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Viviam-se os 90, as t-shirts para dentro das calças, os fatos de treino pele de pêssego, o sozinho em casa, o parque jurássico, os escudos e o VHS. Tirando as vezes em que tudo corria na calma de uma sessão vazia, uma ao sábado e outra ao domingo, quando o filme era procurado e mais de 100 pessoas o queriam ver (como o barco que foi ao fundo) as coisas corriam de outra forma.
Iam chegando aos poucos de manhã, aglomerando-se no chão formando uma massa uniforme que se alastrava com as horas. A meio da tarde já se estendiam e começavam a parecer uma fila, altura em que os atrasados viham pedir aos da frente, caras conhecidas, que lhe comprassem os bilhetes. Negociações difíceis pois havia limite de 3 bilhetes por pessoa. Wall Street, braços no ar, agitação e apertos, compra não compra, vende, dá cá mais uns trocos e compro, sem falar nos que compravam e vendia cá fora mais caro. Passada a fase da bolsa, seguia-se a fase em que as portas abriam. Gladiador, os penetras tentavam furar o semi-círculo a que chamávamos ordem, empurrões, quase bofetadas. O coliseu ao rubro e em poucos minutos os gladiadores iam entrando, feridos ou ilesos em busca do santo graal. Cá fora os minutos passavam pesados, só 80 bilhetes, se cada uma comprar 3, contas demasiado imprecisas para o drama que se vivia. Até que saía alguém e gritava: já não há bilhetes! A revolta de Sonhos Vencidos misturava-se com a tristeza envelhecida de as Confissões de Schmidt, por vezes as lágrimas de dramalhões ou histórias de amor, porquê? porquê? Agora só em vídeo ou longe daqui. O regresso frustado à Paul Giamatti fazia-se pelo mesmo caminho. Os vitoriosos cantavam na Chicago interior, onde gritos eram calados pela lanterna do senhor dos bilhetes e a projecção seguia.
Para a semana havia mais, cá fora e lá dentro.
1 comentário:
*clap clap clap*
Tenho mesmo saudades dessas histórias do combate que era "ver" um filme no cineGrandolense"...
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