terça-feira, 22 de setembro de 2015

A estação

O meu pai adorava cinema, o cinema. Um bom filme. Nos outros adormecia, patetices teimosas, bodegas barulhentas da pipoca. Lá ia, ressonava aqui e ali. Dick Tracy, sestinha no meio daquele enxoval de chumbo. Hook, teve de levar um toque do lado. Mas se o bocejo castigava a macacada - nada de fantasias e afins - o gozo e interminável conversa coroava uma obra cheia. E maior que tal satisfação, no carro, a caminho de casa, bestial, excelente, só mesmo os meus olhos de cachopo, a medir as paixões, aprendendo e construindo. Gosto ainda mais de Barton Fink. Não cessa A Barreira Invisível. Quatro Casamentos e Um Funeral, ou qualquer Woody Allen, ria sempre. Gosto sempre. É sempre um Woody Allen não é? É sim pai. E em casa. Tinha os seus intocáveis. Filmes que durante um determinado período de tempo mostrava às visitas. Já viram A Estação? Mais uma volta, obrigatória. Atento às reações, lá se perdia, pela enésima vez. Já dá para sacar A Caça? Dá sim pai. Belíssimo. Vi-o depois, e subscrevo. Sei disso tudo, todos e todos. O meu pai faria hoje anos. Celebrá-lo e recordá-lo, dizer que o amo. Gritar no vácuo, mas gritar. Tu és o meu cinema companheiro, hoje e sempre. Parabéns!

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