sexta-feira, 22 de julho de 2016

Nada estranho

E agora, depois do mais bonito poster que esta dupla de cones e bastonetes teve o prazer de lamber no ano de 2016, seguimos para o dito. Já muito foi de facto dito, e mais virá. Testarão até todos os episódios em avançadas instalações de ciência, com aceleradores de partículas e cientistas sem banho tomado. Por isso serei pequenito no salto. Mas só de falar pouco já me apetece falar muito, sintoma da nostalgia imediata. Isso é logo o embate. Stranger Things é muito específico no seu alvo. E usa a plataforma mais moderna e audaz para o fazer. Irónico. Um tempo que nos oferece tudo para uma audiência que só se quer lembrar do tempo em que não tinha nada. Era necessário pedalar, procurar, os tesouros. O cheiro dos tesouros, das cassetes, das caves ou das tardes, dos recortes ou revistas. Irónico também surgir no mesmo ano de X-Files, que tentou ressuscitar algo, e saiu furado. Merda, mesmo merda. Porque não é fácil, parece muito, o Tarantino fá-lo de olhos fechados, mas é o mais difícil no entretenimento corrente, seja ele novo, inspirado, requentado. É preciso, em primeiro lugar, contar uma história. Depois torná-la única. Por último torná-la nossa. 1, 2, 3. Só isto. Mas então, ou fogem pelo facilitismo e ilusão de que o nome chega ou caem em questões abertas, muitas, misteriosas, ui, como se coçar a cabeça para sempre fosse equivalente a qualquer decisão. Muito vago, o vago está na moda quando se tem medo de ser Stranger Things. 1, 2, 3. Resultou. Uma história, com princípio, meio e fim - venha agora o que vier - muito simples no seu núcleo, nas suas personagens e modo como elas se tocam, muito caloroso para elas, muito cuidado. Nada ao acaso, os carinhos, os laços. Entrelaçados com tantas referências que precisaríamos de espaço, de um barco maior, mas que no seu conjunto oferecem algo absolutamente genuíno, com as luzes de natal e o mundo invertido, com um novo grupo, um novo grupo de putos foda-se. E o final, o 3, o mais importante. Encher-nos este coração desistente. Fazer-nos de novo contar com eles, fazer-nos goonies, de bicla, e porra que payoff do caralho, com a Eleven a espetar aquele merdas contra a parede, no balanço da pequena fisga. Emocionou aqui o grandalhão como há muito nada emocionava. E por isso, pela simplicidade, irreverência e peito cheio, não é de estranhar que esteja aqui a série do ano.

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