quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

3:10 to Yuma


O início de 3:10 to Yuma é uma respiração asmática e pesada duma criança. Ao seu lado, um grande plano do irmão acordado, suado e tenso, focado pela luz da vela. Sentimos logo o ar a fechar, a tensão enrola-se e dá início ao fogo que só se apaga passadas duas horas de filme.

A história é simples, um homem honesto oferece-se para escoltar um perigoso criminoso até ao comboio que o leva à prisão, em troca de uma certa quantia que pagará todas as suas dívidas e salvará os seus da miséria. As duas melhores coisas deste western percebem-se nos primeiros minutos: a constante tensão tão característica do género (estamos sempre em sobressalto, sempre à espera que a pistola saia do coldre) e a força da personagem principal (Christian Bale), que mais do que notas e lutas físicas, trava consigo mesmo uma batalha de carácter em que se elevam os valores íntegros da família. Arrancando este início sucedem-se as mais diversas peripécias, repletas de tiros e cavalgadas, criando um excelente entretenimento cheio de ritmo e recheado de óptimos diálogos. Desde Imperdoável (em tudo superior) que não via uma cowboyada assim tão sólida e coerente, mas com tudo resto, pó, tiros, dinheiro, saloons, assaltos e sangue. E eu que não sou grande fã do género.

O que para mim constitui a grande falha do filme é o grupo de criminosos: Russell Crowe, que não me convence nem nunca me convenceu, devia funcionar como o outro lado da balança essencial na dupla central do filme, devia criar ambiguidade, o ser humano implacável mas no final sempre o ser humano. Mas não consegue, deixa-se estar no seu registo usual de pastelão e não conseguimos sentir o que quer que seja pela sua personagem, nem perceber porque é mau, porque é bom, se é assim tão mau ou se é assim tão bom. Esta nulidade é depois acrescida da excentricidade do seu fiel companheiro vilão Ben Foster, jovem actor fora do seu registo normal e com uma estupenda caracterização mas que, à semelhança do seu chefe, não me convenceu. Por outro lado Bale continua tão bom que esquecemos, ou perdoamos um pouco, esta lacuna, tendo a certeza que se as escolhas tivessem sido mais acertada estaríamos perante uma obra em tudo maior.

De um modo geral estamos perante um óptimo entretenimento que recomendo a todos os cowboys e cowgirls perdidos por esse mundo fora e que andavam à espera da próxima viagem. Carreguem a pistola pois ela está aí.


(+) O seu incrível ritmo e tensão constantes.
(-) Os maus da fita não convencem nem um bocadinho.

3 comentários:

Jp disse...

Isso do Russel Crowe nunca te ter convencido não pega! Eu bem em lembro que quando fomos ver o "Uma mente Brilhante" gostámos bastante do papel dele, apesar do Ron Howard!
Mas, agora que penso melhor, devíamos era vir fascinados com a Kate Beckinsale...

Que pedaço de mau caminho...

Miguel Ferreira disse...

Puto:
- tenho quase a certeza absoluta que vi uma Mente Brilhante aqui em Grândola.
- nunca disse que gostava do Russel Crowe. Acho-o bem no Gladiador, mas apenas aí. O resto é o mesmo registo vezes e vezes sem conta. E depois juntar este menino e o Ron Howard foi talvez a pior ideia de cinema que um produtor já teve.
- a Kate Beckinsale é sim senhor um pedaço de mau caminho mas não entra numa Mente Brilhante. É a igualmente bonita Jennifer Connelly.
Abraço

Jp disse...

Peço perdão pela incoerência... Mas fomos ver o Mente Brilhante, ao saudoso Girasolum...