Estes filmes acabam por perder com a quantidade desmesurada de chapéus que lhes querem enfiar cabeça abaixo. O ano passado foi Get Out, e a raça, este ano é A Quiet Place, e a política. Mais, querem ainda espetá-lo na categoria de façanha técnica, de "ai que o filme não tem quase diálogos". O filme tem diálogos e não, não se trata de um exercício, exercício é A Arca Russa, o Memento ou O Artista, que optam por uma forma. Aqui não é opção, é contexto. Mesmo querendo, não há outra forma de contar sem ser o silêncio. Porque sem ele não se vive. Tirando todas estas sacas de cimento do costado damos por nós num pequenino e belíssimo filme de terror. Uma obra que não só nos coloca em sentido, e se eu, e se eu, mas que se concentra na família, na perda, na culpa, na esperança. O tal pretexto monstro para questionar o que de mais humano existe e persiste. Um quarteto de actores em grande forma, bicharada com fartura e um ritmo vertiginoso fazem deste shhhhhh um dos grandes filmes do género deste ano.
domingo, 27 de maio de 2018
sexta-feira, 25 de maio de 2018
Mais um filme que ficou por fazer
Já não perdia tanto a alegria de viver desde que fiquei fechado duas horas num autocarro, na pista de aeroporto, no verão passado. Janelas fechadas. O filme nunca mais acaba malta. E apesar do Ron Howard ser especialista nestes secões intermináveis - basta olhar para O Código Da Vinci - o problema é bem maior que uma cabeça. Independentemente, de ser nesta, noutra, ou numa muito muito longe, é sempre possível desenhar uma boa história. Que nos mantenha presentes. Solo: A Star Wars Story, falha no mais básico bê-á-bá do entretenimento: o objetivo. O que é não só inacreditável, como inadmissível. Arranca bem e até à cena do comboio há ali uma determinação, o protagonista tem um motivo, válido. Depois disso, e quando essa razão (des)aparece, perdemos foco e somos presenteados com uma hora amorfa de nada. De lugares e momentos obrigatórios. No final, o filme tenta voltar a um argumento, a um enredo, mas é tarde demais. Não temos as cartas para sentir aqueles truques de patife engana patife, de traições e reviravoltas. De uma cowboyada espacial. Cenários, recantos, construções, um belíssimo empreendimento visual que sucumbe às mãos destes novos moldes e novas confusões. Eu sou fã de Star Wars, mas acima de tudo sou fã de cinema. Não me fodam.
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