sábado, 11 de fevereiro de 2012

Payne sem dor

É o grande desgosto do ano. Em parte porque lhe falta isso mesmo: o desgosto. Payne sempre filmou sem medo da lama, com planos apertados da sujidade, a nós, a nós e ao nosso lado podre. Egoísta e sem educação. Ofereceu a solidão como ninguém, em prato cómico; baralhou as lágrimas e reconstruiu o desconforto. Filmou os falhados (Nicholson, Giamatti) sem nunca os salvar, filmou-os como eles são, falhados, hoje e sempre. É tudo isto que falta a The Descendants: filme linear e monótono, como as músicas havaianas que tão orgulhosamente toca. Clooney pára o carro e ameaça o puto pateta; não devia ser assim, ele devia parar o carro e agredi-lo, uma e outra vez, ou agredir alguém, devia rebentar, sujar as mãos. Mas Clooney não consegue descolar, talvez porque não faça ideia daquilo que está a falar.

2 comentários:

Anónimo disse...

Como já tinha dito deixado a entender num post anterior teu sobre este filme, não poderia concordar mais. Filme Fraco. A propósito do Girl with the Dragon Tatoo que vi ontem, digo o seguinte:
Adaptar um bom livro ao cinema não é fácil. Consigo lembrar-me de vário casos com sucesso (Rumble Fish, A idade da Inocência, American Psycho, Children of Men, The Road, Voando sobre um ninho de cucos, Drive, Blade Runner, Shining, só para citar alguns dos melhores). Este não é um desses casos. Péssimo filme a que faltam nove décimos da força do livro, com uma realização que nem ao mediana chega e um trabalho de actores a roçar o ridiculo (uns falam inglês britânico puro, outros um inglês assuecado patético e dá a sensação que ninguém sabe muito bem o que andam ali a fazer). E a Lizbeth Salander é tudo menos convincente. Não vi os filmes suecos mas é impossível serem piores que este. De 1 a 10...0! Salva-se a entrada cheia de fulgor ao som dos Led Zeppelin re-imaginados pelo Trent Reznor

Nuno Rechena

Miguel Ferreira disse...

Não podia estar mais de acordo Nuno!Vi-o há pouco tempo e foi uma grande desilusão. A ver se deixo aqui uns gatafunhos sobre isso!