Porquê? Porque é um filme de toda a gente. Na infância, nas fotografias, no verão. Na casa cheia, na confusão. Fernanda Torres navega nesta simplicidade com uma mestria rara, de um corpo molhado, quebrado, que perante o vazio insiste em rir; nós vamos rir, diz para o jornal. A gestão discreta da câmara - fundamental em momentos chave como a partida de carro - e o ambiente de época - encrustado em todas as cores - fazem de Ainda Estou Aqui um filme fundamental naquilo que são as memórias. Naquilo que é, a memória.
segunda-feira, 31 de março de 2025
sexta-feira, 28 de março de 2025
quarta-feira, 26 de março de 2025
Assaltos low-cost
[SPOILERS] Uma hora? Uma hora para a Rey entrar no edifício? E, assim que entra, manda duas lamparinas, um rotativo e o filme acaba. O que se passou aqui? Orçamento? Edição? Cleaner é bastante bem intencionado: um filme de assalto, com mensagem ecológica, onde a heroína limpa janelas, tem um irmão autista e o mau é seu ex-amigo (006). Mau mas mau, até mata outro mau. Todas estas dinâmicas, quer da luta de ideais dentro dos assaltantes, quer a entrada dela no edifício e contacto com o exterior/interior, mereciam mais calma, mais tempo, mais construção. Há ideias, há Martin Campbell, mas tudo sempre a olhar para o relógio, para ver se ainda dá tempo de ir jantar a casa.
terça-feira, 25 de março de 2025
O último é sempre o primeiro?
É desta que faço a minha lista das melhores mortes da saga. Isto porque ainda só existem 39808 tops em inglês, 24089 em mandarim, 8705 em português, 92 em mirandês e 13 em minderico. Falta claramente este que vai muito diferente mas no fim ganha a moça da ginástica artística à mesma. Melhor início? Troncos. Melhor morte? Ginástica. Sempre. Pode ser também desta que aconteça um episódio especialíssimo sobre esta pentalogia da morte certa. Os meus companheiros das Nalgas continuam a enganar-me, que nem amante com homem casado: sim sim um dia deixo a família e gravo contigo. Porém os meus comparsas do VHS já me prometeram um porto seguro para desabafo e passeios de montanha-russa. É o trailer do Final Destination Bloodlines amigos. Maio aí ao virar da esquina.
sábado, 22 de março de 2025
Bridget Jones: Sem Tempo Para Entreter
Mais valia uma prequela. Bridget Jones em nova, antes de se tornar, hmm, Bridget Jones? Na universidade, aos trambolhões, se calhar com a Sidney Sweeney e outros jovens extremamente atraentes. Estilo Mamma Mia dois. Ou então, foda-se sou tão previsível, Bridget Jones no espaço. Robozinho cordial, Robozinho safado, gosta dos dois mas depois no final, sob a luz de uma chuva de estrelas, escolhe o primeiro.
Em 2025 ficamos com este episódio de televisão, profundamente desinspirado - especialmente no que toca ao humor - e cronicamente medricas - especialmente no modo como foge a todo e qualquer tema de interesse. É uma dança fora do seu tempo, como aqueles especiais constrangedores do nariz vermelho, só aqui em duas intermináveis horas.
sexta-feira, 21 de março de 2025
Cada geração tem o Wild Wild West que merece
Pois é juventude, isto não não pode ser só o Chalamet a conduzir vermes de areia na carreira das 17h15 para o Barreiro, têm de gramar também com estes pastelões-evento diretinhos para a TV. E enterrando logo a inexplicável peruca do Star-Lord, a conclusão a que eu chego com este The Electric State é que os Irmãos Russo não sabem brincar: têm os bonecos, têm os veículos, têm os castelos, têm os edifícios, mas não sabem o que fazer com eles. Chocam apenas, plástico contra plástico. 320 milhões arbitrariamente atirados ao ar, que se refletem em efeitos espantosos mas que engolem qualquer desígnio da escrita, da ação e da escala. Acabamos a salvar o mundo no jardim da Alameda. Tudo isto quando ainda o ano passado tivemos uma lição de pós apocalipse com Fallout, ou, em 2020, do mesmo autor, a belíssima Tales From the Loop. E se a cauboiada steampunk de 1999 tinha aquela ginga do Will Smith para abanar o rabo esta só nos deixa mesmo a abanar a cabeça.
quarta-feira, 19 de março de 2025
Regresso ao Flutuo
[SPOILERS ] A chamada narrativa flutuante. Vaguear com a câmara, à escuta, à procura de fragmentos e pedaços de conversa. Soderbergh é aquele velho amigo que vai misturando e experimentando, como um bar de cerveja certinho que tem sempre coisas boas na ardósia; e essa perspectiva é de facto um bom refresco, fazendo uma parelha curiosa com o A Violent Nature, também do ano passado. Porém se este lado voyeur me viciou, o argumento de um fantasminha viajante no tempo já não me deixou em completa paz. Estou na dúvida se era preciso mais subtileza ou mais informação para que esse twist funcionasse; até porque qualquer assombração que se preze queria era evitar a própria morte ou não?
terça-feira, 18 de março de 2025
Lobisomens do Século XXI - Werewolves
sexta-feira, 14 de março de 2025
Ep.2 - Dante´s Peak/Volcano (com Carlos Reis)
O chão é lava. Miguel, de chinelos, pede ajuda ao seu cinéfilo da proteção civil favorito: Carlos Reis. Juntos, efusiva e explosivamente, percorrem a atribulada estrada da vulcanologia. Depois de piroclastos, cinzas, cães que saltam à última da hora para o jipe, lagoas ácidas, bóinas, tampas de esgoto voadoras e estupendas lições de humanismo chegam finalmente ao seu destino. Lugar de onde nunca deviam ter saído: os anos 90.
quinta-feira, 13 de março de 2025
Hey, Mickey!
Não vou comparar Mickey 17 a uma obra de 2009, com nome de satélite natural, porque não sou chibão como vocês. Para quem não viu o filme, ao ler essa comparação vai ter automaticamente o prato azedado, por isso sigam as minha pegadas e comecem assim: a televisão recente tem utilizado com bastante mestria o múltiplo de eu, quer seja o eu em vários invólucros - o corpo como um fato em Altered Carbon - o eu em várias realidades - o multiverso deprimente de Dark Matter - ou o eu trabalho/casa - a inesperada batalha interna de Severance. O cinema também não se tem deixado ficar e em 2023 o Cronenberg Junior encantou-nos com o seu Infinity Pool - o outro eu enquanto cruz de todos os pecados. O filme de Bong Joon Ho vai buscar este sadismo como ponto de partida: um descartável, uma pessoa que se sujeita às mais horríficas mortes em prol da ciência e da colonização humana de um inóspito planeta. Gosto muito como esse lado negro se imiscua no noir, com a narração que nos leva a mil e uma histórias da viagem, e no melodrama, através do improvável e belíssimo piano de Jung Jaeli. Esse lado da identidade, onde cada número se traduz num humor, se por um lado é o coração da intriga por outro acaba por confinar o filme a uma teia de corredores e enredos secundários com pouco interesse. Senti falta, especialmente na segunda metade, de espaço, de aventura. O ar fresco - muito fresco neste caso - faz bem e o Mickey volta a ter a mira afinada no final, resultando numa irresistível e obrigatória bizarria do género que devemos mimar como um filho: a ficção científica.
terça-feira, 11 de março de 2025
Quem és tu miúdo?
segunda-feira, 10 de março de 2025
Aquiles, dancinhas e jacarés
Gosto sempre de uma boa macacada nos créditos finais. Desde o Bring It On que criei este laço com pessoas embriagadas a fazer uma série de dancinhas, com mais ou menos piada, utilizando uma canção estandarte do filme. Este You're Cordially Invited faz isso com Islands in the Stream, o clássico de Dolly Parton e Kenny Rogers. Para além disso, tem jacarés, outra fraqueza aqui da casa. É um tronco a boiar? Nope, é o cabrão dum jacaré porque esse bracinho não se arranca sozinho, e atenção que o The Bayou já aí anda. Somando estrela com estrela, temos então esta categoria única e irresistível de "Filmes com jacarés e dancinha no final" que poderá evoluir um dia para "Filmes com jacarés a fazer dancinha no final".
sexta-feira, 7 de março de 2025
Enquanto Morrias
Já tinha uma dívida antiga com Josh Ruben por, no seu Werewolves Within, ter trazido os Ace of Base para os anos 20. Agora este sentimento reiki de gratidão prevalece com o seu mais recente Heart Eyes: ao contrário dos seus homólogos juvenis que se esforçam por desconstruir géneros sendo muito divertidos e muito meto-nostálgicos, este filme é uma comédia romântica. Ponto. Rapaz conhece rapariga, têm lugar uma série de tropelias e ficam juntos no fim. Sucede que, essas tropelias são matanças à bruta no Dia dos Namorados. O terror e o seu assassino mascarado cruzam-se no caminho, quase como se tivessem a estragar outra obra, sem aviso, sem travão. Resultando num festival curiosamente refrescante.
quinta-feira, 6 de março de 2025
Ep. 1 - The Pope's Exorcist/The Exorcism (com Pedro Cinemaxunga)
quarta-feira, 5 de março de 2025
Salsada na savana: edição de autor
Oh Mufasa, esta confusão toda por causa duma chavala? Confusão também nestas duas horas de quem é quem leonino, que nos continuam a manter afastadas de qualquer laço ou interesse. E mesmo saltando esse muro - já presente na adaptação live action de O Rei Leão - somos presenteados com uma aventura sem jornada. É uma história nova de facto, mas será que esta malta não viu o Em Busca do Vale Encantado? Onde está o encanto? A amizade? As peripécias? A chegada? Barry Jenkins tinha a receita mas decidiu pôr tudo na Bimby. Fujam.
segunda-feira, 3 de março de 2025
Bingo
Para além das quatro estatuetas de Sean Baker, do néon do Letterboxd, da música dos Take That, da interpretação de uma vida e do silêncio póstumo daquele final - aquele final - Anora bate outra estatística: pela primeira vez o meu filme favorito do ano passado vence o Óscar de Melhor Filme. E essa dancinha já ninguém me tira.
domingo, 2 de março de 2025
Festinhas no trigo queimado
- Olhe Russel Crowe já não há, mas temos Paul Mescal, metade do carisma, metade do jeito mas também metade do preço. Quer levar?
E assim foi. Da horta para o Coliseu. Não sou o maior fã de O Gladiador, mas se tiver a dar uma batalha fico a ver. Reconheço o seu crescendo, a sua surpresa e a sua eficácia num género que andava moribundo. O que acontece neste regresso, à luz das novas sequelas legado, é a total vandalização desse património. Um argumento clonado que, apesar de bem intencionado nos seus jogos de poder, procura fazer demasiados malabarismos com demasiadas personagens, suportadas por um elenco francamente inferior. Falta a construção de um herói, falta aquele beco sem saída que é a vingança; Crowe tinha isso, no seu andar, na sua voz, na sua liderança. Aqui tudo isso se evapora e até as festinhas no trigo têm de ir ser resgatadas do original. Um pequeno atentado.
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We can live like Jack and Sally if we want Where you can always find me And we'll have Halloween on Christmas And in the night, we'l...
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Conhecem aquela música dos Pólo Norte: Se eu voltasse atrás, Por minha vontade, Trocava alguns anos desta vida, Por um só dia na tua idade. ...