quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Slumdog Millionaire


Queria começar com uma questão e deixar quatro hipóteses de resposta. O problema é que não encontro a questão e muito menos percebo as respostas. Dou com o facto de que Slumdog Millionaire é o filme sensação da época. Aquele que começou pequeno e foi crescendo, que nem jogador da bola, ou que nem o próprio protagonista, da lama até à fortuna.

Danny Boyle é um realizador colorido e heterogéneo, o que dificulta a previsão do seu próximo passo. Já apalpou quase todos os terrenos, com quase todos os resultados possíveis, deixando em aberto a aproximação que se segue. Aqui o cenário escolhido foi a Índia e a história é aquela que todos já sabem: Jamal, um miúdo oriundo dos bairros da lata encontra no seu passado as respostas para o concurso Quem quer ser milionário. O seu grande objectivo não é o dinheiro mas sim encontrar o seu amor perdido, Latika.

A obra divide-se em duas partes, tanto pela cronologia, como pela qualidade, residindo nesta distinção a sua maior força e a sua maior fraqueza. A primeira conta-nos as peripécias da infância, num país pobre e sobrepovoado. Com uma fotografia incrível, somos apresentados à dualidade latente na vida de dois irmãos, ao inferno num cenário idílico. De cena em cena passamos por excelentes sequências sempre à espera da pista para a resposta seguinte, sempre na expectativa e na dúvida do próximo desafio. O drama implícito no conto de fadas resulta e os flashbacks encaixam na perfeição no interrogatório policial. Balançamos numa linha ténue, entre duas notas, no tom que é o certo.

A partir do momento em que a dupla de irmãos se separa e a infância acaba, o filme cai da corda. Ficamos sem as odisseias mirabolantes e ganhamos uma história de amor mal arranjada. Vem ao de cima a fragilidade interpretativa do casal protagonista e os buracos do argumento. O destino ganha contornos demasiado forçados: o reencontro com o irmão, o reencontro com Latika, a pergunta final, tudo é pouco natural, tudo impede a narrativa de fluir normalmente, caindo em absoluto no campo da lamechice (e por vezes do ridículo). Tal como Ícaro, arriscaram demais e o que podia ter sido um voo pleno acabou numa viagem interrompida por um final pouco satisfatório.

Esta perda de orientação e de balanço não tira ao filme todo o seu brilho, toda a força da sua história, toda a originalidade e vontade. Deixa-o apenas na casa errada. Longe do brilhantismo, longe daqueles pequeninos que ficam para sempre na nossa memória.
(+) A grande odisseia da infância.
(-) Não conseguir manter o tom equilibrado durante todo o filme.

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