de título, que ela existe e vai andar, caminhar, atuar, que nem gente. Mas é que para além disso, Tarde para la ira - a estreia bruta de Raúl Arévalo - usa o substantivo como elemento de subtração, do resto que foi sendo anteriormente apresentado. Todos os outros nomes sucumbem e desaparecem no olhar vazio, na fúria, na raiva, na cólera. Sem ter que cair em facilitismos de novela ou hesitações.

segunda-feira, 10 de abril de 2017

E o José Raposo meus amigos?


Há uma cena - para mim uma das mais incríveis e violentas cenas deste ano - em que vemos pai e filho, à distância, num parque de estacionamento. O mesmo plano, os mesmos metros, como se fossemos obrigados a assistir sem vidro mas com cinto. A estar longe mas dentro, impotentes. E nisso São Jorge não tem dó: os grandes e desolados espaços, intercalados com a confusão apertada do movimento, o balanço a acompanhar o corpo, a arrastar-nos. Ouvem-se as correntes, sentimos um sabor pesado na boca. Não é apenas obrigatório como pedaço de história. Como sirene. Como exemplo de um ator que se apropria e deixa apropriar, no seu todo. É vital como filme, como uma magnífica estocada de cinema.

sábado, 8 de abril de 2017

Nova vida, nova carne


Vi-o hoje, no primeiro dia do festival "Fim-de-semana fantástico em minha casa". Não estava muita gente. Aliás estava só eu, o que não tirou magia ao ambiente. The Void vem aquela imagética fatal dos anos 80, do terror material, da carne pela carne, Carpenter e Cronenberg. Belíssimo no modo como se promove e se vende, não há como dizer que não. A história é simples, um polícia e mais uma malta bem estereotipada, ficam presos no interior de um hospital a braços com uma criatura que não lhes quer bem nenhum. E se este arranque é o certeiro, falta um embrulho mais coeso e fechado para se conseguir desenhar uma mitologia. Porque se os atores não ajudam, a dispersão e confusão do terceiro ato tornam tudo ainda pior, pouco sólido. Não há uma aura, um local, como por exemplo Siren criou tão bem. O final claramente tenta ser a ponte para um compromisso que infelizmente não chegou.

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Antes de ir embora


Eu sei que é sexta e que vocês querem descansar. Mas há coisas que temos de resolver, questões que não podem andar ao pendurão, simplesmente não podem. Assim, antes de irem comer os hambúrgueres com rúcula, respondam lá a uma das grandes problemáticas da causa cinematográfica: qual é afinal o melhor filme da Elle Macpherson?

As despedidas do José Augusto


O José Augusto é que sabia, ou como dizem nos botecos, é que a sabia. Toda. Percorrendo o imersivo vídeo oficial de Aguenta Coração - onde ele anda todo de ganga, no Gerês - percebemos que também não resta mais. Agora aguenta coração, já que inventou essa paixão. Não dá para fugir à fonchonada e ao beicinho de quando as nossas séries terminam. Black Sails, um adeus fora das previsões, da lengalenga de não acabar bem ali, arrumado, conciso, espectacular. Vai fazer tanta falta, a aventura. Man Seeking Woman, é oficial, não há mais. Terminou limpinho, a dar o nó com a ponta inicial, fechando uma incrível antologia de costumes, ritos e tantos outros tiques ridículos, a que chamamos quotidiano. Muita falta, a irreverência. Por último The Leftovers, ainda não acabou e já dói, promete tanto que já dá. No último trailer ouvimos ABBA, SOS. Não vale a pena pedir ajuda, resta-nos passear em frente a cachoeiras e sofrer. Como o José Augusto.

segunda-feira, 3 de abril de 2017

É uma espécie de Rocky Balboa


Até os trailers, trabalham a contenção e a surpresa. Feitas as contas, mostrando pouco, muito pouco, ou como ensinam na escola "o essencial". E é que nem professor a corrigir um quase 20 que assistimos a Logan, de questão em questão, sempre a acenar com a cabeça, sim, sim, sim. Mangold faz o que poucos podem/querem: lê a personagem, constrói o filme dela, a partir dela, como raízes do tronco e só depois pensa nas folhas, ramos, raiva, sangue e tripas. São essas rugas, cruzadas com uma secura violenta e saborosa, que nos levam depois ao universo de origem. A tudo o que temos direito, e os maluquinhos, até esses foda-se, podem festejar a vida. Os mutantes, sempre eles, a marcar passo e a relançar os dados. Trocando as voltas, cravando num adeus a mais bonita das esperanças.

domingo, 2 de abril de 2017

E mais não escrevo para não estragar a descoberta


Muito estimulante, o modo como The Discovery joga com as referências, fazendo delas pistas de um hábil labirinto. Logo nos primeiros minutos, aquele tom meio chuvoso, que nem é cinzento nem é azul, com névoa e claridade em doses precisas, para que tudo "pareça". Eternal Sunshine of the Spotless Mind, é certo. E depois, quase sem nada, oferecer uma adição interessantíssima a um género que não pára de surpreender: a ficção científica low cost, cada vez com mais relevo, poder e importância. A ditar novos debates, a trazer à vida aquilo que em nós nunca morre: ideias.