segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Anakins que gostam de areia

[SPOILERS] Esta necessidade do sexo ser narrado continua a aborrecer-me. Sinal das camas, e dos tempos. O Momoa sacrifica-se e tranca-se numa divisão exterior. Vemos ele a fechar-se lá. Percebemos que ele se fechou lá. As personagens também assistem. Tudo claro. Então para que é que alguém tem de dizer: ele trancou a porta. Ou para que é que se tem de colocar no diálogo: ah a sandworm foi embora porque foi chamada pelo tamborzinho. Oh foda-se, nós percebemos, nós chegamos lá. Se a especiaria, foi apresentada ao início pela Zendaya, era preciso colocar um vídeo tutorial a explicar o mesmo cinco minutos depois? Necessitamos de espaço. E não, não é nos diálogos nem nas personagens que este filme me ganha. Faltou-me aquela proximidade para sentir a perda, a traição, para querer ver a segunda parte já amanhã. Sim, é tudo relativamente consistente, a léguas de distância da trapalhada irreversível de Lynch, mas faltaram-me actos, momentos. Por outro lado, se não há aquela cena memorável na narrativa, há uma inesquecível e imersiva experiência de cinema. A música, a escala, o modo como usam os cenários naturais, a forma como a linguagem Villeneuve se apropria de Arrakis, os soldados a descer do ar ou as minhocas a irromper do chão, é tudo repleto, completo. Não há detalhe que fique por bordar e isso faz a viagem.

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