terça-feira, 26 de maio de 2015

Cinema Animal - Cão

Blogosfera, três ilustres, um animal, poucas regras. Ah, esqueci-me, cinema, em força, do jeito que cada um bem quer e respira. Hoje foi o cão. Vamos ver que dentadas daqui saíram.

Nuno Reis

Antestreia
Quando este convite/desafio que muito agradeço me surgiu, queria algo marcante. Podia ter ido para “Cães Danados” ou ter brincado com as palavras e ir rever “Dogma”. Não adiantava pensar em filmes com cães que eram todos demasiado fofos. Queria algo sobre o lado animal do homem, mas que fosse selvagem e cru. Portanto, algo que não fosse sobre cães domesticados. A sorte de ter um cão no título foi pretexto para voltar a falar sobre um dos meus “filmes favoritos que não vejo vezes suficientes”: “Alpha Dog”, um filme sobre as matilhas que se formam entre os jovens que, tal como cães vadios, são deixados ao abandono, sem rumo, por progenitores que trabalham para lhes darem o melhor que o dinheiro pode comprar, esquecendo-se de estar lá para falar e ouvir quando eles mais precisam.

O cão é o animal mais próximo dos humanos. Acaba por ser quem está sempre por perto para nos ouvir e animar, nunca criticando, sempre dedicado e fiel. Não admira que seja considerado o melhor amigo do homem. O contrário não é dito com a mesma facilidade. O homem nem sempre tem paciência com o animal. Maltrata-o, abandona-o, zanga-se, usa-o. Os cães não merecem isso.

Inspirado na vida de Jesse James Hollywood, “Alpha Dog” narra como os nervos e inexperiência da juventude podem empolar as pequenas coisas e os pequenos imprevistos em algo terrível. Como o elemento alfa leva os outros a fazerem o que sabem ser errado, pagando todos em consciência - e por toda a vida - pelo que é simplesmente um momento, uma decisão precipitada, uma pessoa com a cabeça quente. Em especial entre os jovens, quando uns procuram orientação e outros se querem impor como líderes sem ter juízo para isso.

Na altura em que o filme chegou a Portugal, sabia que tinha Bruce Willis e Sharon Stone envelhecidos e uma cambada de gente jovem. Fui ver confiando plenamente no realizador e acabei por descobrir toda uma geração de estrelas como Anton Yelchin, Olivia Wilde, Amanda Seyfried, Amber Heard, Ben Foster e Justin Timberlake. Tirando Emile Hirsch que tinha visto em “The Girl Next Door”, era a primeira vez que via toda aquela gente em papéis de algum relevo. Na altura parecia uma passagem de testemunho de cães velhos que ainda sabem truques, para uma nova geração de cachorrinhos. O tempo encarregou-se de demonstrar que os velhos continuam por cá e os novos continuam a construir as suas lendas, mas ainda espero por um casting tão certeiro como este no que diz respeito a jovens talentos. Não é todos os dias que se consegue projectar o elenco de um filme uma década para o futuro e dizer que todos eles se tornaram figuras relevantes da nossa cultura.

Quanto ao filme, por vezes cai em facilitismos. Muita gente o terá já esquecido. Mas várias cenas e situações perturbadoras serão recordadas e esta tão inverosímil e semi-verídica história causa enorme impacto no seu todo. No final, mesmo não sendo dita ipsis verbis “Basta um cão raivoso para contaminar os dóceis” é a mensagem que fica.

João Lameira

 O cão no cinema costuma ser uma figura simpática, o melhor amigo do herói, às vezes seu parceiro na luta contra o crime, como naqueles filmes dos anos 80 em que era detective da polícia e tudo (anunciando os futuros inspectores Rex e Max). Por vezes, o cão é o próprio herói da história, pense-se na Lassie e no Rin Tin Tin. Até da vida real, não tivesse sido uma cadela a primeira astronauta lançada para a órbita da Terra. Quando não têm outra utilidade, servem de comic relief ou cute relief, tão adoráveis são. No entanto, quando são os “maus da fita”, os cães são mesmo maus.

Se, em The Omen/Génio do Mal, Damien é o Anti-Cristo e Mrs. Baylock é pavorosa (não só como ama mas como pessoa), o que mete mais medo são os “hounds of hell”, a aparecer por todo o lado num cemitério e a guardar furiosamente a criança dos infernos. Mais do que os humanos, eles são a verdadeira manifestação do Mal absoluto, pelo qual têm uma fidelidade canina. Carnívoros, raivosos, sanguinários, imparáveis, indestrutíveis, são outra encarnação da Besta. Os cães de The Omen são os piores inimigos do Homem.

David José Martins

Tive que consultar o Google para descobrir o nome da criatura indestrutível do "Dia da Independência" de 1996: Boomer, um Labrador Retriever. Parece haver uma regra não escrita nos filmes mainstream em que o ecrã pode exibir pessoas e cidades inteiras vaporizadas ou massacradas sem pudor, mas as criaturas peludas de quatro patas são intocáveis. E nesse guilty-pleasure da minha juventude foi a primeira vez que me apercebi desse fenómeno. Provavelmente pelo cena totalmente descarada em que o animal escapa por uma fracção de segundo a uma explosão que no mundo real o teria transformado num hot-dog, literalmente. A minha escolha não é a mais intelectual ou pertinente, mas a outra alternativa era uma memória mais antiga de um canídeo acometido de flatulências num filme que não fixei...

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