No outro dia o meu pai usou a palavra "ternurinha" para definir o livro O velho que lia romances de amor de Luis Sepúlveda. Roubei o livro da prateleira e roubei também essa palavra que caracteriza tão bem inúmeros filmes que nos deixam mais quentes e aconchegados, mais sorridentes e apaixonados. Assim surge esta rubrica destinada a esses bons e raros momentos que vivemos em frente ao écran.
O primeiro é Contado ninguém acredita. Esta excêntrica comédia tem como premissa um funcionário das finanças que começa a ter a sua enfadonha existência narrada por uma voz. Voz essa de Emma Thompson, uma escritora desinspirada e angustiada que tem apenas uma certeza, matar o seu personagem no final da obra.
A primeira coisa que fascinou neste filme foi a interpretação sóbria e contida de Will Ferrel, emprestando à personagem um sabor frustado e angustiado, todo o seu rosto e gestos são de uma sobriedade e precisão atrozes, construindo um fantástico boneco ( gosto muito de ver excelentes comediantes noutros terrenos, a mostrarem a sua versatilidade e capacidade de inovar, um pouco como Jim Carrey em Truman Show ou Bill Murray em Flores Partidas, actores com um A bem grande). Depois todo o grafismo do filme é estranhamente sedutor, seguindo sempre a lógica de conto narrado, de livro desenhado a cada passo de Harold Crick, homem do IRS destinado a um fim trágico, para bem da obra literária mas para mal do seu coração, que palpita pela lindíssima e talentosa Maggie Gyllenhaal. Por fim temos tudo o resto, a música, a cor, os textos, as palavras, os gestos, tudo resulta num sorriso bem gordo, num pensamento renovado e num sono mais animado. É bom (ha)ver filmes assim.
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