segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O gângster de chapéu e comando (1)

Vamos aquecer o lugar. O trono, dos que mandam e governam de forma menos clara. Os outros lados, aqueles mais escuros e chuvosos que precisam de balas, sangue e fumo. Sacrifício, imponência e por vezes, estilo. Chapéu. Na rua ou no seio da família, a real ou então a outra, de volta às ruas. Para contar e disparar vamos então viajar para trás e para a frente, atrasando ou adiantando os ponteiros, desde Chigago até ao deserto do Nevada. As cidades, sempre elas. Aqui e ali, com associações sabichonas que deixarão qualquer um com a pulga atrás da orelha. Ou com a bala dentro do tambor. E prometo que não falarei de “The Mob Doctor”. 


Era já tarde e quando se boceja não se pensa. Episódio piloto de “Vegas”. Grande erro. Mas a culpa não foi minha, a série da CBS de 2012 tinha realmente tudo para me manter desperto: Dennis Quaid , um rancheiro que se vê forçado a assumir o papel de xerife na Las Vegas dos anos 60, controlada por um gângster de Chicago interpretado, por o não menos incrível, Michael Chiklis. Sem grande risco, rasgo ou ritmo a série acabou cancelada ao fim de uma temporada e eu adormeci. Lá para os lados do deserto. Como aquele que passei, antes da internet. Períodos secos e longos. As pequenas memórias lá se guardavam, em pequenas peças, em pequenos cofres. Martelando noite e dia, regressando nas alturas mais improváveis. Eu sabia, que em miúdo tinha visto uma série de polícias, com um senhor de bigode e que um dos episódios terminava com uma queda de avião. Foi neste cluedo que andei metido anos a fio até que, com um ou dois cliques, cheguei a “Crime Story”. “Runaway”, de Del Shannon, rasgava uma abertura chuvosa na Chicago dos anos 60. Rodas, carros, néones. O nevoeiro e a noite, numa imagética tão própria que recordar é um violento soco, que arrasta de volta todos os sentidos. No meio da estrada, alcatrão, um sobretudo comprido e um cigarro. O tal bigode, Dennis Farina no papel de Mike Torello, chefe da unidade de combate ao crime da polícia que se vê na perseguição de Ray Luca (Anthony Denison), um perigoso mafioso em ascensão. A série girava então em torno do conflito entre estes dois homens, pólos opostos que se perseguiam até ao final. Um frente a frente, como a primeira aparição de Hannibal Lecter, em “Manhunter”, filme realizado na mesma altura que o piloto de “Crime Story” foi produzido. E pelo mesmo senhor, claro está, Michael Mann que, em plena terceira temporada de “Miami Vice” e com um filme para montar, ainda se mete a brincar aos gângsters. Apesar da qualidade inegável do produto a série correu apenas por duas temporadas na NBC, de 1986 a 1988. Razões financeiras ditaram o fim que é o tal desastre de avião. Deixando tudo em aberto, para todo o sempre. Michael Mann lá continuaria, a sua vida cinematográfica e voltaria mesmo a tentar a sorte, de novo no pequeno ecrã, mas infelizmente apostaria no cavalo errado. A sua série “Luck” teve problemas com os equídeos protagonistas e seria precocemente cancelada em 2011. 

Texto publicado na Take 33.

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