[SPOILERS] Aos vinte minutos de filme, já depois da viagem ter começado, pensei - Ah de certeza que no final a jornalista veterana falece e a novata regista o momento. Depois esbofeteei-me. Não sejas parvo Miguel, é o Garland caralho. Não é um tarefeiro qualquer. É claro que ele vai procurar outro caminho. É claro. É claro que não. E saltando essa barreira da expectativa autoral, encharcadinhos de previsibilidade, podíamos ter esse mesmo final se existisse uma construção/ligação entre essas duas personagens. Era necessário sentir a transformação, a energia de uma que se esgota em prol da metamorfose da outra. Falta tempo, falta química. Os diálogos pouco trabalhados e as decisões artísticas guiadas pelo manual - como as fotografias a preto e branco - também não ajudam a que se possa encontrar um espaço distinto. Gosto muito do lado da reportagem, de irmos de momento em momento, de relato em relato, com uma cinematografia incrível (o tal verde garlandiano a espaços, o que eu procurava a espaços). Mas sinto que o filme nunca se encontra, entre os horrores da guerra, a adrenalina da profissão, o conflito de gerações, a crítica política, o valor da imagem. Tudo tem lugar mas nada realmente assina e se deixa assinar.
sexta-feira, 31 de maio de 2024
quarta-feira, 29 de maio de 2024
O bocadinho que falta
Estávamos à espera das salsichas do Carlos. Ali sentados, banco de entrada do Passos Manuel*, num dos momentos de pausa do Nalgas Film Festival 2023. Enquanto os cachorros que o nosso mais que tudo assegurou não chegavam, discutia com o António (Segundo Take) as potencialidades socioeconómicas do glamping em zonas despovoadas do país. Não discutia nada, falávamos de cinema, claro. Do último Indiana Jones e de como a pressa se apoderou do blockbuster. Filmes a correr que nunca mais chegam ao fim. Há um momento em particular neste Marcador do Destino, logo ao início quando o Indy em CGI cai de um penhasco com o Capote, em que na cena a seguir vemos a superfície da água. Para que o momento resultasse era preciso aquele impasse. É claro que todos sabemos: ninguém morreu. Mas esses segundos fazem parte do engenho e do espaço; é vital ficarmos naquele tique-taque da espera. Mas não, esse interlúdio de ar fresco é cortado, e assim que vemos o local da queda eles voltam à tona.
Nisto chegámos ao Speed, não por faltar um bocadinho, neste caso de autoestrada, mas porque o tinha revisto recentemente. Apanhei-o na televisão, nessa mesma cena em que todos percebem que falta um pedação de asfalto. E é maravilhosa, uma métrica cinematográfica frenética mas que nos engole com calma em todos os seus passos. Eles aproximam-se naquele carrito, falam com o Keanu, transmitem-lhe as más notícias e depois afastam-se. Nesse afastar, percebemos que estamos sozinhos. Percebemos que estamos mesmo naquele autocarro e que vamos mesmo ter de dar o salto com aquela malta. 30 anos depois continuo a vibrar como se fosse a primeira viagem. Não sou o único. O Stuckman grava uma bonita carta de amor à obra, onde estabelece uma interessante teoria sobre a força dos filmes de ação dos anos 90.
Sim, mais uma lamúria que escapou à polícia da saudade. Mas é também forma de celebrarmos os nossos filmes e de encontrarmos caminhos para uma nova velocidade.
*uma sala de cinema com um pequeno bar e não um bar com uma pequena sala de cinema.
segunda-feira, 20 de maio de 2024
Popular entre os amigos
Gosto sempre de um filme onde as personagens para parecerem mais velhas cortam o cabelo. Nova: cabelo longo. Dez anos mais velha: cabelo curto. Obviamente. E já que comecei com a rapariga, enterro aqui a minha espada da embirração; tens toda a minha atenção Zendaya. Papel seguríssimo, a ligar esta grupeta à corrente, com gozo, estilo e sexo. Figura ainda mais curiosa, e complexa, porque opera numa relação que não é (nem nunca foi) dela. A morder e a pressionar para que o ténis se reencontre neles. E os confrontos - ou os momentos da grande partida - vão ficando cada vez mais arrojados até ao final onde na câmara já vale tudo.
Para além disso, a juntar à ingenuidade e destrambelho, temos o início do Blade, da discoteca, só que em todas as cenas. Olá boa tarde, era um café e um copo de ág....MÚSICA DA KADOC...Então que tal correu o teu d....MÚSICA DA KADOC. Quase que apetece ir ao bar e pedir um vodca laranja. Mas na verdade, e o cinema tem destas coisas, tudo resulta. Uma tempestade - como aquele momento dos papéis a voar - um ziguezague narrativo - como a bola cá e lá - que se juntam num conjunto charmoso, vibrante e magnético.
sábado, 18 de maio de 2024
Os segundos dois minutos
Depois do filme andei ali, no turismo dos tristes, de seta em seta no Google Maps à procura dos sítios. E enquanto o amigo Daniel Louro - do The World is a Set - não vai a Quioto temos de nos contentar com este link farsola. River, antes de ser fantasia é um espaço, uma estalagem real que recobre o filme de autenticidade. É ela que impõe o sentido de repetição: quão monótono pode ser aquele trabalho? Quão fechado é aquele microcosmos? É ela também que reformula o género ao apresentar o time loop de dois minutos - o segundo na filmografia de Junta Yamaguchi - como um problema local, estilo corte de luz ou falta de água, que tem de ser resolvido para bem estar dos hóspedes. Se a obra anterior funcionava em plano sequência entre dois andares e dois monitores, esta eleva a fasquia ao fazer um reiniciar geral à beira rio a cada dois minutos; mecanismo muito difícil de manter mas que se segura com uma criatividade, fotografia e um painel de personagens invejáveis. Cada volta é única. E eu a contar os minutos para a próxima.
quarta-feira, 15 de maio de 2024
O frio chegou e veio para ficar
Três coisas que me congelaram o ânimo neste Ghostbusters: Frozen Empire. Primeiro, voltar à cidade voltando as costas à mesma. É surreal regressarmos a Nova Iorque e estarmos enfiados em salas e salecas. Com exceção da cena de abertura - melhor sequência do filme - mais nenhum momento usa a metrópole como personagem, como energia primordial dos Caça-Fantasmas; as pessoas, as multidões, a festa. Desapareceu tudo. Em segundo, a praga de humanizar todo e qualquer antagonista. Neste caso os fantasmas, com um arco à la Casper (1995), que tem tanto de desnecessário como de profundamente infantil. Os fantasmas são os fantasmas foda-se, monstros que podem ser familiares, mas que são bizarros, descontrolados e assustadores. Por isso é que são caçados. Era carregar no potencial do vilão e explorar toda a (interessante) mitologia dos cavalheiros do fogo. Em terceiro e último lugar, a velha guarda de papelão. É desolador ver Venkman, Stantz e Zeddemore transformados em bibelôs de uma nova geração sem tempo cómico, sem vida e sem diálogos de jeito. O primeiro quarteto vivia das diferenças, das peripécias e da amizade. Não lhes dar a devida digestão e dimensão dos 40 anos depois, torna tudo num enorme quartel, gelado e vazio.
terça-feira, 14 de maio de 2024
Vampiros e bandidos tenrinhos
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We can live like Jack and Sally if we want Where you can always find me And we'll have Halloween on Christmas And in the night, we'l...
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[SPOILERS] Opá sim, aquele abraço final de grupo resulta, e só por esse conforto o filme vence. Também é verdade que florescem ramos franca...
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Fim de tarde no podcast amigo Os Críticos Também se Abatem para falar de tudo, não em todo o lado nem ao mesmo tempo, mas com aquela tagare...