
A verdade é que nunca tinha entrado para um filme com as expectativas tão altas e saído de lá com todas elas satisfeitas. A cada surpresa ia riscando a longa lista que este gigantesco hype me deu, e vi-me quase forçado a escrever mais e a pensar que Nolan fez o impossível. Deu-nos trailers de cortar a respiração que afinal pouco ou nada contavam, posters desdobráveis em mil imagens, numa campanha exaustiva que podia facilmente ter esgotado e espremido tudo o que esta doce laranja nos podia ter para oferecer. Mas não. E The Dark Night é assim a verdadeira aposta ganha.
Vamos por partes [Sim porque qualquer crítica a este filme tem obrigatoriamente de sofrer divisões, somos forçados a construir parcelas tal é a extensão e complexidade da coisa.] Todos os actores deste filme estão incrivelmente bem. Não existe um elo mais fraco, e traçando uma leve linha na areia dividimos o elenco. Do lado do bem temos Bale, dando seguimento ao seu Batman arrogante e superior, à procura de redenção, confrontado agora com questões éticas, com decisões que o obrigam a balançar na ténue linha da bondade/malvadez, de lutar contra um inimigo sem regras (e como perguntaria um amigo meu, há algum filme onde o Christian Bale esteja mal?); a seu lado Morgan Freeman, Michael Caine e Gary Oldman, também repetentes, mostram a magia do que é ser um secundário de luxo, fiéis confidentes e apoiantes do cavaleiro negro; Maggie Gyllenhaal deixou para trás a ensonsa Katie Holmes e dá outra maturidade ao interesse amoroso de Bruce Wayne, discreta e sublime (dá vontade a de a podermos ver mais). No meio, e não fosse a sua personagem o intitulado Duas Caras, vive Aaron Eckart e a sua brutal mutação de herói a vilão, o negro que se cola na moeda e o obriga a perder todos os seus ideiais, é uma prestação completa que nos enrola no ciclo fechado da mente humana e nos actos que se moldam com as acções sofridas. No lado do mal temos o extraordinário, e esquecendo por momentos a sua morte, Heath Ledger. Um colosso. Nem nas minhas previsões mais arrojadas eu apostaria numa interpretação deste nível. Ele não faz de Joker, ele é o Joker, ponto. Não há ninguém atrás da cortina, é transparente esta alma doente e perturbada que se alimenta do caos. É o verdadeiro vilão, sem passado nem futuro, cheio de tiques e trejeitos, que quer apenas ver o mundo arder. É um delírio cada minuto em que ele aparece, com cenas que ficam automaticamente para história, desde o lápis até ao delirante momento no hospital!Sem lamentos ou previsões do que teria sido o seu futuro, esta é a melhor interpretação do ano até ao momento, e isto é uma certeza.
[Demonstra que um vilão pode ser tão ou mais completo que o herói, e é assim que devia ser sempre, estás a ouvir Iron Man?]
A história é um engenhoso jogo do gato e do rato, um xadrez policial, onde cada uma das partes surpreende constantemente o seu oponente com um xeque-mate. Com um início ferveroso, somos arrastados para uma complexa batalha entre a ordem e o caos, a anarquia imposta pela cultura do medo, e os diferentes rumos que o bem toma para conseguir triunfar. As surpresas são mais que muitas e apesar de grande (150 minutos) é uma obra com um ritmo imparável e com diálogos densos e genialmente bem escritos. Também é um filme de super-heróis? É sim senhor, mas quente e real como uma tarde de Agosto! As inúmeras cenas de dia, os inúmeros locais onde Batman aparece, fazem dele a abordagem mais real e humana da BD até ao momento, e é isso que nos envolve, a luta no nosso mundo! Agregado a isto vem um final nada primaveril que conclui assim a fotografia de um herói espesso e condenado.
Havia tanto para dizer. Tanto que elogiar (a música por exemplo). Uma ínfima coisa a criticar (a voz Terminator/Olavo Bilac do Batman irrita-me um pouco). Mas vou baixar a caneta. Sem antes dizer que este é o melhor entretenimento inteligente, de massas, dos últimos (e provavelmente dos próximos) anos. Isto meus amigos é um filme, com F grande.
(+) Tudo e mais alguma coisa.
(-) Quando é que vem o próximo?
5 comentários:
Finalmente consegui ver o filme na noite passada e fiquei abismado. Foi como voltar atrás no tempo e estar a ver um filme no cinema pela primeira vez. Sentir medo quando o vilão se revela, euforia quando o herói combate o mal e a adrenalina no sangue em cada momento de acção. Este passou directamente para o topo da minha lista de filmes preferidos. Daqui a uns dias volto a vê-lo no cinema ;)
Abraço Miguel!
É realmente um colosso, difícil de de criticar, de apontar falhas ou fraquezas. Há tanta coisa a trabalhar ao mesmo tempo e de maneira tão perfeita que ficamos completamente rendidos!Também já mora no topo da minha lista;)Abração
Assino por baixo.
Acho que há muito tempo que não existia tanto consenso dentro da comunidade cinéfila;)Um abraço
Sem dúvida um dos melhores do ano e com certeza o Heath Ledger ficará agora marcado como o James Dean desta geração.
Relativamente ao filme, já o vi 2 vezes e mesmo assim continuei a sentir arrepios em certas cenas e a apreciei melhor alguns pormenores como a deliciosa banda sonora.
Como estava escrito na crítica, um filme com F grande.
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