Se eu pudesse iniciava todas as minhas críticas com os comentários da fila de trás. Porém nem sempre tenho a sorte e o ouvido para as apanhar. Não é o caso desta última incursão ao mundo dos Coen em que das minhas costas saiu um: Mas qual é a essência do filme?
Eu se conhecesse a senhora tentava explicar e construir uma argumentação, dizer que as pessoas envelhecem e se sentem deslocadas, como se o tempo se arrastasse e elas não o conseguissem acompanhar. Dizia isto e muito mais. Eu dizia, mas tudo realmente foi muito bem dito e se há coisa que o filme tem de espantoso são os diálogos, desde as loucuras do Bardem até à reflexão final de Tommy Lee Jones. Para além disto é um filme com cheiro, como as minhas obras predilectas que antecedem este país: Barton Fink, a tresandar a mofo nos corredores de um hotel apertado e escuro; Fargo, com o ar cortante e o sangue gelado a entranhar nas largas planícies; e agora o calor pestilento, o suor, o dinheiro e sempre e de novo, o sangue. Não é para mim o melhor e não o mais fácil de digerir (fiquei realmente muito espantado em a Academia premiar um filme assim tão difícil). Muitos espaços, movimentos lentos e arrastados, a tensão e a morte a pingar lentamente, num jogo do gato e do rato, sem bom nem mau, sem lei, num sítio longe do que é usualmente pintado.
Não é o tipo de cinema que me diz mais. Tenho dificuldade em encontrar-me aqui. Mas facilmente digo que as interpretações, em especial Javier Bardem, são incríveis, a conversa é ouro falado, a ambiguidade e a crueldade presente em todos é o espelho duma realidade quente e actual que de pouco ou nada sabia, as paisagens são assombrosas, as pausas primorosas, tudo é francamente bom.
(+) O desconsolo crescente de Tommy Lee Jones.
(-) Não é um filme fácil de entrar.
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