domingo, 5 de fevereiro de 2017

Promete tudo


Parece estar na moda dizer que está na moda não gostar do dito cinema comercial. Confundindo a pipoca com a estatueta, a discussão com a opressão, as palmas com as palas. O que é importante reter é que o cinema óscar é um microcosmos criado por uma dezena de interesses, uma dúzia de outros prémios e dois ou três favores sexuais, com o propósito de não magoar ninguém. Cinema esse que premeia - segundo a história da última década - obras menores, inócuas, que saltam para cima da mesa e que toda a gente quer ver. E depois esquecer, porque não há marca, não há murro, não há cuspo. Cinema comercial é Marvel, Star Wars, isto é outra coisa. Um aborrecimento que não deveria aborrecer ninguém, cada um com o seu cinema. E se há aqueles que discordam de tudo o que aqui apontei, excelente, podemos falar disso ou também podemos virar costas, agora não me fodam é com modas e clubismos.

E assim La La Land. Que, começando por onde se deve, tem aquele que é dos inícios mais fulgurantes, incríveis e inacreditáveis do passado recente. Um quase plano sequência - são três colados uns nos outros - que nos lança de cabeça para uma explosão de cor, criatividade e música, para todos fugirmos da estática e assim sonhar, sonhar muito. Aqui o filme promete tudo, para depois nos dar uma mão cheia de nada. Nunca mais regressamos à façanha, à audácia. Precisávamos de 500 Days of Summer. Para em conjunto com as cores, ir mais, pensar mais, oferecer mais personagem e menos calendário apressado. Falta química - ambos em piloto automático - falta a tal magia. Que volta já no final, naquela, não menos estupenda, cena do "e se", mas é tarde demais. Precisávamos da amargura Café Society. Para ficarmos à deriva, naquela tal melodia.  

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