quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Somos a fachada de uma coisa morta

Joga no campo do desconforto british, para termos pena enquanto rimos. As tais gargalhadas arrancadas, podem bater palmas, podem bater palmas. Nós sabemos que podemos, mas não é de bom grado fazê-lo, assim à vista de todos. O egoísmo é um veículo efectivo da solidão, mas atiramos a cara para o lado. João Cunha agarra-nos então nas bochechas e choca de frente. Magnífico no papel d' O Humorista, o rei que ninguém (re)conhece. Ninguém, a música que de forma quase promíscua se invade nas imagens. Tínhamos aqui a pérola nacional do ano, não fosse existir uma autocaravana chamada Calypso.


segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Enquanto dormias

O elenco de Les Miserables sobe ao palco para cantar, um de cada vez, depois mais e mais, até que estavam todos a gritar em simultâneo. Mas uma gritaria que parecia daquelas turmas da primária que não acertam com os cantos festivos. Ninguém vos convidou e saltaram todos para ali, foi? Ou simplesmente não sabem o que estão a fazer? Como o resto, que tenta ser uma gala mas é um conjunto de agradecimentos, desinspirados. Adormeci. E a vantagem de ficar bêbado é abrir os olhos de quando em vez, no limbo, e não perceber que Hathaway ganhou mesmo um oscar. Ou que a Michelle Obama estava a apresentar o Melhor Filme. É tudo a brincar, pensei para mim, é tudo da tua cabeça, pensei de novo. Com a almofada babada, e os sonhos ainda no ON, rastejei até à cama. Amanhã logo se acorda.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

John Murphy (2)

Desculpem lá

Cristoph Waltz vira-se, encolhe os ombros e pede desculpa. Não conseguiu evitar, diz ele. Recordei-me de Norton e seu American History X, o mesmo gozo sanguinário, festejando ao de leve a ironia. O pedido não é feito apenas ao filme mas também a nós, para que aceitemos tal intromissão. Está ali a ser feito cinema, a ser gravado na carne, e nós temos de perdoar. Nós que não somos poucos. Ontem estava a caminhar para o cheio e é raro, ao sábado. Mas trata-se do último Tarantino e a verdade é que as pessoas ainda se movem para ver o último Tarantino. Como antigamente, quando íamos a tantos últimos acontecimentos, para nunca mais esquecer. Não há outro realizador que consiga tal corrida, que desperte tal memória, vivida não só nos assentos e seus ritos, mas na tela e na própria obra. Pede desculpa, não só por nos arrastar mas por nos arrastar com causa: este é o seu mundo. Ouvimos as gotas a escorrer da garrafa e a cair no tapete, o suor, em constante esticar, para depois rebentar entre as quatro paredes. Maravilhosa catarse, tão sua como nossa, do seu palco para a sua plateia. Tapo os ouvidos, a cena rebenta, eu rebento com ela. Saciado penso no pedido de desculpas e retribuo com o mais sincero dos obrigados.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Em conversa comigo surgiu de novo Monsters. Mas tu já lhes contaste, disse eu. Penso que não, respondi. Seja como for, é caso para o oculto, o filme que se vê, não se gosta e depois cresce. Pensar. Como explicar uma invasão tão intíma e tão profunda? 

Sequelas sem jeitinho nenhum (19)


É aquela fase Jim Carrey que passo. Os primórdios excessivos, cruciais, mas não tão essenciais. Um detective de animais, com métodos pouco ortodoxos, espalha magia aqui e ali. E na melhor tradição dos 90's a sequela é fora do país. Na altura era uma espécie de bigger is better. África, morcego, cocó de morcego, só rir. Não, mas respeito. O que não respeito é uma coisa intitulada Ace Ventura: Pet Detective Jr., com um redondo 2.0 no sítio do costume. A história mete um puto obeso que diz ser o filho do Ace Ventura e tem que salvar a mãe acusada injustamente de roubar um panda bebé. Directo para dvd na altura, directo para o saquinho das memórias apagadas agora.


Previsões para os Óscares

Seca do c******.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A quanto obrigas

Julianne Moore, como cantam os Azeitonas, e que eu morra aqui. Sabes que sim. O problema é aquele filme onde teu filho desaparece e depois há extraterrestres ao barulho. E passar as duas pernas por cima dessa barreira para ver 6 Souls? Ah pois, ainda por cima um filme que mudou de nome e que é mais velhinho que todos os filmes lançados em 2010. Não é fácil.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Eu sei, já devia ter visto. A tratar disso, a tratar disso.
Ver todos os filmes nomeados à categoria de Melhor Filme é como um semestre na universidade. Vamos gerindo o tempo de formas diferentes, apostando logo nos cadeirões ou limpando por frequência as disciplinas mais fáceis. Eu armei-me em esperto, malhei logo o Bradley Cooper e o Bin Laden, e agora, nas vésperas, tenho pincéis como Os Miseráveis e Lincoln. Dureza.

Foge Saoirse, foge

Conta a história de uma loira, trintona, má actriz, que persegue outra loira, que tem quase vinte, boa actriz, para a transformar numa pastilhada juvenil sem feições. Logo a levar com os danos colaterais do photoshop. Existem também dois mamarrachos maus actores que fingem ser bons mas que no fundo só a querem beijar na boca, e levá-la para o lado negro da representação. Tudo filmado no set de The Island

Daqui a oito vou estar aqui, à espera, trauteando: não vai ser assim tão mau, não vai ser assim tão mau, não vai ser assim tão mau, não vai ser assim tão mau.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013



Não consigo dominar

A inquietação de estar além, provocado pelo magnífico genérico, transforma-se numa angústia prolongada. Um episódio atrás do outro. Como é que clássicos, fórmulas e referências do livro se condensam para nos oferecer isto? Isto, Odisseia, cheia até ao topo, com tudo o que falta e com tudo o que está para vir. A beber daqui e dali para no final produzir algo eternamente novo. Community faz isso como ninguém. Nogueira e companhia igualam, tanto na memória - inesquecível homenagem a The Deer Hunter - como na criação de novos ícones - o guarda-roupa por exemplo. E ao lembrar estão a criar, sempre. Sempre com um cuidado cirúrgico, pensado na ténue linha, que se auto corrige, que se auto avalia, no risco e na vontade de uma jornada impossível. Eu estou lá.
Da rubrica "notícias cinéfilas que me irritam": o não sei quantos vai ser filmado em 3D.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

A desculpa é The East.
Where is Jessica Hyde?
When Lost Highway was first released, Siskel & Ebert gave it two “thumbs down.” David Lynch had this poster made to promote the movie.[F]

Despojos de verão

Opá, a miúda é fofa, a fotografia é amorosa e a música é bonita. Mas sejamos práticos: não se passa nada no raio do filme. Zero, nicles. Ahhh, grita ela enquanto foge do pai e depois, ahhhhh, grita ela enquanto corre atrás dele. Claro, a liberdade e o que ela implica. Os parâmetros de uma felicidade sem fronteiras, barreiras, assente no exemplo do sul. A terra como elemento final do nosso bem-estar. Preservar isso, sim. Porém os versos do poema repetem-se uma e outra vez, muito estéticos, sem nunca conseguir chegar ao lado de dentro. Por exemplo, e agarrando no seu siamês, em Winter´s Bone sentíamos o atrevimento, o incómodo. O intimismo gelado contido na navalha. Aqui não, aqui fica apenas o calor de um fogo de artifício. 

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A balada dos últimos heróis

Eu comecei logo a estranhar. Receitas de bilheteira baixinhas, a sequela em perigo, oh diabo mas tu queres ver que isto é bom? E não é que é mesmo. Jack Reacher volta a trazer inteligência a um género que já não sabia como. Uma classe que só Cruise, com os seus largos anos, consegue de facto resgastar. Rendido, eu que sempre franzi nariz à sua pessoa. Valente viga de coragem. Valente vontade de não esquecer. Bons diálogos, boa comédia, boa acção, tudo bem. Entretenimento gourmet no universo vómito da fast food.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Aviso

Nem que vos ofereçam um visionamento especial de Pacific Rim para amanhã, não vejam Silent Hill: Revelation 3D. A sério, fujam, salvem-se que eu já fui. Já lá estive e lá morri. Devaaaaaaagarinho, como só um disparate deste calibre sabe espremer. A protagonista parece a Michelle Williams com menos dez anos, o Jon Snow está gordo, o Ned Stark está de cabelo curto logo não morre e a Trinity é o mau do Hellboy 2 só que sem pilinha. Se não é parece muito. Depois um cavalheiro com uma pirâmide na cabeça e uma absoluta ausência de narrativa. História, acção, lógica. Nada. Por isso grito, por isso gritem: run Forrest, run!

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Meia dúzia

Culpado. O cinco deu tanto gozo que o seis só pode ser filho do mesmo êxtase. E amigos, já corre por aí trailer e tudo.

Entrevista com as vampiras

Já ando para ver Ondine há muito muito tempo. Há tanto tempo que deu tempo para Jordan voltar aos vampiros. Há que tempo. Assim chega Byzantium, crónica feminina, com sangue, Gemma Aterton e Saiorse Ronan. É afiar os caninos.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Eu sei como é possível

Ben Affleck ganhou tudo. Escândalo, apertadas estatísticas. Como pode não estar nomeado? Como pode? Então vá, eu explico. Não está nomeado porque, a par com Bigelow, não merece. Não merece. É refeição sem o mínimo de sal ou visão, recriação simples de uma fábula que correu bem. Para aquecer os corações mais mimados. Claro que a noção de justiça da academia é distinta da minha mas por vezes sabe bem casar por conveniência. 

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Not So Serious Awards 2012

Se há post certinho que nem um relógio, ano após ano, é este aqui. Súmula do rídiculo e inacreditável, escrito na eternidade da propaganda. A deliciosa lista aqui. O meu favorito já de seguida. 

Worst Attempt at Looking Macho Award goes to Shia LaBeouf in his character poster for Lawless.

Existem seres que me irritam. Depois existe o James Franco. Agora está de tranças e dentes podres. Santa pachorra. 

Eu acho que não deviam chibar

Mas uma vez que chibaram, aqui está a arena dos próximos jogos.

O peso de ser Bigelow

And then I'm gonna kill Bin Laden. Ah valente, até parecias a noiva do Kill Bill, mas não és. Se ao menos tivesses metade. Sim, se ao menos tivesses metade daquela gana Maya talvez as coisas tivessem ganho outra forma. Para além da mesa plana, por onde o filme corre, preso ao documental. Foram estes os acontecimentos, dizem, sem nunca nos deixar chegar perto, supostamente na contenção neutral. Para depois cada um concluir sozinho. Isso não satisfaz na medida em que nada vive, não casa com a bomba relógio que foi Hurt Locker - abaixo as expectativas - onde se cuspia o sangue e bebia o suor, o vício. Perdeu-se tudo em nome da história. Se é que ela alguma vez decorreu assim.